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Diário Liberdade
Quarta, 09 Outubro 2019 01:26 Última modificação em Quarta, 09 Outubro 2019 01:33

Trump: O Impeachment Faz de Conta e a Briga de Foice no Coração do Império

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Mário Maestri

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Em 24 de setembro, a presidente democrata da câmara dos deputados USA abriu processo de impeachment contra Donald Trump.

Desde a posse de Trump, em 2017, o fantasma do impeachment tem sido poderosa arma da oposição democrata, em articulação com as poderosas posições que se mantiveram no coração da grande nação imperialista. O Deep State, “Estado das Sombras” ou “Profundo, constituído sobretudo pelos órgãos ditos de segurança, hipertrofiados nos USA, seguiu expressando os capitais estadunidenses hegemônicos, belicistas e globalistas, afastados das rédeas do governo pelo Ogro do topete dourado. Os democratas seguiram e seguem infernizando Trump, com todas as armas que possuem.


Apesar da proposta gravidade dos fatos denunciados, é iniciativa de faz de conta, que jamais chegará a bom porto. A constituição yankee determina que seja a Câmara dos Deputados a abrir o processo de acusação constitucional, por maioria simples. O que está garantido. Os democratas são 235 em 435 deputados. Porém, é o Senado, que julga e interdita o presidente, por dois terços. Dos cem senadores, 52 são republicanos. Portanto, meses antes das eleições, nem com fogos de artifícios e banda de música!

Desde a posse de Trump, em 2017, o fantasma do impeachment tem sido poderosa arma da oposição democrata, em articulação com as poderosas posições que se mantiveram no coração da grande nação imperialista. O Deep State, “Estado das Sombras” ou “Profundo, constituído sobretudo pelos órgãos ditos de segurança, hipertrofiados nos USA, seguiu expressando os capitais estadunidenses hegemônicos, belicistas e globalistas, afastados das rédeas do governo pelo Ogro do topete dourado. Os democratas seguiram e seguem infernizando Trump, com todas as armas que possuem.

O grande cavalo de batalha da oposição democrata tem sido a jamais comprovada intervenção da Rússia de Putin nas eleições estadunidenses de 2016, sobretudo através do fornecimento de informações, via WikiLeaks, para o candidato republicano - os e-mails privados de Hillary; a sabotagem da campanha de Bernie Sanders pelo partido democrata, etc. As investigações sobre a intervenção arrastaram-se procurando sangrar Trump e sua imobilizar e determinar sua administração. John Brennan, o ex-diretor da CIA em 2013-17, durante a administração democrata e começos da republicana, acusou Trump de bordejar a traição, quando da coletiva de imprensa concedida em Helsinque, após reunião privada com Putin, em 16 de julho de 2018.

 Globalistas monopolares versus Globalistas Multipolares

A briga de foice entre democratas e Trump expressa o choque de duas poderosas facções do capital -não apenas estadunidense- que podemos definir, sumariamente, como, por um lado, a hegemônica, favorável à globalização unipolar estadunidense, sustada na força militar, representada hoje pelos democratas, e, por outro, a protecionistas, favorável a uma globalização multipolar, apoiada porém em uma forte economia industrial estadunidense reconstruída. Esta última retomou parcialmente as rédeas dos Estados Unidos com a vitória de Trump, outside republicano.

A opção pela globalização sem reservas resultou em enormes lucros para o capital estadunidense hegemônico, mas ensejou a desindustrialização e envelhecimento da economia do país; endividou enormemente o Estado; alimentou sem travas a locomotiva chinesa, hoje mordendo os calcanhares do Tio Sam. Fortemente ancorada na industria armamentista e no capital financeiro, ela manteve a hegemonia alicerçada no domínio militar-diplomático mundial, que assegurou a ditadura do dólar como moeda mundial. Essa estratégia reinou soberana, e em forma quase total durante pouco mais de uma década de monopolarismo estadunidense, após a dissolução da URSS, em 1990.

Entretanto, com o exórdio econômico-militar chinês, em aliança com a Rússia reconstruída de Vladimir Putin, questionando o domínio econômico e militar estadunidense, assim como o próprio dólar como moeda internacional de trocas e de lastre, a manutenção do monopolarismo estadunidense exigia guerra econômica e sobretudo confrontos militares parciais, que minassem a economia e o consenso social na Rússia e, sobretudo na China, tida como o adversário dos USA do século 21. Para tal, era necessário destruir os aliados dos inimigos -Síria, Líbia, Irã- e estabelecer controle férreo sobre os aliados estadunidenses. Com Obama, retornou a era dos golpes duros e macios na América Latina - Paraguai, Honduras, Equador, Brasil, etc.

Hillary Clinton, a “dama das mãos banhadas de sangue”, no Departamento de Estado, de 2009-2013, foi responsável pela destruição da Líbia e, sobretudo, pela organização da hecatombe que se abateu sobre a Síria, a partir de 2011. Aliada perfeita do sionismo israelense, prometeu que, se eleita, estabeleceria, pela força das armas estadunidenses, “zona de exclusão aérea” e “livres de conflito” na Síria, o que levaria inexoravelmente a confronto direto com a Rússia. Trump, quando candidato, propôs sobre o plano pirômano: "Se escutarmos Hillary, vamos acabar numa Terceira Guerra Mundial.”
Reindustrializar os Estados Unidos

Donald Trump expressava sobretudo o capital industrial e comercial voltado para mega-mercado interno estadunidense, em torno de 24% do PIB mundial. Foi o mercado interno que garantiu a expansão inicial estadunidense, em fins do século 19 e primeira metade do século 20, levando o país à situação de primeira nação industrial do mundo. Trump propunha trazer de volta as indústrias que haviam partido para o estrangeiro, em geral, e para a China, em particular. Comprometia-se em investir em escolas, em estradas, em portos, em aeroportos, em moradias. A indústria da construção é poderosa máquina produtora de empregos.

Para viabilizar seu programa, diminuiria os gastos militares no exterior, fechando as bases esparramadas pelo mundo, trazendo para casa milhares de soldados que alavancam com o que gastam as economias dos países onde estão estacionados. Poria fim às intervenções militares em curso, com destaque para o Afeganistão, verdadeira guerra sem fim, e não iniciaria nenhuma outra. Obrigaria os aliados ricos da Europa e da Ásia a pagarem por suas defesas, feitas pelos Estados Unidos. Estabeleceria política de boa vizinhança, principalmente com Putin, certamente procurando por fim à aproximação entre a Rússia e a China.

Sobretudo, poria fim as trocas mundiais globalizadas, sem restrições, promovendo acordos bilaterais e outros, que favorecessem e protegessem a economia e a produção nacional estadunidense. O programa de Trump recebeu o apoio sobretudo da classe operária branca, de não poucos trabalhadores negros e mesmo latinos regularizados, que concordavam com a proposta de repressão ao trabalho do imigrante irregular. Hillary, além de muita guerra, apresentou-se como defensora dos direitos civis de homossexuais, de lésbicas, de mulheres, de negros. Ou seja, a típica política dos liberais novaiorquinos. Jamais conseguiu superar sua imagem elitista e de representante do establishment dominante, ao lado enriqueceu, associada ao marido.

Donald Trump assegurou a vitória aos republicanos, sem esperança de obtê-la, com um programa que não era entretanto o da núcleo central do partido. Mais ainda, o enfoque belicista extremado de Hillary era compartilhado pelos neo-conservadores, que se fizeram representar no coração da administração Donald Trump, obrigado a transigir com eles. Um dos principais representantes neocons foi John Bolton, 71, Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca em 2018–2019, que acaba de ser defenestrado por Trump. Ele vivia no cangote do presidente exigindo que invadisse a Venezuela, atacasse a Síria, bombardeasse o Irã, colocasse os cachorros em Putin. Tudo que Trump prometera não fazer e não pretendia fazer. Após demiti-lo, Trump disse que ele “passava dos limites” sobre a Venezuela!

Arma Comercial

Por pressão da facção neocon ensandecida, Trump esteve a um passo de aventuras militares, sem jamais efetivá-las. Ao contrário, usou e abusou das sanções, da pressão e do bloqueio comercial contra a Rússia, contra a Cuba, contra o Irã, contra a Coréia, etc. No ataque geral à China, serviu-se sem restrições da taxação das mercadorias e serviços exportados para aquele os Estados Unidos, determinando igualmente ingentes prejuízos ao capital globalizado estadunidense, com infinidade de fábricas, participações e interesses na China. Foi mais longe, tentou imobilizar empresas chinesas de ponta, como a Huawei, para obrigar o país a negociar sob suas condições.

Os USA vem sendo superados no que se refere à inúmeras rubricas tecnológicas pela China e pela Rússia. Um bom exemplo é o G5 e a “Internet das Coisas”, com enorme atraso por parte das empresas estadunidense. Os USA são incapacidade de avançar enormes projetos econômicos globais, como a iniciativa do Cinturão e Nova Rota da Seda. Em diversas áreas da indústria militar de exportação, os russos superam os estadunidense, em preço e qualidade. O recente fiasco da proteção aérea na Arábia Saudita é exemplo luminar. Putin não deixou passar batido e ofereceu ao país seus S-400! Cada vez mais, o governo USA é obrigado a lançar mão da pressão sobre os aliados, para vender seus armamentos. Pratica a diplomacia do bastão, sem a cenoura.

A proposta belicista unipolar estadunidense de domínio do mundo através da força militar, assemelha-se à do Império Romano em decadência, já sem a hegemonia econômica para sustentar o seu domínio mundial com o eixo no Mediterrâneo. A hegemonia pela força pode garantir enormes lucros para a indústria bélica, a rapinagem das nações submetidas, a festança da emissão de dólares e de títulos da dívida pública. Entretanto, ela desemboca, inevitavelmente, em confronto militar generalizado. Mais realista, Donald Trump avança a estratégia para um mundo multipolar, com lugar para a China e a Rússia, no contexto de uma economia estadunidense reconstruída, que supere qualitativamente a expansão dos últimos dez anos, em boa parte dopada pela retomada da produção do gás e do petróleo no país.

Treze Meses Cruciais

Em treze meses, realizam-se as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A eventual reeleição de Donald Trump garantirá a possibilidade de avançar seu projeto original, já sem muitos dos entraves da primeira gestão.

Seria derrota terrível para o grande capital globalizado. Para tal, tem que obter sucesso nas negociações com a República Democrática Popular da Coréia, com a República Islâmica do Irã e sobretudo com a China, que festeja os setenta anos de sua fundação moderna. Um eventual acordo com a própria Venezuela não é impensável. Essa repactuação é igualmente imprescindível, para não lançar a economia estadunidense e mundial em depressão generalizada, o que liquidaria seu governo, antes ou após das eleições. Tudo leva a crer que Trump se prepara para essa operação, a ser executada nos próximos meses.

A economia estadunidense em expansão joga em favor de Trump, ainda que se anuncie a ameaça de depressão da economia mundial. O desemprego recuou para níveis históricos - 3,7%. O seja, o país vive praticamente o pleno emprego. Mas em geral são empregos ruins, precários, parciais, de salários baixos. O poder aquisitivo do trabalhador estadunidense está ainda anos-luz do nível dos “anos de ouro”, na década de 1960. E a reindustrialização do país, em favor do capital, exige que siga a super-exploração de seus trabalhadores, sobretudo, se for interrompido o fluxo imigratório latino-americano.

O candidato do establishment democrata é Joe Biden, 76, ex-vicepresidente de Obama, que se apresenta prometendo restaurar o poderio estadunidense no cenário global. Ou seja, entrar de sola no mundo, a ferro e fogo. Para ser designado candidato democrata, deverá se bater com dois fortes concorrentes da nova esquerda democrata: o socialista Bernie Sanders, 78, que acaba de ser internado por problemas no coração, e Elizabeth Warren, 70, centrista. Em 2016, o mesmo confronto direita versus centro-esquerda democrata causou forte desgaste à candidatura de Hillary Clinton, que, de preferida no pleito, terminou amargando uma derrota da qual ainda não se recuperou.

Joe Biden possui esqueleto no armário que motivou a proposta do partido democrata de impeachment. Imediatamente após o golpe de Estado na Ucrânia, de 18 de fevereiro de 2014, parte da ofensiva de Obama contra a Rússia, em 18 de abril, Robert Hunter Biden, filho do então vice-presidente, foi premiado com a designação para membro do conselho de administração da principal exploradora de gás da Ucrânia, a Burisma Holdings. Quando a ações obscuras da mega-empresa passaram a ser investigada, Joe Biden , na vice-presidência, exigiu a demissão do procurador ucraniano bisbilhoteiro, ameaçando cortar ajuda de um bilhão de dólares ao país. Apenas em 2019, o filho 02 largou a teta milionária ucraniana. Ele está igualmente involucrado em outras negociatas internacionais.

A cabeça do filho por 250 milhões de dólares

Em 25 de julho, em conversação telefônica com o novo presidente ucraniano, Volodymyr Zelenszy, Trump teria sugerido que ampliasse a investigação sobre aqueles sucessos obscuros, ameaçando interromper liberação de empréstimo de 250 milhões de dólares ao país. O que é falso, ao menos em relação ao empréstimo, que fora concedido antes da conversação. Com a denúncia, procura-se matar dois coelhos ucranianos com uma cajadada democrata. Transformar a defesa de Biden pai e filho em ataque e centrar a campanha contra Trump em sua tentativa de sabotar, desde o exterior, o seu mais forte concorrente democrata já que, no relativo à economia, há pouco a dizer.

A denúncia da conversação nasceu de irregularidade grave, promovida desde o Deep State - um membro da CIA teria se servido de seu acesso funcional privilegiado para revelar conversa do presidente e alavancar a denúncia democrata. Portanto, não somos apenas nós que temos nossos Moro e Dallagnol trabalhando nas sombras. Agora, os democratas pressionam para a publicação das minutas de todas as conversações pessoais de Trump com chefes de Estado, com destaque para Putin. O russo acaba de lembrar que os colóquios bi-laterais devem ser publicados com a licença dos dois chefes de Estados envolvidos, o que é lógico.

O impeachment é apenas mais uma arma a ser usada pelos democratas e pelo capital estadunidense e mundial globalizado contra Donald Trump, em uma campanha que se dará a golpes de foice, com o sangue na boca e a vontade de matar. Ela decide, simplesmente, caminhos a serem tomados na economia e na política internacional pelos USA, ainda a nação mais poderosa do mund. A proposta pode atrapalhar Donald Trump ou, até mesmo, naufragar a campanha pela nominação de Joe Biden, que jura de pés juntos que jamais conversou com seu filho espertalhão, sobre seus negócios escusos no exterior, nesses últimos cinco anos!

As cartas estão jogadas e a partida apenas começa. Possivelmente ela vai ser ganha ou perdida no cenário internacional, devido a uma solução melhor ou pior para as relações dos Estados Unidos sobretudo com a China, muito importante para a sorte da economia mundial. Quanto a nós, se vencer Donald Trump, o Jairzinho se fortalecerá, se ainda estiver na presidência, e seguirá na sua subserviência sem freio aos USA. Se vencer um democrata, o golpe apoiará talvez como seu interprete no Brasil alguém com o perfil do Rodrigo Maia, Hamilton Mourão, Dória Júnior, certamente mais elegantes na obediência ao tacão estadunidense. E, sobretudo, deveremos abaixar a cabeça, por que o tiroteiro retomará solto, possivelmente ainda pior que nos tempos de Obama e da Clinton, com resultados difíceis de imaginar. [Duplo Expresso, sob coordenação de Romulus Maia, quinta-feira, 3 de outubro de 2019.]

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