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Diário Liberdade
Sábado, 16 Novembro 2019 16:43

Lula sai da prisão e, em liberdade, grita forte… “Fica Bolsonaro”!

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Mário Maestri

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A libertação de Lula da Silva, no sábado, dia 9, após 580 dias de prisão ilegal, foi uma grande vitória democrática e popular, apesar de ter sido devida a uma decisão do STF.


O ex-presidente teria seguido preso, sem a campanha nacional e internacional pelo “Lula Livre”, mesmo  não tendo ela assumido um caráter de massa, em boa parte devido à falta de apoio da oposição parlamentar faz-de-conta. Além de populares, pela liberdade de Lula da Silva mobilizaram-se apenas o MST e sobretudo o PCO. 
São diversas as interpretações sobre as razões dessa libertação, de ampla influência política nacional, ter-se dado agora e não antes ou depois. E de não ter conhecido a oposição do alto comando das forças armadas, na direção efetiva do movimento golpista em institucionalização. Foi conjeturado que a libertação teria o objetivo de revigorar o bolsonarismo mal de pernas com a polarização Bolsonaro versus Lula da Silva. A liberdade do ex-sindicalista revivaria a histeria anti-petista do período eleitoral.
Foi também proposta que a libertação, feita após os sucessos recentes do Chile e do Equador, seria medida maquiavélica para criar tumultos populares que justificassem um “fechamento do regime”, com intervenção direta dos altos oficiais militares. Ou seja, os senhores generais deixariam o atual governo nas sombras para tentar aplicar, de sopetão, no contexto dos inevitáveis gritos e ranger de dentes da oposição, o que, na verdade, estão implementando, sem resistência, em forma gradual, ininterrupta e constitucional.
Veto do Alto Comando Militar
Propõe-se também que a libertação de Lula da Silva teria sido medida apaziguadora devido à  economia encontrar-se em um buraco; o bolsonarismo fazer água por todos os lados; os países vizinhos conhecerem mobilizações mulitudinárias. Só conheceremos  as razões do golpismo para a libertação do ex-sindicalistas ao contarmos com informação hoje não disponível. Há porém dois fatos objetivos que ajudam no entendimento desse importante sucesso político. O primeiro é que -no mínimo- os senhores generais levantaram o veto que mantinham à libertação. O segundo, de maior peso, é a orientação  política que  Lula da Silva começou a propor ao por o pé na rua, apenas abandonou a prisão.
No dia 9, pela tarde, diante do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, São Paulo, falando para grande número de populares e trabalhadores, Lula da Silva gritou “Fica Bolsonaro”, em forma forte e clara, ao desqualifiar a luta pelo fim do governo ilegal, que defendeu ter sido eleito em forma democrática.  Na ocasião, também em forma clara e audível, propôs as eleições de 2020 e 2022 como a estratégia da oposição popular. Saiu da prisão, portanto, para lançar um enorme balde de água fria na luta contra o bolsonarismo e o golpismo. Em forma indiscutível, passou a sustentar o golpismo.
Porém, temos que reconhecer que tal posicionamento não nasceu de movimento de acomodação ao regime golpista, por oportunismo ou decisão de rendição. Trata-se apenas de adaptação à situação política atual da orientação e natureza social-liberal que o ex-sindicalista assumiu, explicitamente, no mínimo, desde 2002, na presidência. Lula da Silva é hoje o que foi na maior parte de sua vida política. Um futebolista virtuoso que defende as cores do grande capital, jogando no time do movimento social. Se esforça apenas para que o time da várzea não perca de goleada.
Oposição Frágil
É forte o desânimo que se abateu nas frágeis filas da luta intransigente contra o governo ilegal e o golpismo, iludidas quanto à natureza da  eventual ação de Lula da Silva em liberdade. Não poucos esperavam que ele tomasse à frente do combate contra o golpe, um pouco como o jovem e destemido Leonel Brizola, na direção do movimento popular que vergou o golpismo, em 1961. Porém, Lula da Silva está muito mais para João Goulart, sempre procurando um acordo e acomodação política com as chamadas elites, mesmo às custas dos anseios gerais da população. Sua direção política levou o movimento popular ao desastre de 2016. Se seguida, agora, soterrará a população e a nação em forma ainda mais profunda.  
Militantes decididos da  luta contra o golpe propõem que pouco importa o que Lula diz ou defende, já que a agitação que despertará, sobretudo quando da caravanas nas quais promete serpentear o Brasil, motivará  a mobilização e até mesmo explosão popular que nem ele poderá conter. Proposta piedosa que peca por imenso otimismo.
Em 26 de agosto de 2017, quando o governo Michel Temer balanceava, grogue, contra as cordas, e as mobilizações tomavam as ruas, cada vez mais fortes, Lula da Silva decretou, em Salinas, Minas Gerais, o "Fica Temer”. Mandou a população deixar a luta pela queda do governo e contra o golpe e se concentrar nas eleições de 2018, que sabia viciadas. Apoiou, em forma consciente, a estabilidade do governo Michel Temer e do golpe, preocupado em salvar o aparelho petista. O que  conseguiu, à custa de derrota histórica da população e da nação, com a farsa eleitoral que entronizou  Jair Bolsonaro. 
2022: Não Vai Sobrar Nada
A indicação das eleições de 2020 e 2022 como objetivo estratégico da oposição porá em marcha as organização populares; os quadros e recursos da oposição faz-de-conta [PT, PCdoB, PSOL, etc]. A escassa mídia que se diz de oposição mergulhará alegre no eleitoralismo, sustida, indiretamente, pela grande mídia e pelo golpismo. O golpismo seguira esquartejando tranquilamente a população e a nação enquanto a oposição de brincadeirinha dedica-se a eleger seus vereadores e prefeitos. E eles seguirão, ao lado dos senadores, deputados e governadores “oposicionistas” atuais, todos maravilhosamente remunerados, no combate duro e firme como geléia ao bolsonarismo e golpismo. 
No discurso do dia 9, Lula da Silva referendou como democrática a farsa eleitoral de 2016 e apontou as eleições como forma de oposição, sabendo que, mesmo antes de 2022, pouco sobrará da população e do país, se não houver oposição popular ampla e intransigente. Mais ainda, sequer propôs a retomada substantiva dos direitos sociais e democráticos perdidos: Previdência, direitos trabalhistas; mega-privatizações, revogação das leis ditatoriais aprovadas ou em aprovação -  PL 2478, PL 1595, PL 443, PL 3389, 10.046, todos de 2019. 
Nos fatos, Lula da Silva promete ao grande capital repetir  o comportamento assumido após a vitória de 2002, quando o petismo deixou intocada a realidade estrutural autoritária e anti-popular vigente, com destaque para as ações anti-nacionais e anti-populares dos governos de FHC, com destaque para as méga-privatizações, reforma da Previdência, corrupção generalizada.  A liberdade de Lula da Silva e de outros presos políticos foi uma vitória democrática para a qual o movimento popular contribuiu com destaque.  E foi correto apoiá-la. Mas, agora, Lula da Silva passa a ser parte do problema a ser necessariamente resolvido pelos trabalhadores e pela população brasileira, na sua luta  de terra arrazada do golpismo.
O PCO e a Liberdade do Lula da Silva 
O pequenino PCO destacou-se como a primeira organização na esquerda revolucionária que levantou, em forma oportuna e correta, as consignas "Fora Bolsonaro" e "Lula Livre". Ampliou sua militância e influência ao denunciar sem papas na língua o caráter fraudulento das eleições de 2016 e a ilegalidade do governo Bolsonaro, com os meios que possuía. Nessa campanha, o PCO não foi acompanhado, em forma clara, por nenhuma outro organização de alguma relevância reivindicando-se da esquerda marxista.  
O PCO é hoje a maior organização marxista-revolucionária e a primeira a alcançar real audiência nacional, através sobretudo do programa televisivo semanal de seu presidente, Rui Pimente. [COTV]. Criticou-se, com alguma razão, a fixação obstinada no "Lula Livre” e secundarização da luta contra as ações golpistas. O “Lula Livre” foi visto e proposto pela direção do PCO como feixe nevrálgico do combate contra o golpismo. Os avanços organizacionais obtidos na campanha "Lula Livre" teriam contribuído a uma super-valorização da liderança  de ex-presidente. Apenas a má vontade do petismo quanto ao “Lula Livre” não explica a pouca adesão à campanha, sobretudo no contexto da enorme crise atual.
No mesmo sentido, houve, por parte da direção do PCO, uma gradual mas indiscutível recuperação positiva do lulismo e do petismo no passado, sobretudo no relativo aos oito anos de presidência. De presidente social-liberal, representante do grande capital, Lula da Silva passou a ser qualificado como social-democrata, responsável por grandes ganhos para a população. O mesmo movimento ocorreu, apenas com menor ênfase, no que diz respeito ao governo Dilma Rousseff. O PCO passou a exigir a liberdade de Lula da Silva como prisioneiro político e a propô-lo como candidato à presidência, em 2022.
Fica Bolsonaro!
 Salvo engano, fora um reconhecimento,  quase formal, ainda em Curitiba, diante da Polícia Federal, foi pública e notória a falta de agradecimento de Lula da Silva à enorme dedicação da direção e da militância do PCO à campanha por sua liberdade. O silêncio não nasceu de esquecimento ou de uma eventual e inexplicável ingratidão. Ele materializou um claro veto político à proposta da adesão ao “Fora Bolsonaro” daquela organização, registrado na referência depreciativa de Lula da Silva àqueles que falam no "fora bolsonaro”, já em São Bernardo.  
A direção do PCO parece não ter preparado politicamente sua militância para esse desdobramento natural dos sucessos políticos, nos últimos tempos quase previsível. Agora, ela não poderá seguir a campanha pela anulação de todas as acusações contra Lula da Silva, de ainda mais baixa atração popular, sem se confundir com o PT.  Muito menos propor Lula da Silva como candidato para 2022, sem abraçar as propostas das eleições como estratégia da oposiação; de "frente política” sem princípios; de reconhecimento da legalidade das eleições de 2016, que agora têm Lula da Silva como primeiro defensor. 
Lula da Silva deixou de ser um preso político para ocupar a posição de direção maior do movimento de acomodação eleitoral ao golpismo e aceitação das transformações estruturais em curso. A recente proposta da direção do PCO de centrar sua atuação em torno da consigna “Fora Bolsonaro” aponta na manutenção desse grupo político como importante pólo da luta contra o golpe. [Duplo Expresso, 14/011/2019.]
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