Maria Xosé Bravo impulsionou a abertura do edifício para atividades culturais com a homenagem a John Berger de Isabel Coixet “From J to I” e o festival de cinema independente “Super 8”. Com a intenção de levar esta ideia aos agentes culturais e sociais da cidade convidou representantes de diversos espaços, algum deles autogeridos, a este encontro que se desenvolveu entre o CIFP Anxel Casal e o próprio cárcere. Foi mesmo na assembleia final deste evento que as pessoas que lá nos encontrámos decidimos fazer a proposta nossa e continuar a construir o que podia ser um espaço cultural social e da Memória num edifício público a partir da cidadania.
Daquela eu fazia parte da Marcha Mundial das Mulheres, e foi na caixa de entrada do email desta organização feminista em que primeiro soube da iniciativa. Também recebêramos notificação na Cooperativa de Consumo Zocamiñoca. Digo isto porque acho importante o facto de uma concelharia ter em conta os movimentos sociais, mesmo os mais pequeninos. Estamos a falar do período pré-15M e muito antes de que as novas políticas chegassem ao poder institucional.
Hoje mais de 6 anos depois, com a experiência duma paralisia institucional no meio por causa das políticas do Partido Popular e agora, 2017, com um governo da Marea Atlántica na Corunha, com algumas das concelheiras que também fizeram parte da Plataforma Proxecto Cárcere lá dentro em Maria Pita, parece que a entrada no edifício podia ser mais do que possível. Mas é?
Nesta entrevista vai-se dar espaço as diferentes vozes que resistiram durante todo este tempo e que se enfrentam agora à possibilidade de que o seu sonho se torne realidade.
Mariola: Como se iniciou esta ideia de Proxecto Cárcere?
Pepe Lado: A ideia, para mim, inicia depois de imaginar os centros que descreveram os participantes no famoso encontro de 2010 sobre novos modelos participativos de gestão cultural, que teve lugar no CIFP Anxel Casal que está próximo ao cárcere, e que finalizou com uma visita e posta em comum no próprio edifício da antiga prisão. O que vem de fora sempre me deslumbra. Olha como sou eu “pailãzinho”. Eu fazia parte da Associação de Vizinhas de Monte Alto e imaginava um bairro com um centro cultural como aquele de Viena, de Barna… Fiquei maravilhado… Suponho que pequei e peco de candidez e de que toda a gente é boa e generosa. Mas a verdade é que no início pareceu-me ver uma energia latente, especialmente, naquela jornada de manhã na prisão com intervenções que contagiavam esse espírito criativo e empreendedor… por enquanto arrefeceu mas conseguimos, incrivelmente, manter o caldo morno.
M: Propõe-se a criação dum Centro Sociocultural e da Memória autogerido em principio pela cidadania e para ela própria como principal beneficiária com a possibilidade de que o imenso espaço do cárcere (6.652 m2 com a parcela subindo a 13.286 m2) possa ser compartilhado com outras iniciativas institucionais e privadas de preferência não lucrativas e auto-geridas. Que pensa a gente da rua desta ideia? Que é o que elas gostariam que se fizesse no cárcere?
Carmen Cotelo: Conforme com as entrevistas que fizemos há dous anos, durante o quarto aniversário do Proxecto Cárcere, nas ruas do bairro de Monte Alto, a proposta conta com a simpatia positiva e o Proxecto Cárcere também. Há diversidade nas necessidades que a cidadania próxima ao cárcere acha deveriam ser abordadas, como um centro para pessoas idosas, até a Pousada de Juventude, o Centro de Interpretação da Torre de Hércules ou o centro sociocomunitário… também se consideram espaços para desenvolver diferentes eventos musicais, de exibição, cinema…
Uma das propostas do Plano de Viabilidade é um Viveiro de Artistas, podes explicar o que é isso? E por que é importante fazê-lo no cárcere?
Carmen: Seria uma canteira de artistas que desenvolveriam projetos a nível individual e coletivo a combinar diferentes técnicas artísticas para a criação comum. Também poderiam mesmo morar ali tipo estágio artístico onde compartilhar experiências e aprendizagens com outras. Seria ótimo contar de forma permanente com artistas que colaborassem entre si com criações coletivas e impregnassem um espaço tão especial como o cárcere de criatividade e liberdade expressiva.
Arte, cultura, memória, cidadania e autogestão, “O Cárcere pró Povo!” foi uma palavra de ordem utilizada em muitas assembleias durante estes anos. Por que a cidadania é tão importante para este projeto? Que reflexões há detrás desta filosofia de dar o poder de uso e organização do cárcere à gente do comum?
Tono: O labor feito estes anos pelo Proxecto Cárcere desenvolve a ideia, já amplamente manifesta, de que as pessoas que habitam as cidades têm um papel na sociedade mais ativo do que o meramanete consultivo durante as eleições. Há pessoas que não precisam serem representadas por uma minoria elitista de intelectuais que costumam ser do pior da sociedade, pessoas que pelo contrário querem levar as rédeas da sua própria vida numa sociedade alienada e sem possibilidade de participar na tomada de decisões. Em Proxecto Cárcere foram eliminando-se pelo seu próprio peso esse tipo de pessoas, amantes do poder da incomodidade das demais. Esperemos só, que no devir imediato e no longo prazo, este tipo de personalidades, desistam de se achegar ao cárcere com esse tipo de pretensões.
M: E em relação a isso procuram-se jeitos de auto-organização baseados na construção coletiva de bens comuns. Fala-se de gerir o cárcere a utilizar o princípio de “Casa Aberta com Fume” O que é isto e que pode supor para a cidadania da Corunha?
Alberto Fortes: Nestes últimos anos através de jornadas e através do programa de rádio “Ondas do cárcere” na Cuac FM, pudemos conhecer algo mais da realidade dos montes comunais da Galiza; e imaginarmos a possibilidade de que o cárcere pudesse funcionar como um bem comunal da cidadania da Corunha. Com esta ideia e com respeito à gestão do cárcere, pensamos que a tomada de decisões e organização do que acontecesse na prisão deveria ser responsabilidade e direito da gente que na realidade está a propor cousas e a fazer atividades no próprio espaço. Daí a ideia de “Casa Aberta com Fume”, que permita que a prisão esteja sempre em movimento e sempre ativa. Isto posibilitaria criar na Corunha um outro jeito de fazer, no qual seria preciso criar um espaço de aprendizagem sobre os comuns e as formas de trabalho grupal.
M: Que papel joga a Memória Histórica neste projeto?
Pepe: Um papel muito importante e que singulariza todo este projeto e que eu tenho falado muito com a Carmen García Rodeja que trabalha muito neste tema, mas olha que este e outras questões fazem-me “baixar do guindo”. Nem nesta área, que devia ser a mais definida do projeto, parece que haja muitos acordos entre a ARMH (Asociación Recuperación da Memoria Histórica) e a CRMH (Comisión Recuperación da Memoria Histórica), as principais organizações que o estão a desenvolver.
M: Na primeira jornada de trabalho para a elaboração da proposta de uso e gestão do cárcere por parte de Proxecto Cárcere ao Concelho da Corunha, que foi apresentada o passado 24 de Janeiro, pude escutar a visão da Carmen García Rodeja sobre como a Memória Histórica devia impregnar não só o espaço estático mas também o espaço de reflexão e ação dos direitos humanos a conectar o passado com o presente. Também porque naquela mesa de trabalho sobre usos e gestão presenciamos uma bela concordância entre as duas organizações que estão a trabalhar pela recuperação da Memoria Histórica e a dignificação das vítimas e das suas famílias. Preferi que fosse a Carmen que explicasse com as suas palavras.
Carmen García Rodeja: O acontecido no cárcere, a falta de liberdade ajuda a realizar um projeto de passado e de futuro: de atenção às vítimas e reabilitar a sua honra e o seu ideal; dar a conhecer o acontecido e também dar uma visão de futuro, de avanço. O cárcere é um símbolo da falta de liberdade que se pode concretizar também hoje na Espanha (e.g. Lei Mordaça) e, claro está, no mundo. O espaço carcerário é um lugar esplêndido para refletir sobre os direitos civis incorporando a cidadania nessa reflexão crítica. É possível que a gente não esteja interessada numa conferência, mas sim num debate, ou nas duas cousas. Os Direitos Humanos devem atravessar todo o entorno do edifício É muito importante que participem do processo familiares e ex-presos. O processo pode ser pouco a pouco: projetos, ideias, conferências, estudos, performances… que irão conformando o espaço.
Com respeito ao edifício seria bom que pelo menos uma parte não mudasse excessivamente, que não se perdesse a ideia duma prisão.
M: Durante os últimos anos estiveste a trabalhar no blogue “Memoria do Cárcere da Coruña” com a colaboração do Proxecto Cárcere, podes contar como é que surgiu este projeto? Com que objetivos? E se estás satisfeita com os resultados.
Carmen García Rodeja: Uma vez que vi que no Proxecto Cárcere eram admitidas sugestões e propostas decidi interpelar aos muros do cárcere para nos contar cousas, e vaia se contaram!
Descobri que há um enorme desconhecimento do que ali aconteceu e pouca ou nenhuma atenção para com as vítimas.
Não só nos limitamos a realizar o blogue que já conta com mais de 150 entradas, com entrevistas a ex-presos, semblantes, contacto com as famílias, mas também trabalhamos na apresentação de documentação, textos e diários no cárcere, produção arquitetónica, poética… tudo isto fez que apresentássemos várias conferencias e conversas de diferentes temas em relação ao cárcere.
M: Sem dúvida que a participação da CRMH desde o mesmo início assistindo às assembleias mensais, a apoiar coletivamente e fisicamente cada uma das atividades de divulgação da ideia e de denúncia do deterioro do cárcere junto com o trabalho da Carmen foi fundamental para que o Proxecto Cárcere ficasse ligado à Memória do edifício. Este não é um lugar qualquer e todas as que fazemos parte do projeto o sabemos bem.
Pensar na possibilidade de que a sociedade civil se organize por volta dum projeto e fazer algo cooperativo é inovador, e que o cárcere é um lugar de memória foi o que me motivou para colaborar com o Proxecto Cárcere. É um projeto apaixonante, só o processo já o é.
M: E passaram 6 longos anos desde que se conseguira abrir o cárcere nas Jornadas de Portas Abertas organizadas pelo Proxecto Cárcere no verão de 2011, onde participaram por volta de 20 artistas na exposição “Liberdade” e se apresentaram mais de 70 atividades para desenvolver em apenas 4 dias, até o feche total na tentativa de Jornada de limpeza em 2012 com o espetacular “display” de 6 carros da polícia nacional, algum da secreta, a proteger o edifício do Ministério do Interior de uma dúzia de pessoas armadas com vassoiras e luvas. Como mudaram as coisas com a chegada ao poder municipal do Partido Popular? E já mais próximo no tempo, que mudou com o novo governo da Marea Atlántica?
Laura: Pela via que elegeu a associação, a do diálogo com a instituição como meio de conseguir a abertura do espaço, o caminho do projeto teve que ir, ao nosso pesar, muito à par dos ciclos políticos. Então a mudança que mais notamos foi a que houve no governo municipal. A nossa vontade de diálogo e de trabalho não se viu sempre correspondida, por não dizer que se nos ignorou de forma quase total, e cara o final do anterior mandato acumulávamos muita frustração e muito pouca esperança. Esses quatro anos em que se nos negou qualquer possibilidade de acesso ou uso do cárcere, fizeram também que descesse o número de gente a participar mais ativamente em Proxecto Cárcere, o que é compreensível. De todos os jeitos acho que também não com o novo ciclo político em Maria Pita é que tenhamos certeza de que a cessão do cárcere à gestão cidadã seja um facto irrefutável. Éramos conscientes de que tínhamos de continuar a trabalhar e assim fizemos. Foi bom sermos recebidos, escutados, que se nos informasse sobre a situação do cárcere, e que existisse a vontade de conseguir a cessão por parte do SIEP. Mas também sentimos falha de um maior interesse pelo assunto por parte do governo municipal, especialmente no início, e especialmente por parte de alguma das concelharias. Pensávamos que Cultura se implicaria mais, por exemplo. Ainda que por outro lado isso também nos deu mais força a nós e deixou-nos claro que tínhamos de continuar para a frente e a pressionar para que o cárcere não fosse esquecido. No que se refere ao grupo, estes dous últimos anos fizeram com que se seguissem conhecendo e polir o trabalhar em comum. Alguma gente teve de deixar o projeto, mas aproximou-se gente nova e outras pessoas que estiveram no início, regressaram, o que é bom sinal.
M: 6.652 m2, 6 anos em desuso com importante deterioração nas cobertas em particular e em todo o edifício em geral. Pode-se realmente reabilitar este espaço? Quanto pode custar? Vai pôr o dinheiro, quem? O concelho? O SIEP?
Alberto: O procedimento de reabilitação será longo, num primeiro momento será preciso fazer reparações gerais de todo o edifício, especialmente em termos de cobertas. Isto vai permitir que o edifício não continue a se deteriorar. E por outro lado fornecer de instalações e segurança necessária a algum espaço concreto para começar desde já a utilizá-lo. Estas primeiras fases vão ser financiadas através do convénio do Concelho com o SIEP, em que se comprometeram cada um deles com 150.000€ para a reabilitação do edifício. Mas esta primeira fase para dar uso a alguma das partes do cárcere não vai ser a reabilitação completa e necessária para conseguir segurança no total do edifício, e com certeza o processo de reabilitação estender-se-á em sucessivas fases de adaptação do resto dos espaços. Esta reabilitação é possível mas desde o Proxecto Cárcere consideramos que não deveria ser um projeto fechado e invisível à cidadania, senão que a gente da cidade deveria participar em todo o processo.
M: Neste sentido de participação da cidadania na reabilitação do edifício Proxecto Cárcere coloca a questão que pelo menos uma parte dos trabalhos de reabilitação e mantimento sejam através da autoconstrução. Podemos realmente considerar esta opção? Como se faria?
Eva Nuñes Piñeiro: Podemos sim. Com certeza é possível uma autoconstrução. De facto é inevitável fazê-la. Do jeito que entendemos a participação, sem dúvida, uma peça fundamental para “fazer nosso o espaço” é meter a mão nele. Obviamente falamos de trabalhos menores tipo revestimento, pintura, carpintaria, etc. Contamos com que a instituição proprietária, o SIEP e no seu caso o Concelho da Corunha, assumam o custo de parte das instalações e da própria envolvente do edifício (cobertas e fachadas). Não apenas pela complexidade e carga orçamental das mesmas, mas também na procura de um espaço que cumpra completamente com as normas legais de uso e segurança da Administração. Mas o resto o podemos e o queremos fazer nós.
M: E agora com o convénio de uso sociocomunitário entre o SIEP e o Concelho da Corunha assinado como se apresenta o vosso papel no processo e como está a ser esta nova etapa?
Alberto: O objetivo da Plataforma Proxecto Cárcere quando nasceu era conseguir abrir o cárcere para a cidadania, e isso foi o que estivemos a fazer nestes últimos anos. Ante esta nova oportunidade de abrir o espaço do cárcere, as pessoas que levamos mais tempo queremos transmitir a uma Assembleia maior do que o próprio Proxeto Cárcere todo o trabalho desenvolvido nestes últimos anos para poder começar a partir dos pontos já trabalhados. Algum destes pontos poderia ser o Plano de Viabilidade que recolhia os possíveis usos e como funcionaria a gestão do edifício.
Laura: Esta etapa dá algo de vertigem mas é muito bem-vinda. Sabíamos e confiávamos em que quando o cárcere fosse uma possibilidade real, mais pessoas se achegariam a participar do projeto, e está a ser mesmo assim. O mais curioso é que na sua maioria as pessoas que se estão a achegar não são precisamente essas que formavam parte da iniciativa nos seus inícios, mas gente que se aproxima por primeira vez ao projeto. Em qualquer caso, tanto as que regressam como as que se aproximam pela primeira vez, fazem deste um momento muito esperançoso. Como já se falou, o grupo que permanecia ativo nos últimos anos era pouco numeroso e havia uma relação muito próxima, e nesse sentido está claro que acolher gente nova sempre é difícil. Também é difícil, no contexto em que nos encontramos, explicar o que é o projeto e a nossa proposta hoje em dia. Em essência essa proposta poderia se resumir em trabalhar em comum para o comum, que não deixa de ser o que vimos a fazer. De momento está a ser bem recebida, e poder fazer realidade essa ideia no cárcere é mais do que motivador.
M: Como se vive este momento de passar da teoria à pratica? Que emociona? Que dá medo?
Eva: Pois este momento eu o vivo com muitíssima alegria e emoção. Emociona-me ver um grupo de pessoas tão díspares, superar o desgaste do tempo, e sobretudo a confiança tecida entre nós. Emocionam-me as pessoas.
Medos? Pois em princípio nenhum. Não só porque existem já muitos exemplos e sucessos na gestão cidadã noutros lugares, mas porque depois de tudo o que o grupo de Proxeto Cárcere tem passado a nível emocional, duvido muito que nada nos possa paralisar…. de facto reconheço são pessoa animosa e pouco medrosa.
Laura: Se algo nos ensinou toda a trajetória do Proxeto Cárcere foi que o que acontecer vai depender fundamentalmente de nós. Além do que se dialogue e se trabalhe com as instituições por um objetivo concreto é absolutamente necessário fazer um trabalho à margem, que sempre esteja aí para servir como base e guia principal. Pela lógica e dinâmicas que funcionam dentro e sobre a instituição podemos ter a esperança de que tenham espírito e boa vontade, mas não esperar cegamente que seja deste jeito como norma geral. O que lhe interessa a Proxeto Cárcere é criar uma comunidade por volta do cárcere que queira fazer as cousas de forma diferente, que se responsabilize do espaço e que o desfrute com essa responsabilidade em mente.
Carmen Cotelo: Acredito “firmemente” que o projeto é necessário para a cidade, porque é interessante em si próprio e porque o cárcere é um lugar especial ligado com a memória da gente e da cidade. As previsões, o conhecimento adquirido durante estes anos demonstram que é possível um projeto assim, que é necessário e aglutinante. Também, a nível pessoal porque deixe horas e trabalho individual e coletivo no caminho. Além disso vejo que num projeto destas características eu poderia encontrar o meu próprio espaço.
Durante estes anos aprendi muita cousa sobre gestão, rádio, dinâmicas grupais do próprio coletivo e doutras partes do mundo. Também aprendi sobre a cidade, a sua memória, sobre os coletivos que trabalham nela. Eu cresci como pessoa e cidadã e ser parte deste projeto permitiu-me falar desde uma posição de igualdade e conhecimento com outra gente e outros coletivos.
M: Como imaginam o cárcere daqui a 6 meses?
Eva: Pois imagino um espaço cheio de vida, de criação, de atividade, de sinergias, pessoas idosas e crianças, e de muito feminismo. Isso imagino.
Alberto: A imagem que tenho na minha cabeça é do cárcere com as portas abertas e cheio de gente que entra para conhecer uma realidade que durante muito tempo se lhe quis ocultar. Provavelmente no início a abertura será a de um espaço pequeno, talvez o espaço do corpo de entrada do complexo carcerário. Pouco a pouco a ideia é poder utilizar outros espaços dos pátios interiores e algum armazém da parte posterior. A principal prioridade vai ser dar-lhe uso e atividade constante desde esse primeiro momento. A própria adequação do espaço através de oficinas de autoconstrução cidadãs facilitarão que as pessoas podam pensar e construir sobre o próprio edifício e sobre o projeto humano que querem. Esta primeira atividade de obras e acondicionamento será a que permita à cidadania fazer seu o cárcere.
M: Por que tudo isto no cárcere e não em outro edifício qualquer? Que tem o cárcere de especial?
Tono: O cárcere da Torre sempre se viu de um jeito distante no bairro. Tínhamos que o contornar a tantos metros para nem sequer ouvir o “runrum” dos pátios interiores e era mesmo um lugar proibido quase até de olhar para ele. Por isso e pela simbologia repressiva que carregava. No momento em que se abriu, a única ideia que havia, pelo menos, no que se refere a mim, era para o tornar no contrário do que foi: um lugar de liberdade e respeito. O espaço é impactante e tem uma força expressiva que provoca que as pessoas que a visitam não fiquem indiferentes. Isto e a sua localização agreste e com o mar no “fundo” faz dele um lugar muito potente para fundamentar um novo jeito de se socializar.
Tono: Muito obrigadxs pelo interesse mostrado com o Projeto Cárcere. Como disse Oscar Wilde: “Todxs nós vivemos nos “sumidoiros” mas algumas de nós ficamos a olhar para as estrelas”