O relatório, que foi reproduzido em vários meios de comunicação, está assinado pelo almirante e atual chefe do Comando Sul, Kurt Tidd. No texto propõe-se gerar, mediante ações de violência, condições para conseguir substituir o governo de Maduro por um governo de transição, uma coalizão composta por dirigentes da oposição, líderes sindicais e as onipresentes ONGs.
O texto, que se tornou público pela organização venezuelana Missão Verdade, propõe 12 passos que dariam as forças especiais, junto à oposição reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD), para derrubar Maduro.
Cabe recordar que o programa estratégico do Pentágono divide o planisfério em 10 partes, e em cada uma os Estados Unidos têm um comando militar para controlar essa área. Dentro dessa estratégia, ao Comando Sul está atribuído o controle da América Latina e do Caribe.
Também faz referência à queda internacional do preço do petróleo que, assegura, obrigará o governo de Maduro a suspender programas sociais.
O jornalista e analista político Carlos Aznarez opinou que "este documento que vazou agora é, aparentemente, a segunda parte de um similar que lançou o anterior chefe do Comando Sul, John Kelly".
E apontou: "Neste documento fica claro que parte do que ali se diz já está sendo executado há algum tempo na estratégia de assédio e derrubada do governo de Nicolás Maduro. Podemos ver os cinco pontos fundamentais, ali aparece o emprego de uma estratégia que possa justificar o desenvolvimento de uma política hostil por parte da oposição, o isolamento internacional, a desqualificação como sistema democrático do governo venezuelano e a geração de um clima propício para a aplicação da Carta Democrática da OEA. Tudo isso já está em marcha e tudo tende, pelo menos no documento, a que a saída seja de características violentas".
Aznarez ressaltou que "o tema da violência está posto acima de qualquer outra possibilidade de saída. Entretanto, a oposição está propondo a possibilidade do referendo revogatório e também impulsionar a aplicação da Carta Democrática da OEA, o que não poderá fazer porque não estão dadas as condições, mas já estão se gerando nestes dias as "guarimbas", como as que foram produzidas há dois anos e que provocaram 43 mortos. Por isso é importantíssimo ter em conta a proposta do presidente Nicolás Maduro, a necessidade da unidade do povo venezuelano e a mobilização permanente, para deixar claro à oposição que o povo não está disposto a ceder".
"No documento do Comando Sul fala-se de um governo de transição conformado por dirigentes da oposição, alguns dirigentes sindicais e a famosas ONGs, que sempre fervilham por estes lugares. Estão preparando uma saída com a mesma ideia de 2002, quando realizaram o golpe de Estado contra Chávez", concluiu o analista.
Entre os pontos dessa primeira fase estariam: "Pôr em evidência o caráter "autoritário" do governo de Maduro, gerar isolamento internacional e desqualificação como sistema democrático, gerar um clima propício para a aplicação da Carta Democrática da OEA, colocar na agenda a premissa da crise humanitária que permita uma intervenção com apoio de organismos multilaterais, incluindo a ONU".
O almirante Kelly assegura: "nossa intervenção oportuna tem permitido delinear um caminho para uma saída rápida do regime. Todavia, está se invocando o caminho pacífico, legal e eleitoral, e tem crescido a convicção de que é necessário pressionar com mobilizações de rua, buscando fixar e paralisar importantes contingentes militares que terão que se dedicar a manter a ordem interna e segurança do governo, situação que se tornará insustentável na medida em que se desencadeiem múltiplos conflitos e pressões de todo tipo. Inscrita nessa perspectiva, proponho examinar um conjunto de recomendações para a segunda fase da Operation Venezuela Freedom 2".
Como desenvolvimento da fase 2, o texto propõe "um conjunto de recomendações que permita um planejamento efetivo de nossa intervenção na Venezuela". Essas recomendações seriam:
1- Gerar um cenário abrupto que pode combinar ações de rua e o emprego dosado da violência armada.
2- Sob um enfoque de "cerco e asfixia", utilizar a Assembleia Nacional como garras para obstruir o governo: convocar eventos e mobilizações, interpelar os governantes, negar créditos, revogar leis.
3- No plano político interno insistir no governo de transição e nas medidas a tomar após a queda do regime, incluindo a conformação de um gabinete de emergência, onde possam se incluir setores empresariais, hierarquia eclesial, sindicatos, ONGs, Universidades.
4- Para chegar a esta fase terminal, contempla-se impulsionar um plano de ação de curto prazo (6 meses com um fechamento da 2a fase para julho-agosto de 2016), aplicar as garras para asfixiar e paralisar, impedindo que as forças chavistas possam se recompor e se reagrupar.
5- Manter a campanha ofensiva no terreno propagandístico, fomentando um clima de desconfiança, incitando medos, tornando ingovernável a situação.
6- Dar particular importância à exploração dos temas como a escassez de água, de alimentos e de eletricidade.
7- Posicionar a matriz de que Venezuela entra em uma etapa de crise humanitária por falta de alimentos, água e medicamentos, é necessário continuar com a manipulação do cenário onde a Venezuela está "próxima do colapso e de implodir" exigindo da comunidade internacional uma intervenção humanitária para manter a paz e salvar vidas.
8- Insistir na aplicação da Carta Democrática, tal como foi acordado com Luis Almagro Lemes, secretário geral da OEA e os ex-presidentes, encabeçado pelo ex-secretário da OEA César Gaviria Trujillo (...) Aqui faz-se relevante a coordenação entre organismos da Comunidade de Inteligência (IC) e outras agências como as organizações não governamentais (ONGs), corporações privadas de comunicação, como a SIP, e diversos meios privados (TV, Imprensa, Redes, circuitos de rádio).
9- Não pode se deixar de lado o esforço que temos realizado para vincular o governo de Maduro à corrupção e à lavagem de dinheiro (...) Nestas coordenadas, é necessário desenvolver campanhas midiáticas com as testemunhas protegidas que colaboram com a aplicação do decreto de 9 de março de 2015.
10- Em outro âmbito, temos que prestar atenção à questão militar. Todavia, até agora tem sido exitosa a campanha que impulsionamos para dissuadir e ganhar adeptos em setores institucionalistas (...) Por isso, devemos sustentar o trabalho de debilitar essa liderança e anular sua capacidade de comando.
11- Leitura similar é necessário fazer em relação ao emprego que fará o governo das chamadas milícias e coletivos armados. A presença deste pessoal combatente e fanático nas cidades priorizadas no plano convertem-se em obstáculos para as mobilizações de rua de forças aliadas e grupos opositores, sendo também um impedimento para o controle efetivo de instalações estratégicas. Dali a demanda de sua neutralização operacional nesta fase decisiva.
12- Os treinamentos e preparações operacionais dos últimos meses, com a Força-Tarefa Conjunto Bravo na base de Palmerola, em Comayagua, Honduras, a Força-Tarefa Conjunta Interagencial Sul-Jiatfs, permite colocar tais componentes em condições de agir rapidamente em um arco geoestratégico apoiado nas bases militares de "controle e monitoramento" nas ilhas antilhanas de Aruba (Reina Beatriz) e Curazao (Hato Rey); em Arauca, Larandia, Tres Esquinas, Puerto Leguízamo, Florencia e Leticia na Colômbia; tudo isso como Bases de Operações Avançadas (FOL com projeções sobre a região central da Venezuela onde se concentra o poderio político-militar).
Neste aspecto devemos manter a vigilância eletrônica sobre esta zona de influência, sobretudo na costa atlântica, mantendo as incursões dos RC-135 COMBAT equipados com sistemas eletrônicos que permitiram recentemente coletar inteligência, interceptar e bloquear comunicações, tanto do governo como de contingentes militares (Ver relatório confidencial respectivo). Também deve ser posto OK o Primeiro Batalhão 228 do Regimento do Ar com seus 18 aviões e helicópteros UH-60 Blackhawk e CH-47, aproximando-os do terreno, preferivelmente nas instalações de Hato Rey em Curazao. Já estabelecemos as diretrizes e ordens vinculantes.
Héctor Bernardo é jornalista e analista político argentino, colaborador da Prensa Latina.