Os “republicanos” alternam com os “democratas” e vice-versa, sem que surja qualquer diferença no que é essencial para o capital monopolista. Agora é o imoral e criminoso muro na fronteira com o México, que avança depois de um indecoroso regateio do preço. Ambos estão de acordo quanto à sua construção.
Congressistas do Partido Democrata (PD) e do Partido Republicano (PR) chegaram, terça-feira, a um acordo para evitar uma nova paralisação do governo federal em troca de 1,3 mil milhões para construir o muro de Donald Trump. Embora aquém dos 5,7 mil milhões de dólares reclamados pelo presidente, a discussão entre democratas e republicanos deixa de ser sobre a construção do muro para se tornar em mero regateio do preço.
Sem surpresas, na quarta-feira de madrugada, ainda antes de anunciar se faria uso do poder de veto para travar o acordo, Trump recorreu ao Twitter para frisar que não está «muito impressionado» nem «contente com o acordo) mas não se coibiu de saudar os 23 mil milhões de dólares oferecidos pelo PD para a militarização da fronteira com o México incluídos no pacote. Em troca, os democratas levam apenas a redução, de 49 mil para 40 mil, do número de camas nas prisões do ICE, a infame polícia caçadora de imigrantes ilegais.
Concórdia com o crime
Mais célere, o acordo bipartidário não tardou a receber o beneplácito de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes e principal líder dos democratas no Congresso. Na segunda-feira, Pelosi elogiou «o espírito de compromisso e concórdia» com Trump e explicou que os democratas acompanham os republicanos na vontade de ter «uma barreira forte e segura» na fronteira. Já os «socialistas democráticos» Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, integrados nas fileiras do Partido Democrata, preferiram não se pronunciar sobre o acordo firmado em seu nome.
Simultaneamente, o presidente desvalorizou a falta de fundos para a construção do muro, alvitrando poder recorrer a «muitas outras fontes» para conseguir o financiamento que falta. Uma das possibilidades em cima da mesa do presidente é a declaração do estado de emergência, o que lhe permitiria suspender o funcionamento das instituições democráticas burguesas e, através de uma ordem presidencial, autorizar a construção do muro. Os democratas, «socialistas» ou não, queixar-se-ão então, não de que Trump fez um muro imoral e criminoso, mas sim de que não o fez como devia, ou por um preço demasiado alto.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2359, 14.02.2019