A data marca os 68 anos da fundação da República Popular da China. A escultura é um bom exemplo sobre a força da comunicação silenciosa dos símbolos chineses.
Apesar de aparentar apenas mais uma escultura ornamental, o canteiro de flores é uma representação bastante fiel do caminho percorrido pela China na atualidade e do seu planejamento político para o futuro.
A escultura floral possui três elementos centrais:um trem-bala de última geração, batizado de “Fuxing” (revitalização, em português); uma coluna ornamental, “huabiao”; e as datas dos Dois Centenários.
O Fuxing foi totalmente projetado e desenvolvido pela China e é o trem de passageiros de alta velocidade mais rápido do mundo, operando a uma velocidade de 350km/h na linha Pequim-Xangai. Ele entrou em funcionamento em junho e será amplamente utilizado durante os Jogos Olímpicos de Inverno 2022. Esse trem-bala é considerado por alguns analistas chineses como um símbolo do progresso tecnológico do país.
A coluna ornamental e cerimonial “huabiao”, normalmente feita de mármore e instalada em frente dos antigos palácios chineses, é um emblema da longevidade da cultural tradicional chinesa. Também é um antigo símbolo das responsabilidades do governo para com o povo. Importa ressaltar que a coluna “huabiao” está presente na entrada da Cidade Proibida, antiga sede do governo imperial chinês em Pequim.
As duas datas centenárias (1921-2021 e 1949-2049) são a marca central da governança da China sob a liderança do presidente Xi Jinping e referem-se aos dois principais objetivos do país na atualidade. O primeiro remete a conclusão da construção de uma sociedade moderadamente próspera até 2021, quando se completa o centenário da fundação do Partido Comunista da China. O segundo tem como propósito transformar a China num país socialista moderno, próspero, democrático, civilizado e harmonioso até 2049, ano do centenário da fundação da República Popular.
A escultura de flores engloba assim os elementos centrais da política chinesa atual: o fortalecimento da sua cultura tradicional, representada pela coluna huabiao; o desenvolvimento tecnológico impulsionado pela inovação, tipificado pelo trem-bala Fuxing; o caminho do desenvolvimento pacífico, destacado pelas pombas brancas da paz; e as metas dos dois centenários, que resumem a busca pela realização do sonho chinês de revitalização nacional.
Essa nova Longa Marcha em busca da realização do Sonho Chinês ganhará novo impulso no 19o Congresso do Partido Comunista da China, que será aberto no dia 18 de outubro. Tradicionalmente, os congressos do Partido fazem um balanço dos últimos cinco anos e definem as diretrizes políticas para os cincos anos seguintes, os famosos planos quinquenais.
A particularidade desse próximo Congresso é que o mesmo deverá deliberar proposições políticas que influenciarão muito além dos próximos cinco anos. Ele deve confirmar o presidente Xi Jinping como núcleo do pensamento estratégico chinês atual. Suas formulações teóricas conduzirão a China ao grande objetivo de 2049, o “Sonho Chinês”.
Do ponto de vista interno, essas formulações dão ênfase à quatro grandes proposições: construir uma sociedade moderadamente próspera; aprofundar o processo de reforma, promover a governança do país conforme as leis, e blindar o Partido com uma disciplina rigorosa para que ele reúna as condições necessárias para conduzir e liderar o processo. Externamente, o país asiático deverá se dedicar a construção do Cinturão Econômico da Rota da Seda e participar de forma cada vez mais ativa na governança global.
Se olharmos pela simbologia da escultura colocada em Fuxingmen, o 19º Congresso alinhará os trilhos do desenvolvimento pacífico impulsionado pela inovação e, com sua Rota da Seda, criará uma nova dinâmica de desenvolvimento em muitos países do seu entorno terrestre e marítimo. Isso mudará profundamente parte significativa do mundo. A China sempre sonha de forma concreta. Basta ler os seus símbolos.
*Rafael Gonçalves de Lima é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Jilin, na China.
**José Medeiros da Silva é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.