Desinvestimentos na produção do conhecimento, em ciência e tecnologia. Incremento da desnacionalização do setor produtivo. Defesa de chacinas e outras intervenções ou ações, incompatíveis com qualquer noção minimamente relacionada a uma sociedade que se possa atribuir atenção com padrões de civilidade, justiça social, democracia e interesse nacional.
O golpismo, o entreguismo e o reacionarismo encarnados na abjeta figura do presidente Michel Temer (PMDB) impõem flagrantes e imensuráveis retrocessos culturais, políticos e econômicos ao Brasil.
Os personagens espúrios que formam o ilegítimo governo Temer demonstram, aberta e despudoradamente, o que são e o que pensam as classes dominantes no Brasil: fazendeirões, multinacionais, especuladores financeiros e imobiliários, bancos.
Essa estrutura de poder, de fato, revela nenhum compromisso com o País. Absoluto desprezo com a sorte do Povo Brasileiro.
Contudo, micros, pequenos e médios empresários que apoiam esse estado de coisas terão que superar os seus preconceitos antissindicais, antiesquerdas, antipovo. Escantearem suas visões americanófilas, incompatíveis com as vicissitudes e os interesses brasileiros.
Isso se não quiserem se suicidar de vez, enquanto setores de classe. Terão que observar que a única saída que possuem é defender os direitos sociais e trabalhistas, o poder de consumo e o emprego dos trabalhadores. Defender o País. Senão, podem fechar as suas portas. Precisam virar Povo.
O mesmo vale para algumas frações dos estratos altos e médios dos assalariados. Se ficarem mergulhados na baboseira reacionária e entreguista, como encontram-se, teleguiados pela cantilena vende pátria da Globo e de outras megacorporações de mídia, amanhã não terão sequer o que comer. Precisam virar Povo e perceberem que sua sorte existencial guarda estreita relação com os destinos da Nação.
Quanto ao “povão” mais humilde, na formulação delineada pelo grande Darcy Ribeiro – "povão" subempregado, desempregado, altamente marginalizado, arrochado na superexploração do trabalho –, que conforma a maioria dos trabalhadores assalariados, por enquanto, encontra-se na mera e triste condição de plebe.
Isto é, integrado por amplas faixas da população vivendo como párias em nosso solo pátrio: amorfos, sem identidade política, totalmente abandonados e atomizados. Um objeto, sem projeção de futuro, sem capacidade de ação.
Mas, isso não é fenômeno dado pela natureza. Essa multidão heterogênea e politicamente apassivada pode perfeitamente constituir-se e cerrar fileiras nas lutas do Povo Brasileiro, em defesa dos mais altos interesses populares e nacionais. Exemplos brasileiros e de outras paragens, hoje e ontem, aqui e alhures, não faltam.
Povo é uma construção política, como bem interpreta o cientista político argentino Ernesto Laclau. Uma plataforma de sujeitos e de segmentos sociais e classes com potencial antissistêmico. Uma miríade de setores sociais com demandas e necessidades desconsideradas pelas instituições hodiernas e pelo bloco de poder.
O Povo, para ser formado, precisa ser interpelado politicamente, ser estimulado a converter-se em sujeito que conte e aja. Precisa ter identidade e ser incentivado. Compreender que tem capacidade de ação e que conta nas decisões relativas aos rumos da sociedade e do Estado.
Mas, para o "povão" - hoje sob a condição de plebe -, assim como para demais setores sociais em destaque, virarem Povo, com identidade e ação dotada de sentido, fazem muita falta entidades coletivas capazes e consequentes – partidos, movimentos sociais, sindicais etc.
Faltam também grandes líderes. Todos artigos escassos no obscuro momento brasileiro e que precisam crescer e aparecer. O antipovo, a antinação está bastante atuante e desavergonhada, acabando de vez com o Brasil. O seu contraponto precisa emergir. O quanto antes.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.