Como explicado pelo Bulletin, em 1947 este concebeu o Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) "utilizando a imagem do apocalipse (meia noite) e a linguagem da explosão nuclear (contagem até zero) para comunicar ameaças à humanidade e ao planeta".
A cada ano "a decisão de mover (ou deixar estático) o ponteiro do minuto do Relógio do Juízo Final é tomada pelo Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin em consulta com o seu Conselho de Patrocinadores, o qual inclui 15 prémios Nobel". Em 1953 o Relógio estava a dois minutos da meia-noite. Nos piores anos da guerra fria estava nos 3 minutos para a meia-noite quando, em 1984, foi registado que as "relações dos EUA com a URSS atingiram o seu ponto mais gélido em década. O diálogo entre as duas super-potências virtualmente cessou. Todos os canais de comunicação foram reduzidos ou fechados; toda forma de contacto foi atenuada ou desligada..."
E agora, em 2017, é evidente que canais de comunicação com a Rússia estão a ser deliberadamente desligados – e os ponteiros do Relógio do Juízo Final foram colocados a apenas dois minutos e meio da meia-noite.
O desastre assoma.
E quando ele assoma, o Senado dos Estados Unidos está a agravar a sua abordagem confrontacional global e anunciou que pretende penalizar a Rússia por um certo número de supostos delitos.
O senador Lindsey Graham disse à CBS News que o Senado "punirá a Rússia por interferir nas nossas eleições" – alegação a respeito da qual não foi fornecido nem um farrapo de prova por qualquer pessoa. Investigações amplas estão em curso, naturalmente, mas pode-se assegurar que se houvesse o mais ligeiro, mínimo ou microscópico bocado de prova real de qualquer interferência, ele teria sido revelado aos media e fariam a manchete dos noticiários.
O senador Graham ultrapassou-se a si próprio dizendo ao presidente Trump, via CBS News , que "Você é o comandante em chefe. Você precisa enfrentar a Rússia. Nunca iremos restaurar nosso relacionamento com a Rússia enquanto não a punirmos por tentar destruir a democracia. E isto começa com mais sanções".
Então o entrevistador da CBS trouxe à tona o assunto dos muitos inquéritos quanto às alegações de trama Trump-Rússia e mencionou que um democrata dissera que as investigações eram uma "expedição de pesca... Qual a sua resposta a isto?"
O senador respondeu : "Isso não é assunto seu. Estamos a fazer o que pensamos que é melhor. Os russos interferiram na nossa eleição. Eles estão a fazer isto por todo o mundo. Nenhuma prova ainda de que a campanha de Trump conluiuou-se (colluded) com os russos. Não acredito que o presidente tenha conspirado com os russo, simplesmente por causa do modo como se comporta. Há evidência zero de que o presidente Trump tenha feito qualquer coisa errada com os russos. Há evidência esmagadora de que a Rússia está a tentar destruir a democracia aqui e no exterior. E se você perdoar e esquecer Putin, está a obter mais do mesmo e estará a atiçar o Irão e a China a virem em 2018 e 2020".
O Senado dos EUA acredita que há "evidência zero" de que o presidente Trump tivesse ajuda da Rússia na sua campanha eleitoral – o que é verdade – mas também pensa que há "evidência esmagadora" de que a Rússia está a tentar influenciar a votação na América, embora não haja nem um farrapo de prova quanto a isso.
O senador fala com a autoridade, força e majestade do Senado dos EUA e o mundo tem de aceitar que os seus pronunciamentos representam as vontades dos legisladores da sua poderosa nação que tenta impor sanções mais duras sobre a Rússia. Como observou a [revista] Forbes, a nova lei "pune firmas russas de petróleo e gás ainda mais do que o actual regime de sanções... A Rússia não tem amigos no Capitol Hill".
É intrigante que as sanções sejam centradas sobre a produção de petróleo e gás e a Bloomberg informou que a Alemanha e Áustria consideram que "as medidas procuram reforçar interesses económicos dos EUA e incluem uma intervenção inaceitável no sector energético da região". Numa manifestação sem precedentes – na verdade, uma explosão – de desaprovação, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Sigmar Gabriel, e o chanceler da Áustria, Christian Kern, disseram numa declaração conjunta que "o abastecimento de energia da Europa é uma matéria para a Europa, não para os Estados Unidos da América... instrumentos de sanções políticas não deveriam ser ligados a interesses económicos" e que a emenda do Senado anunciava uma "qualidade nova e muito negativa nas relações europeias-americanas".
Como informou o Financial Times de Londres, "as sanções à Rússia esboçam uma oposição ao Nord Stream 2, um gasoduto que duplicará a capacidade da Gazprom... de fornecer gás à Europa sob o Mar Báltico. As medidas poderiam afectar companhias de energia europeias, incluindo a Shell, Engie e OMV, as quais estão a financiar o gasoduto. As acções das quatro companhias afundaram na quinta-feira".
A missão de destruição lucrativa de Washington foi parcialmente alcançada, mas é aqui que se chega à essência da questão. A parte da Lei das Sanções (Sanctions Bill) envolvendo a Rússia foi um acréscimo a uma série de medidas vingativas contra o Irão, mas pareceu uma boa ideia sanção também a produção de petróleo e gás da Rússia, pois ninguém se beneficiaria mais com isso do que companhias de petróleo e gás dos Estados Unidos.
A Bloomberg explicou que o gasoduto Nord Stream "competiria com exportações de gás natural liquefeito dos EUA para a Europa". E o Senado deixou claro que o governo dos EUA "deveria priorizar a exportações de recursos energéticos dos Estados Unidos a fim de criar empregos americanos, ajudar aliados e parceiros dos Estados Unidos e fortalecer a sua política externa".
É difícil ver como a arrogante intromissão do Senado pode "ajudar aliados e parceiros" mas aqueles na América que possuem recursos energéticos e querem continuar a ganhar vastos lucros continuam a ajudar seus aliados e parceiros no Senado e na Câmara. Sem o seu apoio financeiro, muitos legisladores nunca teriam ido para Washington.
Como registado por Open Secrets , companhias estreitamente associadas à produção de petróleo e gás deram a políticos dos EUA mais de 50 milhões de dólares em 2015-2016 a fim de ajudar a sua democrática eleição.
Principais contribuidores, 2015-2016
E o senador Lindsay Graham recebeu uma grande soma de dinheiro de muitas organizações comerciais, encabeçadas pela Nelson Mullins , cujos US$254.247 entre 1993 e 2016 sem dúvida ajudaram-no seu caminho. A Nelson Mullins, a propósito, tem advogados que "têm experiência em aconselhar fornecedores de electricidade e de pipelines em questões legais". Ele obteve US$175.605 da SCANA , a qual é "uma companhia holding de US$9 mil milhões com sede em Cayce, Carolina do Sul... Seus negócios incluem... operações de gás natural e outros negócios relacionados com energia". Outro dos generosos patrocinadores do senador Graham é a Fluor Corparation (US$94.801), a qual "entende os factores críticos de sucesso que guiam a produção de petróleo e gás e os negócios de terminais, providenciado soluções práticas para maximizar projectos de investimentos".
Para estas pessoas, ou para os legisladores que elas compraram com os seus donativos, não importa que o Relógio do Juízo Final tenha ficado mais próximo da meia-noite do Armagedão e que a abordagem hostil dos Estados Unidos esteja a alienar uma nação orgulhosa que tem limites antes de reagir à confrontação agressiva de Washington. A hipocrisia falaciosa dos legisladores dos EUA é lendária, mas é a sua cobiça e arrogância que são preocupantes.
Enquanto o senador Graham dançava ao ritmo dos seus anjos petrolíferos, o Washington Post informava que sete por cento dos adultos americanos acreditam que o leite chocolatado provém de vacas castanhas. Por outras palavras, "16,4 milhões de bebedores de leite mal informados". O representante da FoodCorps , a qual estimula a alimentação sensata, disse que isto era lastimável e "Nós ainda encontramos crianças que ficam surpreendidas porque as French fry são feitas com batata, ou porque o picles é feito com um pepino. Conhecimento é poder. Sem ele, não podemos tomar decisões informadas.
Tal como o Senado dos EUA.
Ver também:
Corrupt US Senate Pushes America Toward War With Russia And Europe , Paul Craig Roberts
[*] Veterano das forças armadas da Grã-Bretanha e Austrália, antigo vice-chefe da missão militar da ONU em Cachemira e adido de defesa australiano no Paquistão.