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Diário Liberdade
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Terça, 10 Janeiro 2017 14:39 Última modificação em Quinta, 12 Janeiro 2017 21:03

A leitura futura do país "não pacífico"

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País: Brasil / Repressom e direitos humanos, Batalha de ideias / Fonte: Diário Liberdade

[João Pedro Moraleida] Ao abrir qualquer jornal, a impressão que fica é de um desmoronamento geral, talvez porque certas mudanças nos quais passou o país estavam assentadas sobre uma base frágil, como se tudo por aqui tivesse sido efetivado de modo fraco, restando assim uma não consolidação.

Em um texto de entrevistas, Jorge Luis Borges comenta que a literatura presente deveria ser lida somente no futuro, deixando aos clássicos a matéria do presente. O que de certa maneira colocava a escrita quase num patamar universal, pois a leitura futura teria sua razão de ser, podendo ser nítida e se associar sempre ao mundo atual. A música Vai Passar, de Chico Buarque, feita na década de 80, ainda sob a ditadura militar nos revela essa ideia de Borges, de que a leitura, no caso a letra de uma música ainda nos diria muito no futuro, hoje presente. As “perigosas transações” que o país está submetido, aprofundadas após o Golpe a presidenta Dilma Rousseff, dizem muito sobre a atualidade do que nos espera.

Ao abrir qualquer jornal, a impressão que fica é de um desmoronamento geral, talvez porque certas mudanças nos quais passou o país estavam assentadas sobre uma base frágil, como se tudo por aqui tivesse sido efetivado de modo fraco, restando assim uma não consolidação. O país que caminhava numa ‘’paz social’’ do lulismo, foi o mesmo país que viu uma deposição inconstitucional da presidenta; o país dos BRIC’S também é o lugar onde um crime ambiental e social como o da Samarco em Mariana passa despercebido alguns meses depois; onde uma crise prisional na realidade é a barbárie posta, com seus massacres. As novas formulações que passou o Brasil durante o lulismo, criaram novas contradições e aprofundaram as que nos estruturam, como o preconceito de classe, ao patrão ver a empregada doméstica, cursando uma faculdade, ainda que particular, sem a inclusão total, e o ódio sentido. Criaram também nas novas contradições um reflexo do país que encontra seu futuro, sem ainda ter elaborado as estruturas e carências históricas. Algo do tipo: “agora vai, estamos chegando lá, ao progresso”. Se esse imaginário estiver realmente presente, qual é seu inverso ? Um progresso que culmina em ódio, em ódio de classe, da elite, que não se comede em ser amiga da barbárie. O instante em que um secretário federal se coloca a serviço dos massacres nos presídios é o mesmo instante daqueles que viam numa chacina sexista e misógina uma razão de ser, ou no caso do deputado Major Olímpio que torce como futebol para que o massacre ocorra em Bangu, disputando numericamente com as penitenciárias do Norte e Nordeste. Aquilo que faz coincidir todos esses discursos é o momento que demonstra em que bases nos assentamos: no fascismo ou algo pior ‘’sem nome’’, que canaliza o ódio e a violência para fins práticos de assassinatos.

Começa a se delinear no Brasil não só uma demonstração da força perversa da direita, mas um encontro entre as ideias de ódio e sua legitimação pela sociedade civil, como uma opinião pública que não se confunde (mais) com pautas populares. A geleia geral entre um governo que caminha na contramão dos direitos e a legitimação do terror, é o resultado das contradições históricas brasileiras e mundiais, e eles sabem o que fazem, sabem do ódio que destilam e dos massacres gerais que influenciam. E por quê o fazem ? Porque a barbárie para os fascistas é parte e função de suas vidas.

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