Por Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado no Rio Grande do Sul, mestre em ciências sociais, responsável pelo Blog Sustentabilidade e Democracia.
Poeta, dramaturgo, romancista, teórico político revolucionário, todos estes adjetivos são apenas algumas das qualificações do Bertolt Brecht. Contudo, acredito que a sua melhor tradução possa ser encontrada nos seus próprios versos: “imprescindível”! Foi por meio da arte que este marxista alemão levou ao mundo muito mais do que versos e prosa, levou a própria essência da luta daqueles que sonham e acreditam na possibilidade de construção de mundo melhor.
Nascido Eugen Bertholt Friedrich Brecht, na cidade alemã de Augsburg, o autor completaria, no último 10 de fevereiro, 109 anos. Mas a sua obra é imortal, transcende críticas e, até hoje, serve de motivação para aqueles que tentam ingressar no mundo das letras. Várias vezes citei Brecht nos meus trabalhos, assim como em muitas e incontáveis vezes bebi da sua sabedoria que, em poucas palavras, era capaz de resolver dilemas de milhares de páginas de literatura política ou filosófica.
Seria impossível, neste artigo, trazer toda a grandeza do trabalho do autor, motivo pelo qual me limitarei a uma síntese.
Nas suas obras de Brecht apresenta forte reflexão política, traduz o seu tempo e demonstra grande espírito crítico, como dos versos de “Intertexto”, “Analfabeto Político”, “Aqueles que Lutam”, “Elogio à Dialética”, dentre outras. Até hoje estes poemas são reiteradamente citados em documentos analíticos da ciência política.
Intelectual de vanguarda, o seu trabalho ultrapassou as barreiras temporais e permitiu a criação de um rico acervo para a interpretação dos conflitos que oprimem a sociedade contemporânea:
“[…]
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
[…]”
Demonstra de forma clara as contradições da sociedade, e como a linguagem e o discurso dominantes são utilizados para legitimar o status quo:
“A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contem
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as bétulas
E tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua? ”
Em “Ensina-me”, o poeta e dramaturgo chegou a rogar que na sua velhice encontra-se um moço que o deixasse ensinar. Mal sabia ele, que as suas obras encontrariam várias gerações dispostas a ouvi-lo, demonstrando uma essência convidativa retratada em seus versos:
“Quanto tempo
Duram as obras? […]
Convidando ao esforço
Compensando a participação
A sua essência é duradoura enquanto
Convidam e compensam”…