Em 2015, a influente Bloomberg classificou Steve Bannon como o “mais perigoso operacional político da América”. Este domingo, após ter sido um elemento chave na equipa de campanha Donald Trump, o presidente em funções dos Estados Unidos da América (EUA), nomeou-o para seu braço direito na Casa Branca.
Para o caso de restarem dúvidas sobre se Trump estava a falar a sério na recente entrevista à CBS, em que prometeu erguer um muro na fronteira com o México e deportar até 3 milhões de imigrantes, é olhar para a equipa e a administração Trump que está em construção. As franjas e grupos ultraconservadores e reacionários do Partido Republicano estão de malas feitas rumo a Supremo Tribunal e à Casa Branca a convite do seu novo inquilino.
A escolha de Bannon para estratega e conselheiro da presidência é mais um aviso claro à navegação: não está nos planos de Trump inverter o discurso de campanha. A agenda de extrema-direita é mesmo para avançar e a todo vapor.
Numa análise a esta nomeação, publicada esta segunda-feira no portal do canal de televisão norte-americano NBC, o jornalista Benjy Sarlin assinala que “a ascenção de Bannon é o sinal mais claro que Trump vai manter os seus laços com o populismo nacionalista branco que o apoiou na caminhada para a Casa Branca e contra a oposição esmagadora dos líderes do partido [Republicano] e da imprensa tradicional”.
Nas palavras de John Weaver, ex-estratega da campanha presidencial de John Kasich nas primárias republicanas, Bannon, 62 anos, é um “racista” e um “fascista de extrema-direita”. Dan Pfeiffer, ex-assessor de Barack Obama, citado pelo Telegraph, afirma que a “nação expira porque um nacionalista branco acaba de conseguir o segundo emprego mais influente da Casa Branca”.
O percurso de um dos mais influentes militantes da extrema-direita norte-americana
Nascido numa família humilde em Norfolk, estado da Virgínia, teve uma curta passagem na marinha americana, que viria a abandonar para tirar um MBA na Harvard Business School. Pouco tempo depois era recrutado pelo banco de investimento Goldman Sachs.
Em 1990, abandona o Goldman Sachs e funda a sua própria empresa de investimento, a Bannon & Co. Especializa-se no setor da comunicação social e da indústria cinematográfica. Chega a participar no financiamento da popular série Seinfeld e produz vários filmes, entre eles, Titus, com Anthony Hopkins, que chega a ser nomeado para os Óscares.
Em 1996 é acusado de violência doméstica. No entanto, o processo não avançou porque a investigação não conseguiu localizar a sua ex-mulher.
“Eu não era político até que entrei no serviço [militar] e vi como Jimmy Carter lixou as coisas”, disse à Bloomberg. “Tornei-me um grande admirador de Reagan”. Ainda o sou”. Considera que Bush fez tão mal ao país como Carter e que, por isso, se virou “contra todo o establishment”.
Chamou à atenção dos setores mais à direita da sociedade americana quando realizou, em 2004, um documentário sobre o ex-presidente Ronald Reagan (In the Face of Evil). Passou a aparecer regularmente na Fox News, produziu um documentário sobre Sarah Palin, a ultraconservadora ex-governadora do Alasca e ex-candidata a vice-presidente pelo Partido Republicano, e vários filmes de propaganda do Tea Party.
Em 2012 vai ocupar o cargo que o transforma num dos ídolos e porta-vozes da extrema-direita americana. Andrew Breibart, fundador do portal noticioso Breitbart.com, morre de ataque cardíaco. Bannon não deixa escapar a oportunidade e passa a liderar o site de notícias favorito dos simpatizantes do Tea Party.
O Breitbart News tem cerca de 21 milhões de visitas por mês e é, segundo a Bloomberg, “um paraíso para pessoas que acham que a Fox News é muito bem educada e restritiva”.
O portal, recorda esta segunda-feira o Washington Post, é acusado de ser “racista, misógino e xenófobo” e tem entre os seus artigos mais lidos peças com títulos sugestivos como “Preferia que o seu filho tivesse cancro ou feminismo?” e “Métodos anticontraceptivos tornam as mulheres feias e loucas”.
Com Bannon como diretor-executivo, Breitbart transformou-se numa plataforma pró-Trump, anti-imigração e islamofóbica. O próprio chegou a apelidar o portal que dirigia como “a plataforma da alt-right” (denominação simpática para a nova extrema-direita americana).
O Breitbart difunde regularmente notícias em que dá voz aos principais dirigentes da extrema-direita mundial como o holandês Geert Wilders, o britânico Nigel Farage ou a francesa Marine Le Pen. Hoje, todos eles apoiantes e entusiastas da vitória eleitoral de Donald Trump, que vêem como uma espécie de líder mundial da direita fundamentalista.
Em agosto deste ano Steve Bannon é nomeado diretor de campanha de Donald Trump, em substituição de Paul Manafort, o que mereceu o apoio entusiasta do ex-líder do grupo supremacista branco KKK, David Duke.
Desde domingo, o homem que tem como sonho declarado “destruir a esquerda”, que entende que o Partido Republicano não era “conservador o suficiente” e não esconde ser um supremacista branco tornou-se o principal conselheiro de Donald Trump, presidente dos EUA e comandante do mais poderoso exército do mundo.