A reportagem é publicada por Reflexión y Liberación, 30-10-2016. A tradução é de André Langer.
Mais de 100 milhões de jovens latino-americanos, isto é, 64% do total, vivem em domicílios pobres ou vulneráveis, e um de cada cinco, o que equivale a 30 milhões, é “nem-nem”, nem estuda nem trabalha.
São dados do relatório Perspectivas Econômicas para a América Latina 2017, que analisa desafios e oportunidades da juventude na América Latina e que foi apresentado no dia 30 de outubro pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) no XI Encontro Empresarial prévio à XXV Cúpula Ibero-americana.
Esta reunião acontece na cidade colombiana de Cartagena de Indias precisamente com o lema “Juventude, Educação e Empreendimento”.
Na América Latina e Caribe, os jovens entre 15 e 29 anos são mais de 163 milhões, o que equivale a um quarto da população de uma região que está em fase de estagnação econômica.
O freio econômico, destaca o relatório, “coloca em risco os avanços sociais, políticos e econômicos da última década” e coloca os jovens “diante de uma encruzilhada”, pois foram criadas expectativas que não se cumpriram.
Após crescimentos econômicos negativos, em média, na região em 2015 e 2016, tão somente se espera uma ligeira retomada em 2017.
Em consequência, “sete milhões de latino-americanos caíram na pobreza em 2015”, que afeta a mais de 175 milhões de pessoas, 29,2% da população. E nesse contexto, “entre 25 e 30 milhões de latino-americanos podem entrar novamente na pobreza”, adverte o estudo.
Atualmente, “pouco mais de 64% dos latino-americanos jovens – mais de 100 milhões – vivem em domicílios pobres ou vulneráveis e não puderam engrossar a classe média” e “uma quinta parte” dos jovens têm empregos informais, ao passo que as taxas de desemprego são quase três vezes maiores entre os jovens (11,2%) que entre os adultos (3,7%).
Os jovens mais vulneráveis também deixam a escola antes que os dos setores acomodados, e quando chegam aos 29 anos, quase três de cada 10 são “nem-nem”.
Segundo o documento, “um de cada cinco jovens da América Latina não tem emprego, não estuda, nem recebe capacitação, somando um total de quase 30 milhões nesta situação”.
Em Honduras, El Salvador, Guatemala e México encontram-se as porcentagens mais elevadas, acima de 25%, de um fenômeno que afeta mais as mulheres (76%) que os homens.
A isso se soma uma alta taxa de deserção escolar no ensino médio e que mais de dois terços dos jovens da América Latina não têm qualificação universitária ou técnica superior.
Outra consequência é que em torno de 50% das empresas não encontram força de trabalho dotada, um problema particularmente grave no Peru, Brasil e México.
Para promover as oportunidades, a OCDE propõe aprofundar o empreendimento como ferramenta de desenvolvimento. “É um veículo para melhorar o emprego e a mobilidade social”, aponta o documento.
No entanto, o que se observa na América Latina é “a coexistência de poucos empreendedores de alto crescimento e muitos empreendedores de subsistência”, ao passo que o gasto público em programas de empreendimento é pequeno: 0,04% do PIB frente a 0,07% da OCDE.
No foro empresarial que aconteceu durante a reunião, os homens de negócios ibero-americanos recomendaram aos presidentes e chefes de Estado a implementação do uso da tecnologia na educação para preparar os jovens “do futuro”.
O relatório final do Encontro Empresarial insiste em que “os modelos de aprendizagem, usando as tecnologias de informação e comunicação, permitem maior flexibilidade e acelerar os ritmos de aprendizagem”, embora reconheça que “resta muito por avançar”.
Nesse sentido, destacam que “existe uma brecha clara entre [a mão de obra] que o setor produtivo necessita e aquela que se está formando”. Por isso, consideram “urgente” identificar o que se requer hoje e o que se requer no futuro.
Para os empresários ibero-americanos, alertados pelo elevado número de jovens que nem estudam nem trabalham, é “prioritário aproveitar o bônus geracional”.