Nós temos que garantir até às ultimas consequências que esses acontecimentos deixem ser realidade. Associar esses jovens com criminalidade, não pode servir de pretexto para tirar vidas. O direito à vida é o direito primordial. O estado português e a sociedade portuguesa não podem continuar a lembrar-se desses jovens apenas no momento de premir o gatilho. Onde se escondem no momento de prevenir ou evitar as circunstâncias sociais que empurram alguns jovens de origem africana para o desvio? Temos que admitir que há algo de muito errado neste pais, no que toca às relações raciais. Há uma responsabilidade coletiva que tem de ser assumida. Negar a realidade e especificidade do racismo sistémico, altamente institucionalizado, e continuidade inegável do colonialismo português, tendo particularmente como alvo negros e negras residentes em Portugal, (como faz o governo e organismos como o ACIDI) não é o caminho que se deve seguir.
E quanto a nós, população negra, não podemos continuar a viver tranquilamente, a cantar e a dançar despreocupadamente enquanto a nossa comunidade é brutalizada. Lutar contra a violência policial e a violência do estado é uma questão da nossa dignidade e auto-respeito. Quer vivamos nos bairros ou não, em barracas, em prédios ou vivendas, é a comunidade no seu todo que é atacada, de cada vez que um irmão nosso é assassinado. Os policias na hora de matar não olham pelo bairro ou zona em que vivemos, muito menos se nascemos na Europa ou não, nem se somos mais claros ou mais escuros. O que conta para eles é a “marca” de ser negro/a. Unidos, venceremos.