Quando, em 1994, o país norte-americano assinou com os EUA e com o Canadá o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, mais conhecido pela sigla inglesa NAFTA, os limões tornaram-se mais baratos e as limonadas ficaram mais caras.
A NAFTA encheu os bolsos de alguns milionários, mas para a maioria dos mexicanos foi uma receita para a catástrofe: passados 23 anos, a percentagem da população a viver abaixo do limiar da pobreza não só não baixou como aumentou, atingindo hoje quase 55 por cento dos mexicanos; a emigração para os EUA duplicou até atingir o recorde histórico de 13 milhões de trabalhadores; o crescimento econômico manteve-se estagnado abaixo de um por cento; a violência tornou-se endêmica e, em 2016, atingiu um recorde de 21 mil assassinatos. Se fizéssemos a conta aos prejuízos que, ao longo destes 23 anos, a NAFTA representou para os rendimentos dos trabalhadores mexicanos, daria para pagar a construção de um muro tão grande que daria a volta ao mundo, selaria duas vezes a fronteira com os EUA e ainda sobrava troco. Ou seja, quando Trump insiste que, de uma ou outra forma, o México pagará o muro, quer apenas dizer que a relação neocolonial está para durar, mesmo que em vez de vender limonada os EUA queiram agora vender limões e gás ou comprar limonadas e petróleo.
Trump vem reiterando a ameaça de aplicar um imposto de 35 por cento na importação de produtos fabricados no México. Na mira das políticas protecionistas do presidente eleito dos EUA estão indústrias como a automóvel, a elétrica e electrônica, exportações que representam um superavit comercial de 60 bilhões de dólares e mais de cinco por cento da produção econômica mexicana. Donald Trump sintetizou a situação num tweet recente "A General Motor vai enviar o modelo Chevy Cruze fabricado no México para os concessionários dos EUA livre de impostos na fronteira. Fabriquem nos EUA ou paguem um grande imposto fronteiriço".
Gasolinazo
Com o devido desconto que o populismo de Trump sempre merece, a ameaça é para ser levada a sério: mais de três quartos das exportações mexicanas têm como destino o vizinho do Norte e os EUA têm o poder de fazer desabar o castelo de cartas da economia mexicana. Enquanto se mantiver o domínio imperialista, pagar o muro é somente o beija-mão que lembra quem manda e quem obedece.
Submisso à pressão imperialista, a administração de Peña Nieto tem dado sinais de que pretende reajustar a economia mexicana aos novos desígnios de Washington. A braços com uma crise econômica que parece não ter fim, o presidente mexicano respondeu, no âmbito do Pacote Econômico 2017, com a liberalização dos combustíveis que, em poucos dias, ditou aumentos no preço dos combustíveis na ordem dos 20 por cento. Começava o efeito dominó: embora só afete parte dos custos de produção, os grandes grupos econômicos aplicaram o aumento ao custo final de produtos alimentares e de primeira necessidade; o aumento do salário mínimo ficava eclipsado; um frenesim especulativo atirava a inflação para as alturas; o fantasma de Trump desvalorizava o peso em mais de 11 por cento...
Ao longo da última semana sucederam-se por todo o país as gigantescas manifestações populares contra o chamado "gasolinazo" e a brutal repressão policial dos protestos, que já causou mais de seis mortos e 1500 detidos. Cresce também o número de bombas de gasolina ocupadas pelas populações e os apelos à demissão de Peña Nieto.
Fonte: Avante!