Há 152 anos, em 28 de setembro de 1864, em Londres, numa reunião pública com diversos representantes de sindicatos e organizações socialistas de países europeus, Karl Marx e Friederich Engels liam a mensagem que fundaria a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), a primeira organização de inspiração socialista que visava organizar e orientar a luta de classes nos países onde o capitalismo avançava.
No manifesto lido por Marx e Engels, deve- se destacar duas questões fundamentais à época e atuais para o devida compreensão da classe trabalhadora no processo histórico.
A 1ª questão, merece o destaque ao rigor meticuloso com que Marx e Engels trataram os dados coletados a partir das notas do Governo Britânico sobre a economia e a distribuição de renda entre os ingleses, assim como o cuidado extremo em interlaçar esses dados aos efeitos da contraditória sociedade inglesa, demonstrando didaticamente, a inevitabilidade da concentração de riqueza nas mãos da classe dominante, em detrimento das condições de existência da classe trabalhador e , desbancando desse modo o mito liberal, muito propalado à época, de que o progresso da indústria e do comércio, proporcionaria inevitavelmente, a todos os cidadãos, melhores condições de vida e desenvolvimento à nação. O manifesto, que pode ser compreendido como um fiel diagnóstico de como se processa a lógica acumulativa do Capital, expõe outra falácia à época, ou seja, de que não eram as indústrias por si que geravam o volumoso crescimento econômico inglês, mas a submissão cada vez mais aviltante a que milhares de trabalhadores(as) vinham sendo submetidos, com o aumento constante de exploração da mais-valia em consonância com o aperfeiçoamento tecnológico e a expansão do poder econômico, que ao invés de reduzir a carga horária e socializar o resultado da riqueza produzida, se aproveitava da pobreza e da miséria criada por esse mecanismo, para sustentar níveis cada vez mais aviltantes de exploração. Vejamos o trecho a seguir:
“Em todos os países da Europa, tornou-se agora uma verdade demonstrável a todo o espírito sem preconceitos e apenas negada por aqueles cujo interesse está em confinar os outros a um paraíso de tolos que nenhum melhoramento da maquinaria, nenhuma aplicação da ciência à produção, nenhuns inventos de comunicação, nenhumas novas colônias, nenhuma emigração, nenhuma abertura de mercados, nenhum comércio livre, nem todas estas coisas juntas, farão desaparecer as misérias das massas industriosas; mas que, na presente base falsa, qualquer novo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho terá de tender a aprofundar os contrastes sociais e a agudizar os antagonismos sociais. A morte por fome, na metrópole do Império Britânico, elevou-se quase ao nível de uma instituição, durante esta época inebriante de progresso econômico. Essa época fica marcada nos anais do mundo pelo regresso acelerado, pelo âmbito crescente e pelo efeito mais mortífero da peste social chamada crise comercial e industrial”.
A 2ª questão destacável no texto e relevante aos nossos dias, é o fato de que Marx e Engels terem apontado a importância da unidade da luta econômica à luta política e que estas constituem, na realidade objetiva, a mesma expressão de um processo de contradições constante e latente entre o Capital e o Trabalho, que àquela época já se mundializava na forma de modo de produção internacionalizando-se, derrubando antigas barreiras nacionais, unificando os interesses comuns da camarilha de exploradores dos mais extremos cantos do mundo; da Rússia ao Oeste estadunidense, por exemplo e que deveria, por sua vez, também unificar a resistência e a luta da classe trabalhadora a nível mundial.
A confiança na organização e na disposição em travar o devido esclarecimento sobre as reais condições de desenvolvimento das forças produtivas, eram condições necessárias para a retomada da luta das massas em um patamar que alçasse a conquista do Poder Político, que só seria possível com o devido combate ideológico às mistificações de classe, o chauvinismo reacionário e as posturas conservadoras e conciliadoras muito comuns àquela época e desgraçadamente epidêmicas em nossos dias.
Eis as funções políticas à qual a AIT ou a Iª Internacional (como assim ficou conhecida historicamente) fundada a mais de 150 anos se predispunha, ou seja, à devida unidade entre a compreensão do processo de acumulação e expansão do modo de produção capitalista, o combate de ideias e a organização proletária, através da luta contra o poder do Capital, da solidariedade e da unidade de ação entre a classe trabalhadora mundial.
Assim como a 150 anos, a frase final desse manifesto exprime a atualidade do gesto ousado dos revolucionários reunidos naquele 28 de Setembro de 1864, sendo por sua vez o eco mais preciso e a herança mais viva e atual às organizações revolucionárias em todo o mundo:
“Proletários de todos os países, uni-vos”!
*Fábio Bezerra é Professor de Ensino Básico Técnico e Tecnológico – IF Sudeste MG e membro do Comitê Central do PCB.