Uma ótima contribuição nesse sentido é a tese de doutorado de Eurelino Coelho, “Uma esquerda para o capital”, defendida em 2005 e transformada em livro em 2012.
O estudo mostra a gradual transformação do PT de partido de contestação da ordem em seu dedicado defensor. Um importante elemento nessa trajetória seria o abandono do princípio da independência de classe.
Em 1981, por exemplo, com apenas um ano de existência, o PT era assim descrito em um cordel elaborado por militantes do Piauí:
Um partido que é do povo/ sem pelego, sem patrão/ sem luxo, sem mordomia,/ sem furto, sem corrupção/ onde não se compra voto/ e nem se vende ilusão.
Existem outros partidos/ todos da “oposição”/ e por trás de cada um/ está oculto um patrão/ cuidado trabalhador:/ escute, preste atenção.
No mesmo ano, o setor agrário do PT de Minas Gerais lançou uma cartilha em quadrinhos com o título “Partidos das Formigas (Tamanduá não entra)”.
Na campanha eleitoral de 1982, diz o texto, vários candidatos petistas em todo o país distribuíam panfletos de campanha que diziam “Quem bate cartão, não vota em patrão”.
Como se sabe, hoje a situação é bem diferente.
Claro que esse não é o único elemento a explicar a atual situação vergonhosa do partido. E, realmente, o estudo de Coelho vai muito além disso. Por isso, vale a leitura.
Mas o fato é que, mesmo que ainda restem algumas formigas nas bases petistas, o partido está entregue aos tamanduás.