Mesmo que continue a haver uma colossal desproporção de forças e tenha que defrontar um Estado genocida. E manifestam-se clivagens no interior da extrema-direita no poder em Israel.
Foi concluído na semana passada um cessar-fogo entre as facções palestinas em Gaza e Israel:
O objectivo desta alteração, no quadro de um plano negociado pelo Egipto e financiado pelo Qatar, é fornecer a Gaza a ajuda de que tanto necessita de restabelecer a calma do lado israelita da fronteira e de evitar uma nova guerra.
No domingo à noite, as forças especiais israelitas quebraram o cessar-fogo e entraram disfarçadas na faixa de Gaza. Tais incursões verificam-se muito frequentemente, mas em geral não são referidas nos media. Os invasores estavam vestidos à civil e alguns estavam disfarçados de mulher. Chegaram em viaturas a um comando local de Qassam, mas guardas em alerta fizeram-nos deter-se. Seguiu-se uma troca de tiros no decurso da qual 7 Palestinos e 1 oficial israelita foram mortos. Ficou no local uma viatura contendo o que pareceu tratar-se de material de vigilância. Os intrusos fugiram para Israel.
É provável que na origem desta provocação esteja as rivalidades no seio do governo israelita:
A percepção de que Israel, ao autorizar fornecimentos de combustível e de liquidez em dinheiro a Gaza, estava a pagar ao Hamas para que este se mantivesse sossegado desencadeou acrimoniosas querelas entre dois membros rivais de direita do gabinete de segurança israelita.
No domingo o ministro da Educação, Naftali Bennett, qualificou a injecção de dinheiro como sendo “para a protecção.” O ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, acusou Bennett de ter apoiado os pagamentos e de nas últimas semanas se ter oposto a represálias militares mais agressivas contra o Hamas, que Lieberman desejava.
No final da noite Netanyahu tinha abreviado a sua viagem [a Paris] e tinha voado para Isael a fim de dar resposta às hostilidades de Gaza.
Terá Lieberman ordenado a incursão para sabotar o cessar-fogo de Netanyahu e do seu rival Bennett?
A violação por Israel do cessar-fogo desencadeou uma nova série de ataques de represália. Uma unidade de comandos da Brigada Qassam do Hamas lançou um rocket contra um autocarro que transportara soldados israelitas à fronteira. Para evitar uma nova escalada, o atirador esperou que os soldados saíssem do autocarro antes de lançar o engenho. Apenas o condutor ficou ferido. A força aérea israelita destruiu depois a cadeia de televisão Al-Aqsa na cidade de Gaza, tendo informado os Palestinianos das suas intenções. Provocou também danos num edifício universitário. Seguiram-se rajadas de rockets com origem em Gaza e a força aérea israelita bombardeou diversos edifícios. Ao fim de 48 horas, o cessar-fogo foi reatado.
No decurso do confronto, o campo palestiniano demonstrou uma série de novas capacidades:
- O comando palestiniano publicou um vídeo do ataque contra o autocarro cm m míssil anticarro Kornet (ATGM). Depois de ter perdido dezenas de carros de assalto contra o Hezbollah no Líbano na guerra de 2006, o exército israelita tem muito receio destes mísseis. A chegada destas armas à banda de Gaza causa-lhes muita preocupação.
- Os palestinianos lançaram igualmente mais de 460 mísseis e morteiros em 25 horas. Isto ultrapassa largamente o nível do seu fogo durante a guerra que Israel conduziu contra a faixa da Gaza em 2014. Alguns destes mísseis tinham um alcance superior ao dos modelos anteriores. Os sistemas israelitas de defesa antimíssil Iron Dome lançaram uma centena de mísseis, mas a sua precisão é má e o seu custo é elevado. Cada míssil Iron Dome custa cerca de 65.000 dólares, enquanto uma granada de morteiro ou um rocket custam algumas centenas. Numerosos rockets palestinianos atingiram os seus alvos nos colonatos sionistas de Ashkelon, Netivot e Sderot.
- Israel apenas anunciou ter atingido com sucesso duas células de lançamento de mísseis. Aparentemente os palestinianos aperfeiçoaram as suas capacidades de camuflagem e de tiro à distância.
- Os grupos palestinianos rivais em Gaza – Hamas, Jihad islâmica e outros – operaram sob um comando central. Nenhum grupo reivindicou individualmente os ataques com mísseis. No passado, cada rajada de mísseis era seguida de um comunicado de imprensa em que tal ou tal grupo reivindicava ser o responsável. Desta vez, todos os grupos actuaram a partir de uma sala de operações comum. Nenhum deles publicou qualquer comunicado reivindicando a acção, nem qualquer informação susceptível de auxiliar os serviços de informação israelitas.
Israel foi praticamente obrigado a suplicar que o cessar-fogo fosse reestabelecido. O Egipto conduziu as negociações.
Na última terça-feira, a reunião do Gabinete político-securitário realizada no seguimento da escalada no Sul durou sete horas. Depois de ter ouvido as avaliações feitas pelo exército e pelos serviços de segurança, o Gabinete encarregou as forças armadas israelitas (FDI) de, se necessário, prosseguir as suas operações.
Todos os responsáveis do aparelho de defesa que participaram na reunião do gabinete – o chefe de Estado-Maior das FDI, o chefe das informações militares, o chefe do Shin Bet, o chefe do Mossad e o chefe do NSC – apoiaram o pedido de cessar-fogo do Egipto.
“Se tivéssemos intensificado os ataques teriam sido lançados rockets contra Telavive”, declararam os altos responsáveis do governo.
Desde as 15h30 locais de hoje a situação é de novo calma e tranquila. Mas foram de imediato reatadas as tricas no seio do gabinete israelita:
Nenhum ministro, nem o ministro da Defesa Avigdor Lieberman, nem o ministro Naftali Bennett se opuseram ao cessar-fogo.
No seguimento deste última informação, o ministério da Defesa declarou que o apoio do ministro ad Defesa Avigdor Lieberman a um acordo de cessar-fogo era uma “falsa notícia” (fake new). A declaração dizia que a posição do ministro da Defesa era coerente e não tinha mudado. Os ministros Naftali Bennett, Ayelet Shaked e Ze’ev Elkin declararam igualmente que não eram favoráveis a um acordo de cessar-fogo com o Hamas.
No total, 13 pessoas foram mortas e Gaza e pelo menos 2 do lado israelita. Um porta-voz do Hamas acusou Lieberman de ser o responsável pela violação do cessar-fogo e exigiu que Netanyahu o demita.
O curto conflito demonstrou que:
- Israel teme desencadear uma nova guerra em Gaza
- O bloqueio de Gaza por parte de Israel, Egipto e da Autoridade palestiniana de Mahmoud Abbas fracassou. O custo do cerco para a imagem de Isael tornou-se demasiado alto depois de Israel ter morto cerca de 160 palestinianos no decurso das manifestações semanais ao longo da linha de demarcação. Foi obrigado a deixar entrar o combustível diesel e o dinheiro do Qatar em Gaza.
- O bloqueio não impediu a Jihad islâmica, o Hamas e outros grupos de adquirir um maior número de mísseis e novas capacidades de armamento.
- Os palestinianos de Gaza estão unidos. A resistência contra a ocupação está bem viva.
Ao longo de décadas, a entidade sionista pôde atacar os seus vizinhos à vontade. A situação mudou. Não ousa entrar no Líbano por receio das represálias do Hezbollah. O espaço aéreo ocidental da Síria está agora fechado a Israel graças à nova defesa aérea S-300PMU2 fornecida pela Rússia às forças armadas sírias. As forças especiais israelitas falharam a sua incursão em Gaza e a defesa antimíssil da “Cúpula de Ferro” mostrou-se incapaz de proteger os colonatos sionistas. A resistência de Gaza tem novos meios e novas surpresas esperam Israel em caso de novo ataque.
Os novos “amigos de Israel, com a Arábia Saudita e os Emiratos árabes à cabeça, revelaram-se instáveis e de pouco valor. O movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções contra o autoproclamado Estado de apartheid alterou a sua imagem. As actividades do seu lobby acabam de ser expostas à luz do dia, O seu défice orçamental é demasiado grande.
O curto conflito em Gaza não fez mais do que revelar a fraqueza de Israel e facto de se encontrar em continuada perda de poder.
Actualização em 14 Novembro, 10:00 UTC
O ministro israelita da Defesa Avigor Lieberman acaba de se demitir e fez um apelo a novas eleições. Disse que o dinheiro do Qatar que Netanyahu autorizou a entrara em Gaza e o cessar-fogo de ontem são as razões da sua discordância com Netanyahu.
Netanyahu tinha planeado o cessar-fogo com Gaza para dividir a Gaza dirigida pelo Hamas e a Autoridade palestiniana da Cisjordânia de Abbas. Ontem, os sauditas deram dinheiro a Abbas para contrabalançar o dinheiro que o Qatar dera ao Hamas em Gaza.
Esta divisão dos palestinianos é parte integrante do plano Kushner.
Lieberman não está de acordo. É o superfalcão de John Bolton neste jogo, à extrema-direita de Netanyahu.
Netanyahu quer evitar eleições antecipadas. O seu partido, o Likud, acaba de perder lugares nas eleições locais, teme que a campanha se centre em Gaza e na sua nova posição conciliadora no conflito.
Mas com uma maioria de apenas dois lugares numa coligação instável, Netanyahu terá dificuldade em aguentar-se.
No momento mesmo em que esta actualização está a ser redigida, Naftali Bennett, o chefe do partido religioso Lar Judeu, exigiu ser nomeado ministro da Defesa. Isto não agradará de modo nenhum a Netanyahu. Não quer atribuir a Bennett um cargo tão prestigioso. Mas se não obtiver o que quer Bennett demitir-se-á e fará explodir a coligação.
Fonte: https://www.moonofalabama.org/2018/11/short-conflict-with-gaza-exposes