Cursastes um módulo bilingue em português, Sistemas Operativos em Rede: foi difícil a imersão linguística? Fez-se de maneira paulatina, ou desde já se começou a um nível alto?
David: A integração da língua em si não é assim tão complicada, seria muito mais complexo fazer o mesmo em inglês. O português tem a vantagem de que como é tão similar ao galego… Embora não tenhas conhecimentos básicos dessa língua, o ser galego já te implica ter um alto grau de compreensão. Portanto, é muito mais fácil.
Félix: Não! De facto a Rita (a professora de português) começou a falar português desde o princípio.
D: Vantagens de ser galego…
Então, sem nenhum problema?
F: Problema zero.
Após duas semanas no INETE, achastes diferenças entre o modelo educativo português e o galego?
F: Muda bastante, sim.
D: Sim. O sistema educativo muda bastante de lá para aqui. Tem uma metodologia mais interativa entre alunos e professores, porque também estes podem aprender dos alunos. Discutir um problema, planeá-lo de mil maneiras distintas…
E como foi a imersão linguística? Houve problemas de compreensão?
F: Eu pessoalmente sentia-me um pouco perdido, no primeiro dia, chegas lá e vês-te forçado a falar o idioma, e, claro, ao princípio esbarras um pouquinho, mas ao cabo duns dias já tomas impulso.
Notastes diferenças entre a fala dos professores nas aulas e a dos alunos fora delas?
F: Também é verdade que o idioma é distinto entre alunos a professores, a verdade, porque tinham um pouco mais de gíria fora da aula.
D: Sim.
Quando eu estive lá, como Erasmus, percebi uma descoberta mútua com os portugueses com que entrava em contacto: eu dei-me de conta das nossas semelhanças com eles, e alguns deles deram-se de conta das suas semelhanças connosco, por exemplo quando lhes dizia que palavras como “carvalho” ou “eira” também existiam aqui, perante o qual ficavam espantados. Tivestes experiências semelhantes?
D: Eu tive uma descoberta nesse sentido porque já tivera uma companheira portuguesa neste centro, o São Clemente, Cláudia, dois anos atrás. Já conhecera Santiago, já sabia o que era a Galiza… Mas é o que dizes tu, chegas lá e muitas vezes não sabem o que é um galego quando historicamente estamos ligados! E também é certo que os espanhóis falam muito pouco aos portugueses. Nesse aspeto, os portugueses sabem muito mais dos espanhóis do que os espanhóis dos portugueses.
Passou-vos que vos falavam em castelhano?
D: Não, mas sim em inglês. Perguntavam-nos se preferíamos que nos falassem em inglês e nós dizíamos que não éramos de Madrid, que percebemos melhor o português.
Gostaram da cidade?
F: Gostamos sim, muito bonita.
Suponho que o estágio se fez curto…
F: Sim, em duas semanas fizemos muito, mas a correr. Todos os dias sem parar. Chegávamos a casa muito cansados.
D: Andávamos 10 quilómetros diários, segundo o podómetro do Félix, sem contar o metro!
Considerais que a experiência, tanto pelo facto de fazer um estágio no estrangeiro como pela imersão linguística em português, foi benéfica para o vosso futuro laboral?
F: Sim, tudo o que faças abre portas
D: Sim, toda a formação extraordinária do que queiras fazer, como uma língua, sempre o é. As línguas abrem portas. O inglês que se fala em todo o mundo, mas também o português que se fala em muitos sítios: Portugal, Brasil, Angola… E permite-te ir as empresas de lá que têm, tecnologicamente falando, uns bons investimentos e pode-se aprender muito deles e tirar-lhe muito proveito.
Recomendaríeis a outros alunos do vosso curso que façam o mesmo estágio?
F: Com certeza.
Que descobristes de Portugal, nessas duas semanas, que não conhecíeis com anterioridade?
F: Tudo!
D: Os horários para comer, a barbaridade de falsos amigos que há entre o espanhol, português e galego, o que pensam os portugueses dos espanhóis, o respeito que têm por exemplo no âmbito educativo, são muito respeitosos em comparação com o que ocorre aqui, por exemplo na relação professor-aluno; por exemplo, os telemóveis, que aqui são habituais nas aulas e lá nem te passa pela cabeça… Ou dizer um palavrão… São mais educados.
F: O sistema de ensino, completamente distinto.
D: A gastronomia, uma cultura… Por exemplo as ruas, que são muito coloridas, os azulejos, tudo muito decorado… E muito verde também.