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Diário Liberdade
Sábado, 19 Novembro 2016 18:42 Última modificação em Quarta, 23 Novembro 2016 11:53

Xi começa a tomar as rédeas do mundo pós Obama

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País: China / Institucional / Fonte: Diário Liberdade

[Pepe Escobar] Em capítulo ainda mais espetacular de sua saga reversa à Marco Polo, o presidente Xi Jinping da China fez uma parada estratégica na Sardenha, Itália, em sua rota para participar da reunião de cúpula da Cooperação Econômica do Pacífico Asiático [ing. Asia-Pacific Economic Cooperation, APEC]) em Lima, Peru.

Por que a bela Sardenha? Com certeza não para cruzeiro em iate pela Costa Esmeralda. Trata-se, mais uma vez e sempre, das Novas Rotas da Seda puxadas pelos chineses.

Huawei está construindo seu maior quartel-general europeu na Sardenha. Os chineses querem comprar o porto de Cagliari. E o fabuloso Pecorino sardo – sério aspirante ao título de melhor queijo de cabra do planeta – oferecido em pó, já está alimentando milhões de bebês chineses.

Como espécie de bônus extra, Ji Xinping, "Marco Polo da China", exortou seus compatriotas, pela TV nacional chinesa, a investir numa massiva invasão turística na Sardenha. Agora, é disso que trata qualquer pacote de estímulo na Europa.

Enquanto isso, o presidente Obama pato-manco, também a caminho da cúpula da APEC, está na Alemanha passando o bastão de "líder do mundo livre" a Angela Merkel, mais desentendida que veado surpreendido pela luz dos faróis. Os faróis atendem pelo nome de Donald Trump.

PTP enterrada a sete palmos de fundura

A imagem de um Xi efervescente ao lado de um Obama reduzido a pó de traque, contra o pano de fundo da costa do Pacífico Sul-americano, será impagável. Longe vão os anos, dos 1990s a go-go, quando Bill Clinton comandava a APEC e lhe aplicava o sinete da agenda dos EUA. Agora o Pacífico Asiático tem de se entender não só com a Trumponomics protecionista, mas também com o fato de que a Parceria Trans-Pacífico (PTP), que Obama tanto prezava – o braço mercantil do "pivô para a Ásia" – está morto e enterrado, para todas as finalidades práticas.

A equipe de transição de Trump, comandada por Mike Pence, aconselhou o presidente eleito a enterrar a Parceria Trans-Pacífico (que reuniria os EUA mais 11 países de todo o anel do Pacífico), sem mais delongas, logo nos primeiros 100 dias de governo. E o mapa do caminho vai ainda mais longe e aconselha Trump a esquecer também o Acordo de Livre Comércio da América do Norte [ing. NAFTA], a menos que uma longa lista de "concessões" sejam atendidas.

Aliados abatidos dos EUA – sobretudo Japão, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia – que contavam com a ascensão de Hillary e a entronização da Parceria Trans-Pacífico, estão decididos a trabalhar em reuniões "secretas" no Peru, para construir um artigo revisto. Para isso, será preciso assumir que os Republicanos no Capitólio podem concordar com que Trump conduza algum tipo de renegociação.

Há também a – distante – possibilidade de uma taxa de corte, excluindo os EUA. EUA e Japão respondem por cerca de 60% do PIB somado dos países da PTP. A PTP sem os EUA vira outro bicho, absolutamente diferente.

E isso nos leva à sutil contraofensiva de Pequim: promover a liga anti-PTP na linha da Parceria Econômica Regional Compreensiva (PERC) [ing. Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP),que reúne o leste da Ásia. O leste da Ásia, Japão e Malásia, além da Austrália não asiática – três atores chaves – apoiam a PERC.

Apesar de o relacionamento Trump-China poder sempre acabar nos proverbiais mares tenebrosos, Pequim já pode ter certeza que o braço mercantil do pivô para a Ásia, que excluía a China, já é história.

Aqui, a palavra oficial, do vice-ministro de Relações Exteriores da China Li Baodong: "China acredita que devemos fixar um plano de trabalho novo e muito prático, para responder positivamente às expectativas da indústria, dar manter o atual impulso e estabelecer uma área de livre comércio no Pacífico Asiático, e sem demora." Nada de PTP; mais parecida com a PERC.

Todos aqueles resets

Um novo acordo comercial do Pacífico Asiático representará, definitivamente um reset nas relações EUA-China.

Há também aquele outro reset crucial: com a Rússia.

O chefe pato-manco do Pentágono Ashton "Império das Lamentações" Carter "aconselhou" Trump e a equipe dele a não cooperar com a Rússia na questão da Síria.

Foi solenemente ignorado.

O vice-ministro de Relações Exteriores Sergey Ryabkov disse que Moscou não quer cooperação. Mas disse também que Moscou não cogita de "persuadir a liderança do Pentágono a modificar qualquer coisa relacionada a isso."

Tradução diplomática: Vocês – o governo Obama – no que diga respeito à Rússia, estão mortos.

Assim sendo, haverá um reset. Será extremamente complicado, e em bases trumpianas de acordo-a-acordo: expansão da OTAN para as fronteiras da Rússia; Crimeia; defesa de mísseis dos EUA; tentativas de revoluções coloridas. Dirá respeito a toda a Eurásia. E começará com cooperação na Síria.

Pequim e Moscou chegaram à conclusão de que Trump não é ideólogo (à moda dos neoconservadores): é homem pragmático. São inevitáveis os resets. Bem como algumas surpresas.

Trump pode estar inclinado a que os EUA incluam-se no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII), furiosamente demonizado pelo moribundo governo Obama. O projeto de Trump, de $1 trilhão para infraestrutura é coisa que a China já faz – iniciado no final dos anos 1990s. Ellen Brown tem uma sugestão: imprima dinheiro e construa toda a infraestrutura de que você precisa.

Um eventual acordo EUA-Rússia na Síria beneficiaria, afinal de contas – e quem poderia ser? – a China. Espelhando-se na Rota da Seda original, a China vê a Síria como nodo crucial das Novas Rotas da Seda, atualmente bloqueado. Imaginem o dia, em futuro não muito distante, quando Xi desembarcará em Damasco para assinar acordos comerciais. E requererá pacote de estímulos para que turistas chineses possam visitar uma Palmyra restaurada.

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