Milionários e donos de imenso patrimônio oriundo do enriquecimento com a política, os políticos patronais são até aqui os grandes novos financiadores das eleições, em substituição a empreiteiras, bancos e frigoríficos – que, quatro anos atrás, lideravam esse ranking - e que agora estão na mira da Lava Jato.
Em tese, uma empresa não pode mais doar a um candidato (ainda que isso se dê por várias formas indiretas, como políticos que são donos de empresas); Um eleitor comum pode doar até 10% de sua renda, mas os candidatos estão submetidos a outra regra mais amigável: podem gastar até 50% de todo o patrimônio na própria campanha. Este favorecimento aos políticos empresários é a maior burla à anedota de que "empresas estão proibidas de doar", impregnando as eleições, como nunca, de um rosto deslavadamente capitalista.
o maior exemplo é o empresário João Dória do PSDB em SP. O "humilde" herdeiro das capitanias hereditárias e dos barões Costa Dória já doou R$ 2,5 milhões para a própria campanha, tornando-se o segundo maior doador nacionalmente. O valor é equivalente a pouco mais da metade do que ele arrecadou. É notável como os recursos de sua empresa lobbista, as revistas e eventos que promove aos empresários da FIESP, são as verdadeiras asas que carregam seu desaçucarado discurso gestor aos quatro cantos de SP.
Mas há muitos outros políticos-empresários marcando a eleição com o signo da "probidade". O campeão de doações para si próprio é o empresário Vittorio Medioli. Dono de empresas de transportes, usinas e dois jornais, ele é candidato a prefeito de Betim, polo industrial em MG, pelo PHS.
Medioli já investiu R$ 3 milhões na campanha – nem 1% de seu patrimônio declarado, de R$ 352 milhões. Desse total, porém, R$ 1,3 milhão foi repassado, em cheques, para diretórios de dez partidos aliados, que custearam campanhas de vereador.
Os R$ 3 milhões representam 3,7% do valor que foi repassado pelo maior doador eleitoral de 2012, a empreiteira Andrade Gutierrez – que repassou, em toda a campanha daquele ano, R$ 81,7 milhões a partidos, comitês e candidatos pelo país.
Em Barueri, o empresário e ex-prefeito Rubens Furlan (PSDB), que tenta o quinto mandato, adotou estratégia semelhante à de Medioli. Doou R$ 1,5 milhão para a própria campanha, quase 25% de seu patrimônio declarado. Com o dinheiro, ajudou a bancar materiais para 392 candidatos a vereador, de 19 partidos (ao todo, 23 siglas integram sua coligação).
O candidato Rodrigo Pacheco (PMDB) doou R$ 2,2 milhões para sua campanha à Prefeitura de Belo Horizonte. Mesma quantia "auto-doada" por Carlos Amastha (PP), empresário do ramo de shopping centers em Tocantins, envolvido nas investigações sobre cartel de combustível no estado.
Flori Luiz Binotti (PSD), candidato a prefeito de Lucas do Rio Verde (MT), recebeu de si mesmo R$1,6 milhão, e o tucano Carlos Alberto de Campos, candidato a prefeito de Guarulhos, convenceu-se a transmitir a si mesmo R$R1,1 milhão. Mesma quantia doada pelo candidato a prefeito de Caxias, no Maranhão, Leonardo Coutinho (PSB).
Empresários não-candidatos também participam da "festa da democracia milionária". Dos 20 maiores doadores da campanha deste ano até aqui, seis são empresários que doaram como pessoa física, sem serem eles mesmos candidatos. Há dois empresários do setor calçadista, um do ramo imobiliário, um empreiteiro, um dono de supermercados e uma pecuarista.
Entre os doadores que não disputam eleições, o que mais repassou recursos é Alexandre Grendene, da indústria de calçados que leva seu sobrenome, com R$ 2,4 milhões.
Deste total, R$ 1 milhão foi repassado à campanha de Ivo Gomes (PDT), irmão dos ex-governadores do Ceará Cid e Ciro Gomes, para a Prefeitura de Sobral (CE). O limite de gastos de campanha na cidade, que abriga uma fábrica da Grendene, é de R$ 1,4 milhão.
O irmão do empresário, Pedro Grendene, também doou R$ 1,3 milhão, contemplando os diretórios do PP e PT.
Os milionários empresários-candidatos (e seus amigos) estão livres para fazer suas campanhas com o dinheiro arrecadado com a exploração dos trabalhadores, ou o enriquecimento com os cargos públicos. O regime eleitoral não afeta as campanhas dos candidatos patronais. Enquanto isso, o TSE e o judiciário golpista aplicam uma dura censura à esquerda, vetando sua participação nos debates televisivos junto ao partido midiático, diminuindo o tempo de campanha para que não sejam conhecidos e impedindo que organizações operárias e anticapitalistas se legalizem como legendas políticas (contra o qual o Congresso já prepara a todo vapor a reforma política).
O resultado do golpe institucional da direita, que foi fortalecida pelo PT, desde o início foi "empresários à frente". Dória, magnata que "não precisa trabalhar para viver" como ele mesmo diz, são a cara do regime restritivo e antidemocrático. Por isso, desde as candidaturas anticapitalistas do MRT exigimos que todo político e juiz receba o mesmo salário de uma professora, que sejam eleitos e revogáveis. Essa batalha queremos dar para iniciar o combate contra o putrefato regime dos capitalistas.