de partos normais, é o único com mais da metade dos partos realizados pela via cirúrgica, segundo dados da OMS de 2015. Ainda segundo a entidade, a porcentagem ideal de partos tipo cesárea seria em torno de 10%. Acima dessa porcentagem a cesárea deixa de ser uma cirurgia que salva vidas e passa a ser uma cirurgia desnecessária e, por isso mesmo, um risco desnecessário. Segundo o próprio Ministério da Saúde, no Brasil, considerando as particularidades, o índice ideal de cesáreas seria um pouco maior, de cerca de 25 a 30%, mas ainda assim longe do porcentual atual. A cidade de São Paulo não fica atrás. Dados de 2015 coletados pela prefeitura mostram que as cesáreas representam 60% dos partos, enquanto os partos normais representam 40%. Muitos analistas consideram a cesárea uma verdadeira epidemia.
Marília e Diana, mais a frente, durante gravação de vídeo de campanha de Diana com dezenas de mulheres.
A cesárea é uma cirurgia que deveria ser usada para salvar a vida do bebê ou da mãe em caso de gestação ou parto de risco. Porém no Brasil ela foi naturalizada e hoje é a principal forma de nascer no país. Como toda cirurgia, está sujeita a risco e complicações. Por isso, quando é realizada sem necessidade, pode aumentar em até 3 vezes o risco de morte materna e em até 120x o risco de problemas respiratórios no bebê. Além disso, os estudos da OMS apontam que a cesárea está relacionada ao aumento de internação de bebês recém-nascidos na UTI, assim como um aumento de casos de hemorragia nas mães. Outro dado é que muitas cesáreas são marcadas antes da mulher entrar em trabalho de parto, o que significa um grande risco de prematuridade para o bebê.
Ainda com todos esses dados, o número de cesáreas só aumenta e ultrapassou o número de partos normais na última década. Por trás desses dados alarmantes existe uma cultura da cesárea que praticamente obriga ou induz as mulheres a “optar” por esse procedimento. Muitas mulheres, ainda que iniciem sua gestação desejando um parto normal, acabam fazendo uma cesárea pelo “medo da dor”. Realmente, os partos normais no Brasil são extremamente dolorosos, pois são realizados com uma série de intervenções medicas e medicamentosas que geram uma reação em cadeia: a posição em que a mulher dá à luz, que nos hospitais se convencionou ser deitada na cadeira obstétrica, quando a posição vertical seria beneficiada pela ajuda que a gravidade proporciona; a injeção de ocitocina, o famoso “sorinho”, com o argumento de acelerar a dilatação, provoca aumento nas dolorosas contrações; o recurso da episiotomia, um corte feito no períneo para “facilitar” a saída do bebê, que causa uma lesão de nível muscular, com necessidade de pontos, coisa que sem intervenção raramente acontece; o impedimento ou dificuldade de proporcionar à mulher um acompanhante durante seu parto, o que causa maior desconforto e medo, aumentando o nível de estresse e consequentemente a dor do parto. Essa situação é agravada pelo machismo que se expressa nos comentários dos médicos para as mulheres durante o parto e pela compreensão extremamente racista de que as mulheres negras sentem menos dor e, por isso, recebem doses menores de anestesia e são tratadas com mais descaso e violência e tem menos poder de decisão sobre seus corpos na hora do parto. Em todo o Brasil, apenas 5% dos partos normais são feitos sem nenhum tipo de intervenção como essas.
O parto, normal ou por cesárea, faz parte de uma verdadeira indústria médica ligada à indústria farmacêutica, que produzem anestesia e ocitocina por exemplo. E a principal preocupação de qualquer empresário, mesmo o da saúde, é o lucro de sua empresa. Com essa lógica os partos são medicalizados e funcionam como uma engrenagem da indústria médica. A última preocupação é a vontade da mãe e segurança do bebê.
As cesáreas são cirurgias muito mais caras e muito mais “produtivas” do que o parto normal, pois é mais rápido realizar uma cirurgia que dura 3h do que acompanhar um parto que pode ultrapassar tranquilamente 12h. Por isso, no serviço particular, onde os médicos recebem por parto, a taxa de cesárea é ainda maior do que no serviço público, onde os médicos recebem por hora. No Brasil a rede pública tem uma taxa de 40% de cesáreas, enquanto a rede particular tem uma taxa escandalosa de 84%. Na cidade de São Paulo, 35% dos partos na rede pública são cesáreas, enquanto na rede particular eles representam 85%. Foi feito um estudo por um grupo de mulheres paulistanasque fizeram um levantamento de mais de 370 médicos que atendem convênios na cidade de São Paulo. Esse estudo demonstrou que nenhum deles fez menos do que 15% de cesáreas e 77% deles ostenta a taxa de 0 (isso mesmo, zero) partos normais no ano de 2014.
Esse cenário também provém de uma cultura “medicocêntrica”, que prioriza o atendimento pelos médicos em detrimento das enfermeiras obstetras e obstetrizes, chegando a impor por via de regulamentação oficial a restrição de que procedimentos simples antes realizados por outros trabalhadores da saúde sejam realizados apenas por médicos. Intensificando, assim, a medicalização do parto. A presença do médico deveria se dar apenas em casos de risco para a mãe ou para o bebê onde haja realmente uma necessidade de intervenção. Por outro lado, é preciso valorizar o trabalho de enfermeiras obstetras e obstetrizes, que muitas vezes tem um conhecimento e experiência maiores quando se trata de partos normais sem intervenção e menos dolorosos. O papel da Doula é completamente subvalorizado e muitas vezes é negado até mesmo o acompanhante, ignorando a importância da situação psicológica da mulher na hora do parto.
Apesar de importantes iniciativas de humanização do parto, o acesso a essa prática e mesmo ao debate ainda se restringe a alguns setores de mulheres, em geral de classe média e branca. A grande maioria das mulheres trabalhadoras enfrenta dificuldade de conseguir até mesmo o atendimento pré-natal pelo SUS. O ministro golpista Ricardo Barros criou um grupo de trabalho com os empresários dos planos de saúde para organizar a privatização da saúde impondo que todos os trabalhadores paguem pela saúde, impulsionando a saúde privada em detrimento do direito à saúde pública e universal. Isso dificultará ainda mais o questionamento da lógica privada, da medicina do capitalismo, na realização do parto, esse momento tão especial para as mulheres.
A luta pelo direito de todas as mulheres decidirem sobre seu corpo e seu parto é uma luta contra os interesses dos empresários da saúde. O SUS foi uma conquista das lutas populares e dos trabalhadores, mas sua gestão foi conduzida por um Estado capitalista que ao mesmo tempo impulsiona a medicina privada. As trabalhadoras da saúde, as mulheres usuárias precisam ter o controle da organização do sistema publico de saúde, junto aos trabalhadores e usuários, garantindo à mulher o poder de decisão sobre seu corpo.
Frente a isso, construímos uma candidatura que luta em ruptura com o capitalismo. Veja as propostas de Diana Assunção:
Contra a privatização do SUS. Por um sistema de saúde 100% público e universal, controlado pelos trabalhadores da saúde e usuários.
Basta de violência obstétrica e medicalização do parto! Que as mulheres possam decidir sobre seu corpo e como querem realizar seu parto.
Contratação de obstetrizes, enfermeiras obstétricas e doulas na rede do SUS.
Pleno direito à maternidade. Basta de violência obstétrica e de imposição de procedimentos cirúrgicos nos partos.
Garantia dos equipamentos e profissionais necessários para que a mulher possa optar pelo parto domiciliar.
Direito à maternidade, garantindo acompanhamento no SUS do pré-natal e do puerpério.