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Diário Liberdade
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Sexta, 08 Dezembro 2017 07:31 Última modificação em Quinta, 14 Dezembro 2017 00:31

Projeto brasileiro busca reunir em livro trabalhos artísticos em forma de manifesto contra o moralismo

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País: Brasil / Cultura/Música, Repressom e direitos humanos / Fonte: Diário Liberdade
[Por Julia A. Braga] Não ficamos tanto tempo longe da ditadura e já estamos ameaçados por uma nova enxurrada de conservadorismo e censura. Exposições artísticas que traziam abordagens de liberdade de expressão sexual sofreram ataques por movimentos religiosos e parlamentares da moral e bons costumes.

Nas redes sociais, xingamentos e ameaças de mortes a artistas que expuseram obras eróticas. No congresso, projetos de leis tentam avançar contra a criatividade artística, o poder de questionamento e o livre acesso ao conhecimento.

É nesse cenário que muitos artistas veem se mobilizando para conter o tsunami conservador que ameaça invadir o território do livre pensamento que é o da arte. Assim o pornopoeta e pesquisador Vinni Corrêa teve a iniciativa de reunir alguns artistas na montagem de uma antologia do obsceno, reunindo em um livro obras consideradas obscenas, vulgares, pornográficas ou que atentam a moral e os bons costumes de nossa sociedade. O trabalho é um manifesto artístico-político contrapondo o movimento reacionário.

Alguns nomes já manifestaram seu apoio e participação como Laerte, Veronica Stigger, Glauco Mattoso, Avelar Amorim, Tchélo Figueiredo, entre outros.

Em entrevista, Vinni fala sobre a importância do projeto para o atual cenário cultural e político do país.

Julia A. Braga – Por que você teve a ideia de criar esse manifesto em um livro?

Vinni Corrêa – Alguns motivos me fizeram crer que um trabalho impresso (mas também virtual) seria uma ótima estratégia. Primeiro porque não é apenas as exposições que estão sofrendo com a censura. Toda e qualquer obra artística erótica e em qualquer meio de comunicação tem recebido algum tipo de ataque. E com o livro, não apenas consigo reunir todas essas expressões ao mesmo tempo (poesia, crônica, cartum, fotografia, artes plásticas etc.) como gera um registro duradouro e de fácil acesso e compartilhamento entre as pessoas.

JAB – E como está sendo a adesão? Muitos artistas estão se unindo nesse movimento?

VC – Por um lado está bem entusiástico. Bastante gente se demonstrando interessada em participar e contribuir. Por outro, há determinados artistas receosos. Por exemplo, algumas artistas mulheres do movimento LGBT ou ainda não responderam ou negaram a participação. O mesmo ocorre com alguns do movimento negro. A maior aceitação até o momento tem sido de homens brancos. Ou seja, ainda há um longo trabalho a ser feito para que o projeto alcance verdadeiramente seu objetivo que é o de ser plural.

JAB – Você acredita que haja algum motivo para essa aceitação majoritária de homens brancos até o momento?

VC – Penso que, assim como nas demais manifestações culturais, no erotismo o homem branco ainda domina o discurso. Muitas mulheres estão aumentando sua participação no debate sobre sexo, sexualidade, gênero e pornografia, mas ainda é pouco e há receio. O mesmo ainda ocorre, creio eu, no movimento LGBT e no movimento negro. Talvez alguns tenham medo de expor sua imagem num tema como esse. Já sofrem preconceito e discriminação diariamente. Expor-se num ato claramente de enfretamento às vezes pode trazer certo receio para alguns. Mas se não for a arte o instrumento maior de combate, qual será? Apesar disso, ainda há artistas que não responderam e espero ter o aceite deles.

JAB – Qual o critério tem usado para selecionar os trabalhos?

VC – Há mais de um critério que venho usando até o momento. Um deles é meramente pessoal. Convidei, inicialmente, artistas que conheço e que gosto do trabalho e que acrescenta para essa causa. Além disso, tanto esses como outros artistas, pela forma, conteúdo e relevância de sua arte para o manifesto. Por fim, posso dizer que há ainda o da pluralidade. Quero catalogar uma diversidade de estilo e voz, uma oportunidade para as mais variadas tendências de se expressarem e o que elas têm a trazer de questionamento para a nossa realidade.

JAB – Após concluir essa fase de reunir os trabalhos, qual o próximo passo?

VC – Aí vem a parte mais difícil. Reunirei os trabalhos em um documento no formato de livro e encaminharei para as editoras, acreditando que alguma terá interesse em contribuir com esse manifesto. Não apenas conseguirá visibilidade como também contribuirá para um ato pela liberdade criativa da na arte, algo de que precisamos para melhorar a educação e o pensamento crítico do brasileiro em tempos de grave situação política que estamos a vivenciar.

Vinni Corrêa é pornopoeta e idealizador e organizador da Fresta Literária - sarrau de poesia erótica. Já publicou três livros de poesia (Coma de 4, Literatura de Bordel e Lunch Box) e lançará seu próximo trabalho, intitulado "Sexo a Três", em 2018. Atua como pesquisador não acadêmico do tema erotismo, publicando diversos textos na internet sobre o assunto. É pós-graduando em Psicanálise e Ciências Humanas, pós-graduado em Marketing e graduado em Jornalismo e em Gestão de Eventos. Conheça mais sobre Vinni Corrê em www.vinnicorrea.com.

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