O pessoal de Obama, Bibi acusou, "iniciou essa resolução, defendeu-a sempre, coordenou a redação e mandou que fosse aprovada."
Ben Rhodes, auxiliar da Casa Branca, disse que as acusações não passam de "falsidades".
Seja como for, temos um líder israelense espinafrando nada menos que um presidente dos EUA, denunciando-o com traidor e homem que ataca pelas costas; e a Casa Branca chama Bibi de mentiroso.
Não é questão que se possa descartar como sem importância.
"Ao postar-se ao lado dos inimigos jurados de Israel para fazer aprovar essa imundície destrutiva, viciosa, declaradamente anti-Israel", escreve o Washington Times, "Mr. Obama mostra suas verdadeiras cores."
Problema porém, infelizmente para Israel, é que 'o golpe' foi-lhe aplicado na verdade tanto por "inimigos jurados" como, também por amigos de Israel.
Os EUA abstiveram-se de votar contra, sim, mas Grã-Bretanha, cuja Declaração de Balfour de 1917 levou ao estado judeu na Palestina, e que também derrotaria a Resolução se votasse contra... votou a favor da resolução.
E o mesmo se diga da França, aliada de Israel na Campanha do Sinai-Suez de 1956 para expulsar o Coronel Nasser do Egito, e cujos aviões Mysteres (Dassault) foram imprescindíveis para a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias de 1967. Também poderia ter votado contra e derrotado a Resolução... e votou a favor.
Vladimir Putin, que trabalhou com Bibi e, em retribuição, recebeu o voto de Israel contra as sanções contra a Rússia por causa de Crimeia e Ucrânia, também votou a favor da Resolução que agora enfurece Israel.
O Egito, cujo general Abdel Fattah el-Sisi foi recebido com honras por Bibi depois de seu golpe contra o presidente da Fraternidade Muçulmana, e que colaborou com Bibi contra terroristas no Sinai e Gaza, também votou "sim" à resolução.
China votou "sim", como a Ucrânia. Nova Zelândia e Senegal, ambos países que mantêm embaixadas em Tel Aviv, apresentaram a Resolução para que fosse votada no CSONU.
Apesar dos laços confidenciais mas cada vez mais profundos, de Israel com os estados árabes sunitas que partilham com Israel o mesmo medo que o Irã lhes inspira, nenhum membro do Conselho de Segurança da ONU, um, que fosse, apoiou Israel. Todos votaram contra a presença de Israel na Jerusalém leste árabe e na Cidade Velha. Se a resolução fosse votada pela Assembleia Geral, o voto contra Israel seria unânime, ou quase.
Embora o resultado da votação não mude coisa alguma em campo na Cisjordânia ou em Jerusalém leste onde hoje vivem 600 mil israelenses, terá consequências, nenhuma delas positiva para Israel.
A Resolução dará novo estímulo e fortalecerá o movimento "Boicote, Desinvestimento e Sanções, BDS, contra Israel, que tem forte apoio entre os universitários norte-americanos e os Democratas pró-Bernie Sanders Democrats e na esquerda internacional.
Se Israel não puser fim à expansão das colônias segregacionistas na Cisjordânia, pode agora ser acusada por crimes de guerra perante a Corte Criminal Internacional.
Até os liberais judeus reunidos no lobby "J Street", que apoiam uma solução de dois estados na Palestina – e que o novo enviado de Donald Trump a Israel, David Friedman, definiu como "muito piores que kapos", os guardas judeus nos campos de concentração dos nazistas – já endossaram a Resolução.
Essa bem-sucedida Resolução é também efeito do enfraquecimento do apoio a Israel na cúpula do Partido Democrata, uma vez que um presidente de dois mandatos nos EUA e um indicado como candidato à presidência, o secretário de Estado John Kerry, trabalharam ambos para que fosse aprovada.
Os Republicanos estão tateando, começando a explorar a abertura, denunciando a Resolução e a ONU, e mostrando solidariedade a Israel. Objetivo: tomar o lugar do Partido Democrata como o mais confiável aliado de Israel, e colher os resultados de uma mudança história nas fidelidades políticas a Israel.
O fato de o senador George McGovern ter sido visto como pró-palestinos, permitiu que Richard Nixon recebesse o dobro dos votos de judeus com que contava, entre 1968 e 1972.
O fato de Jimmy Carter ter sido visto como frio em relação a Israel fez com que Ronald Reagan capturasse mais de 1/3 dos votos dos judeus em 1980, a caminho da acachapante vitória que alcançaria, com 44 estados.
O mais importante, é que a aquiescência dos EUA na questão dessa resolução, fecha o cerco contra Bibi, na política doméstica em Israel. Embora visto aqui como falcão de linha duríssima na questão das colônias exclusivas para judeus em territórios palestinos, a ala direita da coalizão de Bibi é de linha muitíssimo mais dura, e exige imediata anexação dos territórios ocupados da Cisjordânia, onde Israel está construindo colônias. Outros há que clamam por renegar o Acordo de Oslo e qualquer ideia de algum dia poder haver um estado palestino.
Se Bibi suspender as construções na Cisjordânia, pode provocar um racha no seu Gabinete, com desafiantes à direita, como Naftali Bennett que disputam o lugar de Bibi.
Nos EUA, a Resolução da ONU é vista pelos Democratas como uma debacle política, e por muitos Republicanos pró Trump, como uma oportunidade.
Senador Chuck Schumer denunciou a ordem de Obama para que a Resolução não fosse vetada, ecoando sentimentos sobre a ONU que só se ouviam dentro da extrema esquerda dos EUA.
"A ONU" disse Schumer, "sempre foi corpo empenhadamente contra Israel desde quando (disse que) 'Sionismo é racismo". E aquele fervor anti-Israel jamais arrefeceu."
O senador Republicano Lindsey Graham disse que exigirá que o Congresso suspenda a doação de fundos à ONU.
Se o pessoal da John Birch Society ainda tiver aqueles bottons – "Tirem os EUA da ONU, e tirem a ONU dos EUA!" – poderiam mandar um saco deles, por FedEx, para Schumer e Graham. Talvez arregimentem crentes novos por ali.
* Benjamin Netanyahu