Frente a este cenário, de um giro a direita na superestrutura política, o movimento LGBT e os demais movimentos de liberação sexual e em defesa das identidades trans tem um grande papel a cumprir. Começando por apoiar a resistência dos estudantes secundaristas frente a desocupação violenta promovido pelo governador Geraldo Alckmin em São Paulo que demonstra que não será fácil transformar esse giro a direita também na situação, que ainda carrega consigo aspectos de Junho de 2013.
PT alimentou a direita que deu a presidência ao golpista Temer
Temer só pode chegar a presidência, porque contou com ajuda de diversos partidos conservadores, a ação bonarpartista do Judiciário e da operação criada pela mídia para usar a corrupção como um argumento seletivo para atacar o PT.
Todavia, foi este mesmo PT de Dilma e Lula que deram espaço para essa direita a partir da conciliação de classes que tentou fazer desde sua chegada ao governo. Os movimentos sociais conhecem bem o PT como direção de diversos movimentos como a Marcha Mundial de Mulheres que agrediram mulheres antigovernistas no dia internacional das mulheres em São Paulo. Para nós LGBT o PT não fez muito pouco, mas fez o jogo da direita desde o começo. Barrou o Kit antihomofobia, não criminalizou a homofobia como prometeu nas campanhas e somente na semana que o golpe de consolidava Dilma assinou o direito do nome social, que convenhamos, dava um direito parcial que rapidamente será retirado agora pelo novo governo. Nenhuma lei foi feita para defender a população LGBT.
Temer é então um resultado de um governo e um partido que nem sequer foi consequente para impedir essa direita de chegar novamente ao governo, justamente porque já vinham sendo parte do mesmo há muitos anos. Kátia Abreu, Maluf, são só alguns nomes para mostrar que a direita nunca esteve fora do governo.
Mais que nunca: uma saída independente para arrancar nossos direitos
A constituição de 88 tutelada pelos militares e teve como um dos seus redatores ninguém menos que o golpista Michel Temer diz muito dos nossos atuais problemas. Apesar de nela dizer que vivemos num Estado Laico, os políticos fazem questão de rasgar esta lei maior todos os dias. Desde 2013, Feliciano então presidente da Comissão de Direitos Humanos buscava aprovar a Cura Gay e criminalizar as religiões de origem africanas. Cada vez mais a bancada evangélica vem se consolidando com peso na Congresso nacional e tendo vitórias como a votação em diversos estados contra a chamada "Ideologia de gênero" que significa que a ausência completa de mulheres cis e identidades trans nos livros escolares está garantida para perpetuar a massiva exclusão do ensino das travestis na mesma proporção que somos jogadas a prostituição como única via de sobrevivência.
Na educação, não temos direito a permanência e somos constante humilhadas e constrangidas. Na saúde, faltam recursos e estudos que visem o atendimento dos corpos trans. Muito diferente do que pregam os conservadores, a "disforia de gênero" (a versão ou repulsa sobre partes do nosso corpo) não é fruto da "ideologia de gênero", mas justamente o oposto, a profunda miséria e repressão sexual e identitária baseada nos padrões estéticos e de gênero que a burguesia impõem pela sua moral, sua história, isto é, sua ideologia.
Lutar pela separação da igreja e do Estado assim como pela criminalização da LGBTfobia e pelo direito as identidades trans - reconhecimento legal do Estado da nossa existência, atendimento da Saúde física e psicológica, garantia do direito ao emprego, iguais direitos as pessoas cisgeneras - só pode ser arrancado pela força de nossa mobilização.
Por uma Assembleia Constituinte verdadeiramente Livre e Soberana
Quando Jean Wyllys deputado do PSOL no Rio de Janeiro declarou seu voto contrário ao golpe na votação da Câmara dos Deputados, apesar de seu conhecido reconhecimento do Estado e da democracia burguesa, chocou o quão bizarro foram as demais declarações, incoerentes e embutidas de ódio aos setores populares, trabalhadores e oprimidos. O cuspe que deu em Bolsonaro, como dizemos, foi muito pouco, mas simbolicamente representou os milhares de nós que não temos voz naquela casa que não é do Povo, mas sim, o balcão para negociar os interesses da burguesia, naquele dia, quem irá aplicar os ajustes e descarregar crise econômica nas costas dos trabalhadores.
Se Jean, com todas suas limitações, pode dar essa voz, imaginemos se colocamos de pé, desde as ocupações de secundaristas de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará, as greves das universidades estaduais paulistas, desde as mobilizações em curso uma nova assembleia para debater uma nova constituição para repensar e decidir todos os problemas do nosso país, como a educação, saúde, transporte, etc.