O presidente chinês Xi Jinping discursou numa grande reunião do Partido Comunista da China, preparatória para o próximo 19º Congresso Nacional do PCC.Em discurso de vasto alcance, o presidente Xi disse que a China deve reafirmar e acentuar tanto suas características chinesas como as tradições socialistas do PCC. Segundo a mídia chinesa, Xi insistiu em que "o socialismo com características chinesas tem sido o tema de todas as teorias e práticas do Partido, desde a reforma e abertura de 1978".1978 foi o início de reformas internas marcantes e decisivas na China introduzidas por Deng Xiaoping, que foi Líder Exemplar da China entre os anos 1978 e 1989. Durante esse tempo, a China abraçou um programa que Deng chamou "socialismo de mercado".Nas palavras de Deng,
"Não existe contradição básica entre o socialismo e a economia de mercado".
Essa noção subjaz às reformas pragmáticas que levaram ao boom econômico chinês, o qual por sua vez levou o país a se tornar uma superpotência econômica global, já em condições de deslocar completamente os EUA também nas áreas em que ainda não o fez.Essa é realidade que até a diretora do FMI Christine Lagarde já reconheceu e enunciou recentemente, ao confirmar que é provável que o FMI mude sua sede principal, dos EUA para a China, na linha de que o Fundo deve ser localizado em território da maior economia do mundo.O milagre econômico chinês foi realizado sem qualquer modificação nem em seu sistema político nem em sua política exterior independente.Já escrevi aqui em The Duran sobre o crescimento positivo da China, que se pode explicar a partir da liderança e dos princípios de Deng Xiaoping:
"Deng é o exemplo perfeito de líder que faz reformas moderadas, mas com empenho e zelo revolucionários. Muito frequentemente se veem em outros países governos que fazem exatamente o contrário disso. Na União Soviética, Gorbachev e seu braço direito Alexander Yakovlev introduziram reformas antipatrióticas que levaram à desintegração ilegal da União Soviética e ao caos na economia que se viu nos anos 1990s, quando um capitalismo de oligarcas piratas destruiu um dos estados mais prósperos da história. A URSS poderia ter sido salva facilmente se aparecesse por lá um Deng russo, em vez de a Rússia acabar-se nas mãos de Boris Yeltsin, traidor e beberrão seduzido pelos sistemas econômicos incompatíveis do 'ocidente'.Deng Xiaoping soube evitar os piores excessos dos dogmas ideológicos de Mikhail Gorbachev, Yakovlev e adiante também de Yeltsin, porque se concentrou não em demandas de estrangeiros ou em ditas necessidades do povo russo erradamente avaliadas e consideradas, mas porque, diferente disso, se concentrou nas necessidades práticas da economia e no poder da força de trabalho chinesa, até então jamais posta a serviço dos próprios chineses.Com isso, inaugurou uma nova era de prosperidade e de felicidade como a nação jamais conhecera, e que o primeiro-ministro chinês [1949-1958] Zhou Enlai defendera por algum tempo depois da morte de Mao.Ao combinar reformas de mercado num plano local e regional, com supervisão estatal num plano nacional, a China tornou-se um país que gera capital internamente e também via compromissos e negócios internacionais. O país conseguiu isso sem jamais perder de vista a imperiosa necessidade de regular aquele capital e submetê-lo a gestão que jamais perca de vista a soberania da China.Deng está hoje consagrado, pelos sucessos contemporâneos da China. Muito diferente disso, o 'ocidente' 'globalista' fracassou miseravelmente. A criatividade econômica do trabalhador foi esmagada, os empregos desapareceram, salários e padrão de vida foram destruídos –, ao mesmo tempo em só as grandes empresas transnacionais enriqueciam, e desmesuradamente. Hoje, até entre os 1% mais ricos, muitos já percebem que até a 'utilidade' deles vai sendo aos poucos substituída por inteligência artificial".
Desde as reformas de Deng, o projeto mais ambicioso da China está em andamento hoje, na era Xi. Em 2013, menos de um ano depois de assumir o governo, o país de Xi anunciou sua iniciativa "Um Cinturão, Uma Estrada", para criar uma ultramoderna infraestrutura global de comércio, por vias terrestres e marítimas, que ajudarão a harmonizar o comércio mundial a partir da cooperação multilateral entre estados plenamente soberanos. A iniciativa está ainda nos estágios iniciais, mas a alta probabilidade de que o modelo chinês de sucesso chegue a outras áreas de Ásia, Eurásia, África e Europa já preocupou os EUA – que não são sócios da empreitada multilateral.Tudo isso ajuda a explicar o que Xi tinha em mente quando disse às autoridades do Partido Comunista Chinês que
"Todo o Partido deve lembrar que o que estamos construindo é socialismo com características chinesas, não algum novo '-ismo'".
Xi aí respondeu a todos os chineses que suponham que algum modelo ocidental tenha a chave do futuro da China; também respondeu aos que, no ocidente, tentam seduzir a China e induzi-la a abandonar seu modelo de governança soberana – como já fizeram com a frágil liderança russa de Gorbachev e seu braço direito Alexander Yakovlev.A China aprendeu muito não só da própria experiência, mas também do que aconteceu na Rússia e nos EUA. No caso da Rússia, o experimento fracassado de aplicar lá um modelo socioeconômico norte-americano nos anos 1990s devastou o país e o envergonhou, por causa de uma crise artificialmente criada de refugiados. Só depois, sob a liderança do presidente Vladimir Putin, a Rússia conseguiu afinal reverter a parte pior das 'reformas' implantadas nos anos 1990s. É lição que a China observou muito cuidadosamente. Assim o país evitou os perigos mortais em que a Rússia foi colhida nos anos tenebrosos de Yeltsin.Mais recentemente, a China aprendeu também dos EUA, cujo modelo político resultou numa Washington mortalmente dividida e fragmentada, cujos escândalos se sucedem expostos mundialmente. O chamado escândalo "russiagate", sem qualquer prova e absolutamente sem substância é apenas mais um dentre os incontáveis escândalos em 'andamento' nos EUA.Com o país já mobilizado para ultrapassar os EUA como a mais poderosa economia do mundo, é visível que a China conseguiu o equilíbrio objetivamente correto.Nesse sentido, o discurso de Xi foi sinal de advertência, para que não haja desvios e todos mantenham o rumo. Mas, mais que isso, Xi também está conclamando o Partido Comunista Chinês a defender com mais firmeza, em tom menos humilde ou apologético, o extraordinário modelo chinês – que hoje todo mundo inveja.