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Diário Liberdade
Segunda, 24 Abril 2017 14:19 Última modificação em Quinta, 27 Abril 2017 01:13

Venezuela: que curiosa é essa “ditadura”

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País: Venezuela / Resenhas / Fonte: AVN

[Matías Bosch*] Que curiosa é a "ditadura madurista" que denunciam Henrique Capriles, Henry Ramos Allup e Julio Borges. Enquanto todos os países governados por ditaduras foram fontes de emigrações em massa, a Venezuela seria a primeira que recebe imigrações de um país vizinho, como acontece com os colombianos: existem 5,6 milhões na Venezuela, no ano passado chegaram mais 100 mil e em 2017 já chegaram perto de 30 mil.

O governo autoritário da Venezuela é tão brutal, que a "a oposição" que sai às ruas a "manifestar" convocada pela MUD não parece ter outra opção que atacar e incendiar o Instituto Nacional de Nutrição, o Metrô, um hospital infantil e disparar com armas de fogo contra a polícia. Saberão a dignidade com que os maias tinham de lutar perseguidos na Guatemala de Ríos Montt? As Mães e Ávos da Praça de Maio tentariam incendiar um só parque da Argentina? Lhes interessará que na República Dominicana entre 24 e 26 de abril de 1984 foram assassinadas 46 pessoas e feridas outras 185 (oficialmente mal contadas) pelas mãos de policiais e militares, só por tratar de conseguir comida e se defender da violência estatal? Curiosamente a jovem Paola Ramírez, que morreu nesta quinta-feira de um disparo no Táchira, não foi assassinada pelos policiais nem "coletivos chavistas" como repete a grande imprensa, mas com uma arma que disparava contra manifestantes governistas de um dos edifícios adjacentes. O que a MUD diz sobre isso?

A tirania de Maduro é tão séria, tão grave, que a oposição existe, pode ganhar as eleições legislativas, ter maioria parlamentar, fazer marchas todas as semanas, ter partidos, viajar ao exterior, ser recebidos na OEA, possuir jornais, canais de TV, rádios e tudo o que se proponha. Na verdade, o caso lembra muito a ditadura de Trujillo, quando o Partido Dominicano era o único autorizado a existir, e ter o carnê com "a palmita" era uma obrigação igual a levar consigo a carteira de identidade.

Devido à crueldade do governo da Venezuela, o secretário-geral da OEA se viu na necessidade de intervir. Deixa para depois a situação dos chilenos que não podem voltar a seu país por penas de exílio aplicadas por Pinochet e mantidas depois nos governos "democráticos"... Nem ouvir falar dos quase vinte dirigentes mapuches que são presos políticos nesse país, acusados sob a lei de "segurança interior do Estado". O secretário Almagro também deixa para depois os 40 dirigentes sociais que foram assassinados na Colômbia em menos de quatro meses. Quando Almagro fala de "ruptura da ordem constitucional", lembrará de fazer algo por Honduras, onde em 2009 houve um golpe de Estado e há mais de 120 ativistas do meio ambiente assassinados?

Maduro e Chávez foram dois sátrapas tão cruéis que destinam 60% do orçamento público ao Gasto Social, e criaram e mantêm a Missão Bairro Adentro, o único programa que permitiu que a população de comunidades e campos venezuelanos tenham acesso à saúde. Desde sua criação, já tem 1,3 bilhão de consultas, todas gratuitas e garantidas. Igualzinho à situação da República Dominicana, onde entre janeiro e março de 2017 morreram mais de 300 bebês, produto em sua maioria de infecções adquiridas nos hospitais onde nascem e são atendidos. Nem ouvir falar das 5.700 crianças que morreram em um único hospital público entre 2006 e 2012. Igual também à condição das 300 mil mulheres indígenas peruanas esterilizadas de maneira forçada na era de Fujimori, tudo na mais absoluta impunidade.

Ante um déspota como Maduro e companhia, Leopoldo López é Gandhi e Lilian Tintori é a mulher de Mandela ou de Martin Luther King. Com a diferença de que Tintori fez campanha aberta para que Guillermo Lasso ganhasse as eleições no Equador, esse Lasso envolvido na quebra do sistema bancário que deixou seu país na bancarrota enquanto ele fazia negócios, e que tem fortunas investidas em paraísos fiscais. Quando vemos Tintori fotografada com Peña Nieto, com Trump e com Macri, nos dizemos "que sorte!", porque quando as viúvas dos executados políticos da Guatemala, Colômbia ou Argentina foram recebidas por algum presidente? Quando Peña Nieto tirou uma foto com alguma das mães, irmãs ou namoradas dos 43 desaparecidos de Ayotzinapa?

Com certeza, muitos venezuelanos e venezuelanas têm razões de peso para estar descontentes e não concordar com seu governo. Mas essa "oposição" instituída, dos Capriles, Borges, Tintori, López, Ramos Allup... essa "oposição" zomba da memória histórica de seu país e da América Latina cada vez que usa a palavra ditadura para justificar sua ambição, sua convicção de que pode fazer e desfazer a seu bel-prazer, e exibir sua sede de triunfo e poder.

*Publicado originalmente em '"Resumen Latinoamericano" em 21 de abril de 2017

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