Em um tempo no qual mentiras e informações distorcidas influenciam eleições presidenciais e alimentam disputas de ódio na sociedade, um homem foi preso por disseminar a verdade e revelar fatos que governos poderosos querem esconder. É assim que o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, professor adjunto da Universidade Federal do ABC (UFABC), analisa a prisão de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, nesta quinta-feira (11), em Londres.
“Ele não foi preso por disseminar fake news ou desinformação em massa, foi preso por disseminar a verdade em massa. Ou seja, o WikiLeaks mostra aquilo que o poder, principalmente o poder norte-americano, quer esconder”, afirma Sérgio Amadeu, em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
Assange foi capturado dentro da embaixada do Equador na capital inglesa, onde estava asilado desde 2012, quando o ex-presidente equatoriano Rafael Corrêa lhe deu abrigo. Porém, o atual presidente do país sul-americano, Lenín Moreno, mudou a posição adotada até aqui pelo governo e autorizou a polícia britânica a entrar na embaixada e prender Assange.
Para Sérgio Amadeu, a prisão do fundador do WikiLeaks é mais uma evidência das transformações políticas no mundo com o avanço da extrema-direita, inclusive na América do Sul, onde o presidente do Equador age como “serviçal” dos interesses estratégicos dos Estados Unidos.
“Essa mudança que está acontecendo na geopolítica internacional fulminou o WikiLeaks e seu líder. Há algum tempo os Estados Unidos têm armado um processo muito parecido com o que aconteceu com o Lula aqui no Brasil. Criaram uma criminalização absurda do Julian Assange e ele não pode sair da embaixada do Equador e ir para o aeroporto num carro diplomático para viajar até o Equador há sete anos. A Inglaterra violou os tratados internacionais para atender aos interesses estratégicos dos Estados Unidos”, explica o sociólogo, enfatizando que até mesmo uma decisão da ONU considerando Assange um perseguido político foi ignorada.
“E o desfecho é esse, o atual presidente do Equador, um capacho dos Estados Unidos, mandou a polícia entrar na embaixada. É uma farsa sem tamanho. Eles querem levar Julian Assange para Guantánamo ou alguma prisão onde a pessoa não é acusada formalmente, onde a pessoa inexiste como cidadão, e então os Estados Unidos promove aquilo que é uma técnica antiga, a tortura e a desmoralização da pessoa. Eles ensinaram essas técnicas para as ditaduras da América do Sul e continuam praticando nas suas prisões fora e dentro do território americano”, analisa Sérgio Amadeu.
Ele destaca que o Wikileaks surgiu para revelar aquilo que as grandes estruturas de poder escondem. E cita como exemplo o vídeo de 2007 em que mostra um helicóptero dos Estados Unidos disparando tiros contra civis no Iraque, inclusive crianças e dois jornalistas da agência de notícias Reuters, matando no total 12 pessoas, assim como o caso de espionagem dos Estados Unidos contra autoridades brasileiras, como a ex-presidenta Dilma Rousseff.