Nas ruas ecoavam gritos de “Itália primeiro”, “Fechem as portas”, “ A Europa é cristã e não muçulmana”, e outros cantos da exacerbada xenofobia local. Salvini prometia “libertar” a Europa do pró-financismo e pró-imigração das “lideranças de Bruxelas”. Reivindicava-se a origem “cristã” da Europa, bem como sua “fundação” por Atenas e Roma e pelo “Iluminismo” - apesar do manifesto obscurantismo das teses defendidas. Os discursos espalhavam o autoelogio de ali estarem os “verdadeiros europeus” e “patriotas”.
A esperança dos militantes e líderes da extrema-direita é atingirem o percentual de pelo menos 30% dos 751 membros do Parlamento Europeu a serem eleitos entre 23 e 26 de maio próximos. Isto transformaria este bloco na terceira ou mesmo a segunda força no Parlamento. Entretanto é muito difícil fazer previsões gerais sobre a eleição, uma vez que cada país da União tem seu próprio método para eleger os deputados a que têm direito. Há de momento um único dado certo: o número de indecisos ainda é muito alto, beirando os 100 milhões de eleitores, dentre os mais de 370 milhões que podem votar.
O outro lado desta esperança é que estes parlamentares eleitos consigam de fato formar um bloco. Há dificuldades no caminho. Salvini e Le Pen são favoráveis a uma maior aproximação com Vladimir Putin, visto como um aliado potencial na sua luta contra o atual estado da União Europeia. Já muitos líderes da extrema-direita nos países do antigo Leste europeu vêm Putin com desconfiança e com um temor que beira o terror e a paranoia.
Durante algum tempo Steve Bannon, com seus métodos de ação, foi outro fator de desunião. Bem acolhido por Salvini, era olhado com desconfiança por Le Pen e os líderes do Alternative für Deutschland alemão. Mas estas diferenças parecem ter se aplainado graças à atuação do líder italiano e também graças a Bannon estar focando uma de suas bandeiras na luta contra um adversário comum: o Papa Francisco I. O próprio Salvini já foi visto com uma camiseta com os dizeres “Este é o meu Papa” e a foto... de Bento XVI!.
Há ainda as diferenças nacionalistas entre os países. Poloneses e alemães não se bicam devido aos contenciosos históricos que perduram até hoje, por exemplo.
Pesquisas vêm apontando resultados muito promissores para a Lega na Itália. Se isto se confirmar, Salvini consolidaria sua posição de liderança na Europa. As pesquisas também apontam um bom resultado para a extrema-direita no Reino Unido, mas isto pode ser empanado pelo imbroglio complicado do Brexit.
No caminho para Milão, uma atitude controversa marcou a atividade de Salvini. Passando pela pequena cidade de Forli, na Emiglia Romana, Salvini foi também recebido entusiasticamente por uma multidão de mais de 2 milo pessoas, apesar da forte chuva que caía. Para dirigir-se a elas, dirigiu-se ao balcão do prédio em frente à praça da concentração. Acontece que chegar a este balcão e falar para uma multidão era um tabu na localidade, pois dali, em 1944, o Duce Mussolini presenciou a execução de quatro partigiani pela forca, sendo que deles tinha apenas 20 anos. Graças a isto, enquanto se ouviam aplausos e vivas por parte dos partidários da Lega, ouviam-se também gritos de “fascista” e de uma das canções favoritas dos guerrilheiros anti-fascistas, a “Bella Ciao”.
Há um movimento na Itália em torno da recuperação da imagem do Duce. Aliás, seu corpo e o de sua companheira Claretta Petacci foram expostos e brutalizados na mesma Milão do comício do fim de semana, depois de ambos serem mortos por pelo menos um guerrilheiro (há controvérsias sobre quem praticou a execução) em 28 de abril de 1945, quando tentavam fugir para a Suíça.
Fonte: Alainet