O fogo consumiu uma área de 800 metros quadrados. Ninguém ficou ferido. A favela, no bairro do Limão, ficou totalmente destruída. No total, 72 homens e 25 viaturas do Corpo de Bombeiros foram deslocados, na noite de ontem (31), para apagar as chamas.
Segundo Terezinha Dramacho de Souza, líder comunitária da União Nacional por Moradia Popular, o que causou o incêndio foi um problema na fiação. “Os fios eram muito baixos. Falei que qualquer hora ia ter um incêndio, porque era fio amarrado com o outro.”
Terezinha conta que o terreno é de propriedade particular, mas a maioria das famílias morava, em média, há 20 anos no local. “Aqui mesmo tem famílias que vieram para cá solteiros, tiveram filhos, casaram e agora tem netos. Tem uma moradora aqui há mais de 27 anos. São moradores antigos, não tem ninguém que chegou ontem. Todos os órgãos públicos têm esse conhecimento. Minha indignação é essa, precisa primeiro acontecer uma desgraça, para depois tomar providência.”
Reintegração de posse
A área tinha processo de reintegração de posse desde 2005. Há dois meses, após reclamação da associação de moradores, a Defesa Civil constatou que havia barracos rachados, além de grande risco às famílias. Os barracos de madeira foram construídos sobre a viela sanitária do córrego Tabatinguera.
Terezinha conta que, após laudos da Defesa Civil, 48 famílias seriam retiradas da área de risco. “Não eram só 48 barracos, mas toda a área. Já estavam fazendo os laudos para cadastrar as famílias, para vir o auxílio do Bolsa Aluguel”, disse ela.
Desespero
João Correa do Nascimento, de 59 anos, soldador desempregado, lembra do desespero do momento do fogo. “Meus documentos queimaram todos. Foi de repente, eu estava na minha casa dormindo porque trabalhei o dia todo, faço bicos. A hora que cheguei, caí na cama e dormi. Acordei com a gritaria do povo.”
Rosimeire Maria de Souza Ponte, cozinheira de 49 anos, morava na favela há 10 anos, desde quando chegou do Recife para tentar uma vida melhor na capital paulista. “Perdi tudo. Ainda bem que meu marido me salvou. Não estou preocupada com móveis, nada, estou preocupada com o meu cantinho. Eu pagava R$ 200 por mês. Agora estou só com a roupa do corpo. A minha felicidade é que eu salvei meus documentos."
A associação de moradores, onde parte das famílias está abrigada, recebe doações, principalmente de roupas e alimentos. A associação está localizada na Rua Quartim Barbosa, número 40 A, bairro do Limão.
Defesa Civil
Em nota, a Defesa Civil informou que 400 pessoas que ficaram desalojadas foram acolhidas na casa de parentes. Engenheiros e agentes vistores estão cadastrando os desabrigados. “A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil ofertou materiais de assistência humanitária ao município, todavia, o ente municipal, no momento, recusou o apoio”, informa o texto.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de São Paulo sobre o atendimento às famílias, mas não obteve resposta. O incêndio será alvo de perícia do Instituto de Criminalística.
Com a ocorrência de ontem, a cidade de São Paulo contabiliza 101 incêndios em favelas este ano. O número se aproxima do total registrado em 2015, quando houve 136 casos.