Pouco depois do meio dia dessa sexta-feira, 01, dezenas de milhares de pessoas começaram a se mobilizar na Praça de Maio, na capital argentina, onde se realizou um festival e Sergio Maldonado, irmão de Santiago, fez um discurso no fechamento do evento.
Foram parte da concentração organismos de direitos humanos, sindicais, estudantis, partidos políticos e muita gente que marchou por conta do desaparecimento. O PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas) e a Frente de Esquerda se mobilizaram como parte do Encontro Memória, Verdade e Justiça, composto por organismos independentes de todos os governos, exigindo que o caso de Maldonado não termine na impunidade como aconteceu com Julio López.
Em seu discurso, Sergio Maldonado reivindicou a renúncia de Patricia Bullrich e disse: “à senhora ministra de Segurança, lhe peço que dê um passo atrás e deixe o seu lugar a alguém capacitado. Somos maltratados pela senhora ministra de Segurança”. Essas palavras provocaram a resposta dos manifestantes que gritaram “que renuncie, que renuncie!”.
“Até quando devemos seguir nos perguntando aonde está Santiago?” perguntou também. “Faz um mês do desaparecimento forçado e o Estado nega. Em nenhum momento se questionou a ação dessa força de segurança, o único que fizeram foi questionar amigos e família de Santiago”. Então pediu por “uma investigação séria e imparcial. Que se investigue a cada um da Gendarmería [polícia federal] que atuou nesse dia”.
Durante a mobilização, o Encontro Memoria, Verdade e Justiça distribuiu a seguinte declaração:
Aparição com vida já de Santiago Maldonado – O Governo e o Estado são responsáveis
Estamos nesse grande ato unitário há um mês da detenção e desaparecimento de Santiago Maldonado por parte do Estado, após a brutal repressão da Polícia Militar na Pu Lof em Resistência de Cushamen, na região de Chubut, com balas de borracha e chumbo, destruindo tudo ao redor.
Santiago estava em um acampamento solidário à luta da comunidade mapuche, que reivindica seu direito de ocupar suas terras ancestrais, quando as forças federais entraram ilegalmente ao Lof. A notícia recorreu o país e despertou a solidariedade de nosso povo, que saiu às ruas para exigir a aparição com vida de Santiago.
A mobilização popular e as amostras internacionais de apoio fizeram possível que a justiça reconhecesse a figura de desaparecimento forçado. Seguiremos nas ruas, como fizemos quando desapareceu Julio López, exigindo o castigo aos responsáveis de seu desaparecimento. O caso de Santiago não pode se converter em outro monumento à impunidade.
O Estado não só é responsável, mas também encobre à Polícia Militar. O desaparecimento forçado de pessoas começa com a privação da liberdade por parte do Estado, depois com a falta de informação sobre seu paradeiro e a negativa do Estado em reconhecer o caso. Por ser um delito de Estado, é este que deve demonstrar que não é responsável.
O governo e sua ministra de Segurança, Patricia Bullrich, eximiram de toda responsabilidade a Polícia Militar e realizaram uma enorme operação de encobrimento que vai desde ocultar provas, até uma campanha midiática para demonizar o povo mapuche e culpabilizar o próprio Santiago e sua família.
Bullrich também saiu a defender seu chefe de gabinete Pablo Noceti. Esse ex-defensor de genocidas, que acusa os mapuches e quem os apoiam de terroristas, dirigiu pessoalmente a repressão do dia 1 de agosto. Que Bullrich siga a frente do Ministério de Segurança, utilizando os recursos do Estado para sustentar o encobrimento, é uma garantia de impunidade.
Desde o início desse ano, o governo provincial e o governo nacional realizaram diversos ataques ao povo mapuche, defendendo os usurpadores de suas terras, como é o caso dos empresários Lewis e Benetton. Assim, para disciplinar a comunidade, a Polícia Militar deteve novamente, a finais de junho, o líder mapuche Facundo Jones Huala, ainda que a justiça argentina não tenha causas contra ele e já tivesse declarado a anulação do pedido de extradição do governo chileno.
A Polícia Militar é a mesma força de segurança, cada vez com mais insistência, que os sucessivos governos utilizam para reprimir marchas, liberar cortes de rotas e espiar lutadores sociais, como com o Projeto X.
Os ataques e a demonização das lutas se estenderam nos últimos dias a agrupações sociais e políticas em geral. Assim foi visto o ataque com disparos à dirigente social Julia Rosales, a perseguição a docentes por falar de Santiago em aula, os pedaços dos veículos de três companheiros de APDH Matanza (Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos, traduzido para o português) e a onda de invasões simultâneas a locais de organizações populares e partidos políticos na cidade de Córdoba, entre outros acontecimentos repressivos.
Diante dessa situação, assim como estamos fazendo hoje, desde o EMVJ (Encontro Memória, Verdade e Justiça) nos comprometemos a seguir a mobilização com a maior unidade de ação possível pela aparição com vida de Santiago e pelo castigo dos culpados.
• Aparição com vida já de Santiago Maldonado
• Fora Patricia Bullrich e Pablo Noceti
• Basta de perseguir os povos originários
• Liberdade a Facundo Jones Huala e a Agustín Santillán
• O Estado e o governo nacional são responsáveis
ENCONTRO MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA