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Diário Liberdade
Terça, 18 Outubro 2016 15:37 Última modificação em Terça, 01 Novembro 2016 09:14

Moçambique: Samora Machel, trinta anos depois Destaque

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País: Moçambique / Direitos nacionais e imperialismo, Repressom e direitos humanos, Antifascismo e anti-racismo / Fonte: Diário Liberdade

[Alcidio do Rosario Alberto Bombi*] Moçambique celebrou no dia 19 de outubro o trigésimo aniversário do desaparecimento físico do primeiro presidente da República Popular de Moçambique, Marechal Samora Moisés Machel.

[Alcidio do Rosario Alberto Bombi*] Moçambique celebrou no dia 19 de outubro o trigésimo aniversário do desaparecimento físico do primeiro presidente da República Popular de Moçambique, Marechal Samora Moisés Machel, vítima de desastre aéreo ocorrido a 19 Outubro de 1986. Este triste episódio teve lugar no auge da Guerra Fria liderada pela União Soviética e Estados Unidos da América, em representação dos blocos Comunista e Capitalista, respectivamente.

A quem interessava a morte de Samora Machel?

A morte do pai da nação moçambicana pode ser entendida em Três vertentes, a saber:

Nível sistémico

Devido a conjuntura bipolar, pouco depois da independência nacional, Moçambique declarou-se Estado Socialista. Contudo, não foi reconhecido como tal pela URSS, alegadamente Porque não estavam criadas bases para a luta de classes, em Moçambique. Esta situação fez com que a FRELIMO se declarasse partido de vanguarda marxista-leninista. Por seu turno, a URSS recusou  prestar apoio ao seu aliado (Moçambique) o que terá levado o governo de Maputo a procurar ajuda nos países capitalistas/Ocidente. Parafraseando o meu ex-professor da cadeira de Estudos de Conflitos Calton Cadeado, Moçambicaque piscava á esquerda e virava para a direita, ou seja, era anti-capitalista e procurava apoio nos países que dizia combater a sua ideologia. Esta "ousadia" de se aproximar ao Ocidente não agradou os soviéticos, por sinal fabricante da aeronave Tupolev 134 e fornecedores da tripulação da mesma. De acordo com a tese do regime do apartheid a queda do avião deveu-se a erro humano: A tripulação informou a torre de controle do aeródromo de Maputo de que a autonomia do voo do Tupolev seria de 4 horas. Na realidade, o avião só dispunha de combustível para 3 horas e 45 minutos. Todavia, a aeronave não dispunha de combustível suficiente para chegar à Beira (local de aterragem alternativa caso não fosse possível em Maputo). Segundo o relatório da comissão encarregue de investigar as causas  do acidente, o combustível necessário para um desvio de Maputo para a Beira, incluindo as reservas, seria de 4730 kg. A estimativa de combustível de que o avião dispunha quando se deu o acidente era de 2400 kg. Ou seja, faltavam no mínimo 2200 kg de combustível para o avião poder efectuar o trajecto Maputo-Beira. A pessoa que talvez pudesse esclarecer essa dúvida teria sido o mecânico de bordo e que havia sobrevivido ao acidente. Porém, a parte soviética não permitiu que ele comparecesse perante a comissão de inquérito, não obstante ter sido oficialmente solicitado a fazê-lo-fim da citação.

Nível regional

Aqui é chamada a questão da rádio-ajuda Falso (ponto defendido pelos regimes de Maputo e de Moscovo). Para estes regimes o acidente foi originado pela existência de um VOR falso, que ajudou a desviar o avião presidencial da sua rota normal. Nesta altura o governo segregacionista da RSA e o Estado moçambicano mantinham relações muito tensas. Por um lado o governo moçambicano apoiava a luta do povo sul-africano, sob a direcção do Congresso Nacional Africano. Por seu turno, a África do Sul apoiava a Renamo. Como forma de esfriar a tensão, os dois Estados firmaram ,em 1984, o Acordo de Nkomati, com o objectivo de cortar as linhas de apoio ao ANC e á Renamo, respectivamente.

Á luz deste acordo, os dirigentes do ANC que viviam em Maputo foram expulsos de Moçambique, mas o apoio ao Inkhonto we Sizwe (braço armado do ANC) manteve-se. Um dado não menos importante é que o Presidente Machel fez de Moçambique um bastião da revolução, entrando desta forma em confrontação directa com o imperialismo e o apartheid. Na altura da morte do "camarada presidente", além de apoiar o ANC, Moçambique apoiava a SWAPO, movimento nacionalista que lutava pela autodeterminação do povo namíbio, que estava sob domínio sul-africano. Por isso, convinha à África do Sul eliminar fisicamente a figura do líder carismático moçambicano, pois era um entrave ás ambições sul-africanas na região da África Austral.

Nível doméstico

Mais uma vez a mão da África do Sul ganha espaço, através do apoio directo ao banditismo armado, desencadeado pelo Movimento Nacional de Resistência (MNR). Apoiando o MNR, a África do Sul queria derrubar o governo da Frelimo através de uma guerra civil. No que tange a este ponto (guerra civil), podemos encontrar dois cenários:

1-Com a intensificação da guerra, o povo moçambicano se levantaria contra o seu próprio governo/revolta popular. Este cenário não vincou, pois o Presidente Samora era querido pelos moçambicanos;

2-Possibilidade de ocorrência de um golpe de Estado, desencadeado pelas Forças de defesa e Segurança.

Mais uma vez a pretensão sul-africana não vincou, pois a popularidade de Samora no seio das forças armadas era enorme, aliado ao facto de o chefe do Estado Maior das Forças Armadas (Figura respeitada pelos militares), Coronel General Sebastião Marcos Mabote, ter se mantido fiel ao seu Comandante-em-Chefe.

Num passado muito próximo, uma das filhas do saudoso presidente Samora Machel, disse que a morte do seu pai contou com a participação de "mão interna".

A nível interno quem estaria interessado na morte do Marechal? Tendo em conta os seus sucessivos discursos, muitos deles direccionados, podemos chegar a seguinte conclusão:

A mão interna é: Os ambiciosos, os fomentadores de corrupção e nepotismo, o servilismo, os que faziam da tarefa recebida um privilégio ou um meio de acumular bens ou distribuir favores, os que queriam ser os primeiros nos benefícios e últimos quando se tratava de sacrifícios, e por fim os responsáveis sensíveis ao beija-mão. No seio do seu próprio partido, Samora lançava discursos ácidos contra a corrupção, nepotismo, clientelismo e as repreensões públicas contra os seus camaradas granjearam uma grande admiração no seio das classes mais desfavorecidas do país.

A verdade é uma, além do seu papel fundamental na libertação de Moçambique contra o jugo colonial português, a determinação no apoio á luta pela independência do Zimbabwé, da África do Sul, de Timor-Leste e criação da Linha da Frente,  projectou o Presidente Samora como um ícone da luta contra a opressão no mundo.

Para terminar, apraz-me terminar dizendo uma palavra de ordem que Samora não esquecia: A luta continua!

*Alcídio do Rosário Alberto Bombi*(Estudante de Relações Internacionais e Diplomacia).

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