Nos últimos anos, os terroristas tinham atentado contra as forças de segurança, turistas, igrejas, ativistas laicos, e inclusive contra um aviom de passageiros russo, matando 224 pessoas. Esta é a primeira vez que as suas bombas rebentam numha mesquita, que além disso é sunita, o ramo do islám que professa o “yihadismo” que opera no Egito. Nada estranho: os seus companheiros no Iraque, Síria, Afeganistám, Paquistám, Somália, Rússia, EUA ou Europa matam de forma indiscriminada. Que a mesquita fosse freqüentada polos sufitas nom tem nada que ver com o objetivo estratégico dos autores intelectuais do massacre. O sufismo foi a primeira dissidência no Islám, embora fosse elaborado sobre os fundamentos do culto ao Sol persa, proclamando igualdade, amor livre, paz e irmandade, no seu processo de evoluçom integrou diferentes elementos das antigas filosofias e religions de Oriente Próximo. Um dos pais ideológicos desta escola, Yalaleddin Rumi, o poeta iraniano (s.XIII), foi quem introduziu a dança e a música num Islám dominado polos fanáticos e o seu culto à morte e tristeza. Os sufitas viviam como os hippies nas abadias (palavra persa que significa «oásis»), fugindo do clérigo hipócrita e corrupto. Umha perseguiçom que continua até hoje.
Terrorismo de estado
Como resposta do atentado, o presidente golpista Abdelfatah Al Sisi bombardeou as áreas montanhosas de Bir a o-Abed, matando um número indeterminado de pessoas. O apagom informativo impede conhecer a identidade real das vítimas. Sem dúvida, a política contrainsurgencia da o Sisi fracassou e o alto número de “terroristas” detidos ou assassinados é a sua prova.
Em 2015 e durante uma operaçom supostamente contra o contrabando polos túneis que ligam o país com Gaza, o exército deu só 48 horas aos habitantes para abandonarem os seus lares, depois destruiu umhas 1500 casas e arrasou centenas de hectares de terras de cultivo. Desde a desemprego do Sinaí por Israel em 1982, a repressom e a discriminaçom das suas 1.4 milhons de habitantes beduinos foram a tónica geral. O regime mafioso de Mubarak obrigou-nos a vender as suas terras para as revender aos construtores de hotéis de luxo, sumindo-os numa profunda pobreza, analfabetismo e desemprego. O qual obriga a muitos jovens a sobreviver do contrabando de diferentes artigos, em que obviamente está envolvida a própria polícia. Ainda assim, o terrorismo “islámico” nom é fruto da exclusom dos mussulmanos. O Estado Islámico que converteu a capital do norte do Sinaí, al Arish, no seu quartel-geral.
A principal preocupaçom dos generais no Sinaí é proteger a segurança de Israel, nom a vida e o bem-estar dos egípcios que o povoam.
No resto do país, milhares de académicos, ativistas seculares e de grupos religiosos moderados, jornalistas, intelectuais, parlamentares independentes e empresários opositores fôrom presos em todo o país sob a rentável bandeira da “luita contra o terrorismo”. Entre 2013 e 2017, cerca de 60.000 pessoas fôrom encarceradas e torturadas. As forças reacionárias de direita, seculares ou islamistas, ocupam o cenário político e, enquanto se unem para atacar os intelectuais e partidos laicos progressistas, luitam entre eles para tomarem conta de um espaço maior.
Egito, além de extensos desertos, num tratado de paz com Israel, dous vizinhos em guerra: Sudám e Líbia, dous grandes campos de gás Zohr e Nooros situados no Mediterráneo oriental, e umha oligarquia de militares e homens religiosos, indiferentes para as necessidades básicas da populaçom como a morada, emprego ou uma educaçom acessível. Após gastar 10 mil milhons de dólares na compra de armas desde 2014, Al Sisi inaugurou em julho a base militar maior no Oriente Próximo na costa mediterránica do país e seguiu bombardeando o Iémen, junto a outros membros da coligaçom dirigida polos EUA-Arábia Saudita, convertendo no cúmplice da maior crise humanitária do mundo que matou dezenas de milhares de iemenitas.
Autores intelectuais do atentado
Obviamente, o objetivo de grupos como “Ansar Bayt al-Maqdis”, ou “Tawhid wal-Jihad”, que fam parte do exército de mercenários cujas diferentes subgrupos estám contratados por diferentes países, nom é conquistar o Egito nem derrocar o seu governo, mas si influir sobre as suas decisons. Entre os seus possíveis patrocinadores, encontram-se:
A Irmandade Mussulmana (IM): que depois do golpe de estado de al Sisi contra o dirigente deste grupo, o presidente Mohammad Mursi, foi ilegalizada e duramente perseguida. Ante a progressiva perda de legitimidade do regime e do exército, a IM tenta recuperar a sua posiçom política.
Turquia: o país governado pola IM de Tayyeb Erdogan. Há uns dias, o Egito parou a 28 pessoas acusadas de espiar para Ancara, e no ano passado condenou o genocídio arménio de 1915 a mãos dos turcos otomanos apesar de que no próprio Egito há matanças dos cristãos coptos sem que o regime faça nada. Ao Sisi tinha pedido aos seus aliados no Golfo Pérsico que incluíssem a Turquia no mesmo pacote de castigos e multas que impuseram a Catar.
Catar, outro país governado pola IM e que, tal como a Turquia, é um dos patrocinadores do Estado Islámico e as suas sucursais. Doha deu asilo a vários líderes da IM procurados polo Egito, permitindo-lhes denunciar a ditadura egípcia a partir do Canal de Al jazeera.
Arábia saudita, que concorre com o Egito pola hegemonia do mundo árabe. Apesar de Riad ter financiado o golpe de estado de al Sisi, o general negou-se a enviar tropas ao Iémen e à Síria, os dous países que juntamente com o Iraque e o Egito compartilhavam o “nacionalismo árabe” secular, participando no fracasso dos xeques nessas guerras. A Arábia nom tem o poder do Egitom mas si muito dinheiro para continuar a utilizar o terrorismo “jihadista” polo mundo contra os seus rivais e inimigos.
Os EUA que, dentro do seu projeto de reconfigurar o Oriente Próximo à sua medida, pretende acabar com outro peso pesado árabe, após ter destruído o Iraque, Líbia e Síria; nom seria a primeira vez que utilize o terrorismo jihadista. Em 2011, Obama, que tivo umha complexa relaçom com o islám político, apoiou a IM, enquanto a política do magnata Trump se centra em vender produtos militares a torto e a direito: “Os egípcios nom trabalharam estreitamente connosco no norte do Sinaí”, queixava-se Stuart Jones, ex subchefe de missom da Embaixada dos EUA no Cairo. “Isto [o atentado] só mostra que os egípcios precisam a nossa ajuda com o treino e o equipamento para vencer as insurgências”. As tropas dos EUA estám presentes no Sinaí para protegerem Israel e vigiarem os movimentos da Rússia na regiom, nom para luitar contra o terrorismo. Os generais recebem 1.3 mil milhons de dólares por ano numha ajuda militar dirigida a proteger os interesses de Washington na zona.
Israel, que através do diretor do “centro de estudos estratégicos” de Israel, Efraim Inbar, adverte que destruir o terrorismo “jihadista” é um erro e “loucura”, já que “a existência continuada do Estado Islámico serve aos nossos interesses”. É vemos como os “jihadistas” nom atacam interesses israelitas: até o terrorista chamado “O cordobês” prometeu “(re)conquistar Espanha” e o seu extenso território, mas nom as terras palestinianas ocupadas por um diminuto Israel. Será que a simpatia é mútua.
O terrorismo de Estado, a ditadura capitalista, e o terrorismo do exército “jihadista” retroalimentam-ase para afundar outro país do Mediterráneo num caos generalizado e cuja principal conseqüência é um Egito enfraquecido.