A Frente Povo Sem Medo, liderada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), deu hoje (28) um exemplo de como será a reação dos movimentos sociais caso a presidenta Dilma Rousseff seja afastada do cargo pelo Senado, abrindo caminho para um governo do vice-presidente, Michel Temer. Em nove estados, foram travadas 50 rodovias e avenidas ao longo do dia. “Se continua este processo, se leva a cabo essa agenda que estão dizendo por aí, nós vamos ter uma convulsão social e não apenas provocada pelos movimentos”, afirmou o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos.
Para Boulos, são falaciosas as afirmações de Temer de que fará um rigoroso corte nas contas públicas, sem aumentar impostos e ao mesmo tempo mantendo os programas sociais. “Não há como fazer um ajuste fiscal profundo e manter investimentos sociais. Essa conta não fecha. É uma conta demagógica”, afirmou. Para ele, a população logo vai perceber o que significam essas propostas. “Se se corta o repasse do FGTS para subsidiar programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, qual vai ser a opção das seis milhões de famílias que não têm casa no Brasil? Inevitavelmente, vai ser fazer ocupações e mobilizações”, disse o ativista.
Os sem-teto reafirmaram que não vão reconhecer um eventual governo Temer e rechaçaram duas informações noticiadas recentemente: de que estariam negociando com o vice-presidente e que discutiram com Dilma e aceitariam a proposta de convocar novas eleições presidenciais a partir da aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Quanto à primeira, Boulos taxou a notícia de “descalabro”. “Isso é um absurdo. Nós não buscamos interlocução alguma a esse respeito. Os jornalistas que fizeram essa matéria precisam ter mais seriedade.”
"Houve uma agenda de movimentos com a presidenta Dilma, mas não foi abordada nova eleição. O que foi cobrado é que a presidenta dê gestos e tome posicionamentos mais claros em relação ao conjunto da base social que esteve nas ruas nos últimos meses para barrar o processo golpista que existe no país", completou Boulos.
Segundo o movimento, dois manifestantes ainda estão na delegacia após terem sido detidos nos atos. Houve repressão policial na Avenida Jacú-Pêssego, na zona leste, e na Marginal Tietê, próximo à Avenida do Estado. Para Boulos, trata-se criminalização dos movimentos de esquerda, já que quando 20 manifestantes pró-impeachment travaram a Avenida Paulista, por mais de 24 horas, não houve repressão policial. “Dois pesos, duas medidas não dá. Quando é na Avenida Paulista de verde e amarelo prevalece o direito à manifestação. Mas quando é na periferia de vermelho prevalece o direito de ir e vir?”, questionou.
Os movimentos incendiaram pneus e pedaços de madeira para travar as rodovias Anchieta, Raposo Tavares, Rodoanel Mário Covas, Anhanguera e Bandeirantes, em São Paulo – além das avenidas Radial Leste, Giovanni Gronchi, Teotônio Vilela e das Marginais Tietê e Pinheiros –; BR 277, no Paraná; BR 365, em Minas Gerais; BR 153, em Goiás; entre outras.
A Frente Povo Sem Medo vai participar, em parceria com a Frente Brasil Popular, dos atos de 1º de maio em todo o Brasil. Em São Paulo, o ato vai ocorrer no Vale do Anhangabaú,centro da capital paulista, a partir das 10h. Para a próxima semana, antes da votação no Senado, os movimentos sociais e sindicatos estão organizando um dia nacional de paralisações. “E o MTST não vai parar de realizar suas ações em todo o país”, avisou Boulos.