O presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), Claudio Tapia, confirmou nesta quarta-feira (06/06) o cancelamento do amistoso entre as seleções da Argentina e de Israel, que seria no próximo sábado (16/06) em Jerusalém. O jogo gerou polêmica internacional, envolvendo inclusive o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Argentina, Mauricio Macri.
“Não é nada contra a comunidade israelense ou judia, mas eu gostaria que vissem essa decisão como uma contribuição à paz mundial”, disse, em entrevista coletiva, Tapia. “O futebol é um esporte universal, que ultrapassa fronteiras e nada tem a ver com a violência.”
O jogo – o último amistoso da Argentina antes da Copa do Mundo na Rússia – ganhou uma dimensão política, depois que os Estados Unidos anunciaram, em dezembro, a transferência de sua embaixada em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém. A cidade é considerada sagrada por cristãos, muçulmanos e judeus e está no centro de 70 anos de disputa territorial entre israelenses e palestinos.
Ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abandonou décadas de suposta neutralidade norte-americana nas negociações internacionais que buscam estabelecer uma solução pacífica, criando dois estados: Israel e Palestina. Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental, que foi ocupada por Israel na guerra de 1967, como capital.
A decisão americana – condenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) – desencadeou nova onda de violência na região. A embaixada foi transferida no dia 14 de maio, justamente na semana em que Israel comemorava o 70º aniversário de sua criação – uma data que, para os milhares de palestinos, que abandonaram ou foram expulsos de suas terras, é conhecida como Dia da Catástrofe.
O amistoso passou a ser visto pelos palestinos como uma provocação, depois que Israel mudou o local do jogo, que inicialmente seria disputado em Haifa, para Jerusalém.
“Se o jogo entre Argentina e Israel fosse jogado em Haifa, não teríamos feito qualquer oposição”, disse o presidente da Associação Palestina de Futebol, Jibril Rajoub. Em carta,enviada a Tapia, Rayub disse que “o governo israelense converteu o futebol em arma política”, ao querer disputar o jogo em Jerusalém, no aniversário dos 70 anos da criação de Israel.
Setenta crianças palestinas, filhas de refugiados, escreveram uma carta ao craque argentino Lionel Messi, pedindo que não jogue em um estádio “construído sobre sua aldeia destruída”. Na Espanha, onde a seleção treinava, um grupo de militantes da causa palestina levou camisetas da seleção manchadas com sangue.
A imprensa argentina informou que o primeiro-ministro israelense chegou a telefonar para o presidente Mauricio Macri, que, antes de entrar para a política foi presidente do clube Boca Juniors. No entanto, muitos jogadores já tinham comunicado à AFA que não queriam mais viajar. Rumores e reações ao cancelamento do amistoso circularam nos últimos dias na imprensa argentina e israelense, mas só cancelamento da partida contra Israel só foi confirmado oficialmente hoje pela AFA.
“As ações, as ameaças que ocorreram, nos levaram a tomar a decisão de não viajar”, disse Tapia. “Minha responsabilidade como presidente da AFA é proteger a saúde e integridade física e segurança de toda a delegação”, disse Tapia, ao pedir desculpas ao público que já tinha comprado entradas para o jogo.
A decisão da AFA foi comemorada pelos palestinos. A ministra da Cultura e do Esporte de Israel, Miri Regev, no entanto, criticou as ameaças que, em sua opinião, levaram ao cancelamento do amistoso.