As actuais guerras africanas têm um traço comum: a ingerência estrangeira. É velha a estratégia imperialista de fomentar conflitos armados e divisões étnicas e religiosas para melhor dominar os povos e explorar as suas riquezas».
É assim na Líbia, produtora de petróleo, onde os diversos governos, parlamentos, exércitos, milícias armadas e grupos terroristas recebem «ajudas» em armas e dinheiro tanto de «democráticos» governos ocidentais como das reaccionárias monarquias árabes. Líbia onde, cinco anos após a destruição do país pela intervenção da NATO, volta a haver bombardeamentos aéreos pelos norte-americanos e, onde, no terreno, proliferam tropas especiais estado-unidenses, britânicas, francesas e italianas...
Ainda no Norte de África, a par da acção de bandos terroristas, desde o Sinai até ao Sul da Argélia, mantém-se o domínio colonial de Marrocos, aliado dos EUA e do Ocidente, sobre o Saara Ocidental, impedindo pela ocupação militar o povo saarauí de exercer o seu direito à autodeterminação e independência.
Mais a Sul, na faixa saheliana, de onde irradiam em várias direcções jihadistas e traficantes, a guerra continua centrada no Mali, ocupado por forças francesas e «instrutores» europeus. Para o controlo desta região e da África Ocidental, Paris dispõe de um dispositivo militar com quartel-general em Djamena, no Chade, além de mais tropas e bases em outras capitais, de Niamey a Dakar.
Há também guerras abertas ou encobertas e tropas estrangeiras – em alguns casos em missões da União Africana ou das Nações Unidas – na zona Leste da República Democrática do Congo, na República Centro-Africana, no Darfour sudanês e no Sudão do Sul.
Na África Ocidental, a Nigéria, exportadora de crude e segunda potência económica do continente, enfrenta alguns movimentos separatistas e assiste, no Nordeste, à regionalização da guerra movida pelos terroristas do Boko Haram, a qual provocou o envolvimento dos exércitos do Níger, dos Camarões e do Chade, apoiados por Paris e Washington.
Na África do Leste, além da existência de bases militares estrangeiras no Djibuti, uma ameaça à paz, as acções do Al-Shabab, na Somália, atingem aquele país, onde há forças da União Africana e tropas norte-americanas, e o vizinho Quénia.
Eleições e crises
A par da continuação de guerras, multiplicam-se em África as crises políticas, que, aliás, não são exclusivas deste continente.
A mais recente surgiu na Zâmbia, onde o presidente cessante Edgar Lungu, da Frente Patriótica, foi reeleito na primeira volta, com 50,3 por cento dos votos e uma pequena margem sobre o mais forte opositor, Hakainde Hichilema, que obteve 47,6 por cento. Este denunciou ter havido «fraude» no processo eleitoral e prometeu impugnar os resultados na justiça zambiana.
Já na Guiné-Bissau os problemas são antigos. Partido mais votado nas últimas eleições, o PAIGC viu demitido o seu governo pelo presidente da República. Formou-se um novo executivo, com apoios de deputados dissidentes do PAIGC e do maior partido da oposição. Mas o parlamento não aprova o programa de governo e a crise prolonga-se, gerida de forma pacífica nas instâncias políticas e jurídicas nacionais.
Também São Tomé e Príncipe teve eleições presidenciais, mas à segunda volta concorreu apenas um candidato, Evaristo de Carvalho, apoiado pelo partido governamental. O opositor, Pinto da Costa, presidente da República cessante, recusou-se participar num processo que considerou «viciado» e «repleto de ilegalidades». Os resultados estão a ser contestados nos tribunais santomenses.
Mais grave é o que acontece em Moçambique. As eleições gerais de Outubro de 2014 foram ganhas pela Frelimo mas o principal partido da oposição, a Renamo, não aceitou os resultados, apesar de validados pelos órgãos eleitorais do país e por observadores internacionais.
O seu líder, Afonso Dhlakama, que nunca venceu qualquer eleição, pretende governar seis províncias onde, considera, o seu partido teve mais votos. Não tendo sido aceite tal exigência, a Renamo, ainda que participando da vida política institucional, com os seus deputados no parlamento, lançou uma série de acções armadas no centro do país, atacando alvos civis.
Em Maputo, em conversações com o governo e a Renamo, há mediadores internacionais que tentam nestes dias avistar-se com Dhlakama, refugiado em «lugar seguro» na serra da Gorongosa, cercada pelas forças armadas moçambicanas.
Este artigo foi publicado pelo jornal Avante!