A Secretaria de Saúde suspeita que o atual surto teve início com o contágio de um morador da zona rural. Segundo estatísticas oficiais, é alto o índice de homens, sobretudo acima de 40 anos, moradores de área não urbanizadas, que não procuram postos para imunização. Com esse discurso, como em todas epidemias, os governos buscam omitir suas responsabilidades e culpabilizar a população pela grave situação de saúde.
O Estado não registrava números semelhantes de febre amarela desde 2002, quando 12 pessoas morreram no Serro, no Vale do Jequitinhonha, e cidades da região vizinha da que hoje registra casos da doença. Desde o início do ano, o número de mortes por suspeita de febre amarela na região é de 38 - 8 a mais que no relatório de anteontem. Há um total de 20 mortes prováveis pela doença (quando exames iniciais comprovaram a doença, mas restam outros testes a serem feitos). Do total, dez são de homens com idade próxima de 40 anos. Também já foram registrados 133 casos suspeitos da doença, 23 a mais que no relatório anterior.
A tática do governo para conter a doença é aumentar a vacinação. Os 152 municípios que fazem parte do decreto de emergência integram as regionais de saúde de Coronel Fabriciano (Vale do Aço), Governador Valadares (Leste), Manhumirim (Zona da Mata) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri). O decreto vale por 180 dias e tem como objetivo a "adoção de medidas administrativas". Na prática, permite compra de medicamentos e contratação de profissionais de saúde sem licitação, mecanismo que frequentemente é utilizado para desvios de recursos em todo o país.
Preocupação. Para o infectologista Jessé Reis Alves, coordenador do Ambulatório de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, "o aumento de casos é muito expressivo", mas a grande preocupação é que a doença passe a ser transmitida no meio urbano. Todos os casos humanos conhecidos hoje foram adquiridos após picadas de mosquitos silvestres, que, por sua vez, se contaminaram ao picar macacos doentes.O medo é que se houver muitas pessoas doentes em uma área urbana muito populosa, mosquitos urbanos, como o Aedes aegypti, que até os anos 1940 transmitiam a doença em cidades, voltem a fazê-lo. "Mas ainda não há nenhuma evidência de que haja ciclo urbano."
Com os gastos em saúde cortados pela PEC 55, com as verbas para pesquisa científica diminuídas, a atual epidemia mineira pode ser um inicio de um ciclo onde velhas mazelas nacionais voltem a mostrar suas caras.
Com informações da Agência Estado