Isso porque toda sua “base aliada” direitista passou para o outro lado, traindo a presidenta Dilma e aprovando a abertura do impeachment.
Foto de Ministério das Relações Exteriores (CC by-nd/2.0/) - Dilma Rousseff na ONU em 2011.
A cúpula do PT, seus deputados e senadores, como classicamente faz toda “frente popular” (não confundir com a Frente Brasil Popular), apostam agora todas suas fichas nas ilusões “democráticas” do Estado burguês e acreditam na saída parlamentar, negociada com a direita. Para a cúpula do PT é possível que o golpe parlamentar seja barrado dentro do Senado Federal. Isso porque para eles o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB) seria diferente do presidente da Câmara dos Deputados, o ultra-reacionário e evangélico, Eduardo Cunha.
Os senadores petistas reconhecem que a situação da presidenta, em suas próprias palavras, é muito difícil, mas não “irreversível”. A avaliação geral da cúpula do PT é de que, apesar do momento adverso, o governo tem chances de impedir o afastamento de Dilma no Senado, por meio de um conchavo com a direita. Ou seja, Renan Calheiros poderia levar a discussão do impeachment no sentido de garantir um processo mais longo e que possa dar tempo para que o governo Dilma e o PT “armem suas defesas”.
Segundo os petistas, Renan Calheiros seria um adversário histórico de Michel Temer dentro do PMDB e, por isso, conduziria as votações de forma “diferente”. Ou seja, novamente temos “mais do mesmo” do ultra-cretinismo parlamentar. A saída continua sendo os acordos com a direita que “dispensariam” uma forte mobilização das massas, o que implica no risco da perda do controle social.
Escala o cretinismo parlamentar da “frente popular”
Outro elemento levantado pela cúpula do PT é de que a oposição, na Câmara dos Deputados, não teve a esperada votação acachapante e que, no Senado, a discussão, supostamente, recomeçará. As ilusões na “democracia” tupiniquim equivalem a acreditar em contos de fada. Nos últimos meses, o PT alegava que teria condições de vencer na Câmara dos Deputados e dava como favas contadas que no Senado a derrota era inevitável. Como, após a derrota do governo, que, supostamente, deveria ter sido uma vitória, houve a mudança em cima das mesmas premissas falidas?
O Senador do PT do Rio Grande do Sul, Paulo Paim, chegou a fazer declarações públicas no sentido de não acreditar no avanço do impeachment no Senado. Isso porque para ele ninguém conseguirá atingir os dois terços necessários para aprovar a proposta contra a presidenta, a não ser por acordo. No entanto, o Senador reforça que “quem fizer acordo oportunista dançará”. Acredite quem quiser.
Para reunir os votos necessários, entre as apostas, está a de conquistar apoios de partidos que já foram da base aliada do governo e que votaram, na Câmara, majoritariamente contra Dilma, como foi o caso do PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf, e do PSB (Partido Socialista Brasileiro).
Em caso de uma nova derrota no Senado, as ilusões da cúpula do PT não acabarão. Já sonham que o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, poderá considerar o impeachment improcedente e por isso haveria mais uma chance de ser barrado pelas vias institucionais. E mesmo sendo derrotados, a direção do PT discute a possibilidade de encurtar o mandato da presidenta Dilma e chamar novas eleições presidenciais em outubro junto com as eleições municipais. Uns verdadeiros “mestres” dos malabarismos da “democracia” burguesa.
Mais uma vez, a política assumida por Dilma e toda a direção petista é a de minar a luta aberta contra o golpe e o avanço da direita e reforçar a campanha de “pressão aos parlamentares”, retirando a luta do campo do enfrentamento, se necessário direto, com a direita nas ruas, e atuando exclusivamente no campo parlamentar. Essa é mais uma amostra do cretinismo parlamentar, o amor incondicional pela “democracia” burguesa tupiniquim, ultra-limitada, típico das “frentes populares”. Não se pode combater o golpe utilizando as engrenagens do próprio golpe, como o parlamento.
Dilma chegou a recuar em seus pronunciamentos contra o desenvolvimento do golpismo no país. Durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que aconteceu em Nova York, na sexta-feira dia 22 de abril, declarou que o Brasil vive um momento grave e que os brasileiros saberão impedir “um retrocesso”. Dilma encerrou seu pronunciamento sem citar o golpe parlamentar, sem defender seu governo e sem denunciar as arbitrariedades da direita contra o PT. Com essa postura, ganhou elogios até do vice-presidente Michel Temer, uma das principais lideranças golpistas, que disse que o discurso de Dilma foi “adequado”. Ou seja, defensivo e mais uma vez marcado pela capitulação.
A política da cúpula do PT consiste em recuar na denúncia contra o golpe e centra-la na confiança nos acordos com os setores parlamentares direitistas e usar os trabalhadores e a população explorada como instrumento de pressão parlamentar, colocando-os, em definitivo, a reboque de elementos que são muito mais aliados dos golpistas do que do próprio PT.