A reportagem foi publicada por Fiocruz, 29-04-2016.
“O objetivo é mostrar os avanços do conhecimento sobre o tema, disseminando os progressos obtidos. A ideia é que esse conhecimento possa se transformar em medidas concretas, remediando os efeitos do desastre e gerando políticas públicas”, destaca o coordenador do Grupo de Pesquisa de Direitos Humanos e Políticas Públicas em Saúde e Saneamento da Fiocruz Minas, Léo Heller, responsável por conduzir as ações relacionadas à tragédia na Fiocruz.
Durantes dois dias de evento, os participantes vão se debruçar sobre os efeitos do desastre, que é considerado o maior já ocorrido no Brasil em termos de danos socioambientais. Temas como a compreensão dos riscos de desastres na mineração, o Marco de Sendai, bem como as lições que podem ser tiradas da tragédia estarão em debate. Os participantes também vão discutir novas dinâmicas de desenvolvimento econômico e social sustentável com projetos de mineração.
“Nas discussões que tivemos sobre o evento foi defendido que deveríamos marcar e deixar claro que os impactos não terminaram em 5 de novembro ou mesmo um ou dois meses depois. São impactos que não só continuam, mas vão se ampliar por anos, por décadas”, afirma o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz, Carlos Machado, um dos organizadores do seminário. “Desastres como esse requerem encontros semestrais ou anuais para fazer um balanço e não permitir que caiam no esquecimento, pois é nisso que as empresas e aqueles que não têm compromisso com a defesa desses direitos apostam”, completa.
O seminário é promovido pela Fiocruz, em parceria com a United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UNISDR), Rede de Pesquisadores em Redução do Risco de Desastres no Brasil (RP-RRD-BR), universidades federais de Minas Gerais (UFMG), Ouro Preto (Ufop) e Juiz de Fora (UFJF) e Universidade do Estado de Santa Catarina (Udes).
“Iniciamos, desde fevereiro um trabalho coletivo, envolvendo não somente várias instituições, mas também diferentes perspectivas sobre esse desastre. O resultado, a meu ver excelente, é a combinação de reflexão sobre o desastre com balanço dos impactos e ações e, ao mesmo tempo, subsídio para as ações por parte do Estado e dos movimentos sociais”, explica Machado.
Nos dois dias, o seminário ocorrerá das 9h às 17h. Veja a programação completa no site.
Ações da Fiocruz
Desde meados de novembro, após o rompimento da barragem em Mariana (5/11), a Fiocruz) tem articulado ações estratégicas com profissionais de outras instituições para discutir formas de atuação nas regiões afetadas pela tragédia. Além das pesquisas iniciais referentes à qualidade da água e ao impacto do desastre no meio ambiente, a Fundação também vem discutindo com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) o desenvolvimento de estudos para a avaliação dos impactos na saúde, provenientes do rompimento da barragem.
O Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas) também tem coordenado atividades e participado de discussões da força-tarefa do governo de Minas Gerais, instituída por meio do decreto 46.892/2015 pelo governador Fernando Pimentel. A iniciativa visa avaliar os efeitos e os desdobramentos do rompimento da barragem.
Ações integradas ao município de Mariana também estão ocorrendo desde o mês de dezembro, quando o CPqRR participou de reunião técnica, em que o secretário municipal de Saúde, Juliano Duarte, transmitiu à equipe as principais necessidades da cidade. Já no início de janeiro, um segundo encontro entre técnicos das secretarias municipal e estadual de saúde e profissionais da Fiocruz foi efetuado com o intuito de realizar uma ação conjunta e coordenada.
A Fundação também participou dos debates com pesquisadores de diferentes áreas para a construção de projeto para o edital 04/2016 da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig), com o título Tecnologias para recuperação da Bacia do Rio Doce. O edital foi lançado em 7 de janeiro e destina cerca de R$ 7 milhões a pesquisas que busquem soluções para os problemas que atingem as regiões afetadas.
Em fevereiro, na semana em que a tragédia ocorrida em Mariana completou três meses, a Fiocruz e mais 20 instituições assinaram um manifesto que alerta para a importância de acompanhar com cautela todo e qualquer projeto de reconstrução das localidades afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão. Os signatários do documento ressaltaram que o processo de construção da nova localidade deve considerar, no mínimo, a equivalência das condições de vida existentes anteriormente à tragédia; e que todas as decisões devem levar em consideração o desejo e a opinião da população afetada.