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Um memorando incluso no relatório, de Blair para Bush em julho de 2002, meses antes da invasão, abre com Blair comprometendo-se com Bush, “Eu estarei com você, aconteça o que acontecer”. Muitos, incluindo membros do seu próprio Partido Trabalhista no Parlamento, acusam Blair de cometer crimes de guerra. Enquanto o Reino Unido, ainda consumido pelo caos político na esteira da votação pelo Brexit, reage ao relatório Chilcott, a população de Bagdá está se recuperando do ataque à bomba de sábado. O saldo de mortos no ataque subiu para 250. George W. Bush, indesculpavelmente, disse através de seu porta-voz que ele “continua a acreditar que o mundo está melhor sem Saddam Hussein no poder”. Ele disse estar hospedando veteranos feridos em sua fazenda no Texas.
As forças britânicas sofreram muito menos baixas do que as americanas, com 179 mortos, comparada com 4.502 das forças dos EUA (sete dos quais foram mortos em 2016). Trilhões de dólares foram gastos na invasão e ocupação, e trilhões mais serão gastos com os cuidados de veteranos feridos e abalados emocionalmente pelo resto de suas vidas. Mas de longe o maior, o mais incalculável preço tem sido pago pelo povo iraquiano. Como esse mais recente, bombardeios massivos atestam incrivelmente que a guerra no Iraque não terminou. Vários esforços têm sido feitos para conter o número de mortos na guerra, com o baixo nível daquelas estimativas de 160.000 a 180.000 mortos. Alguns estudos têm multiplicado esse número. O número exato é impossível de determinar, mas o efeito na população iraquiana tem sido devastador, e o prejuízo vai ser sentido por gerações.
A declaração britânica foi clara: “Nossos exércitos não entrarão em suas cidades e terras como conquistadores ou inimigos, mas como libertadores”. No entanto, isso não foi em 2003. Isso foi em 1917. A guerra se propagou pela Europa e a Marinha britânica era muito dependente do petróleo do Iraque e do Golfo Pérsico. Como se lê no detalhado histórico anexado ao relatório Chilcott: “Para assegurar esse petróleo para a Grã-Bretanha, na primavera de 1914, o primeiro lorde do almirantado, Winston Churchill, adquiriu para o governo britânico 51% de participação na Companhia de Petróleo Anglo-Persa”. E asism o último século de ocupação, exploração, repressão, violência e dor foi marcado na vida dos iraquianos e na história do Iraque.
Isso é mais que história para Sami Hamadani. Ele nasceu no Iraque e foi exilado em Londres pelo regime de Saddam Hussein, que organizou-se não apenas contra a invasão e ocupação do Iraque, mas também contra as sanções devastadoras que a precederam. “O Iraque, como uma sociedade, um Estado, foi destruído na forma mais cruel de choque e medo, crimes em massa em uma escala incalculável desde a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã”, disse ao Democracy Now, logo após a divulgação do relatório. “Derrubar o ditador não era o real objetivo, mas sim controlar o Iraque. E na falta de controle, eles o destruíram, como estão fazendo na Líbia, na Síria e assim por diante. Isso se encaixa nessa escala. Mas a maior tragédia de todas é a perda de vida.”
Apenas um ano após a invasão, no jantar anual da Associação de Correspondentes de Rádio e Televisão em Washington, o presidente Bush brincou com os centenas de jornalistas: “Aquelas armas de destruição em massa têm que estar aqui em algum lugar”. Bush se agacha no Salão Oval, olhando para as armas de destruição em massa embaixo da mobília, acompanhou sua comédia diária. Enquanto os mortos do serviço dos EUA foram trazidos de volta para a Base da Força Aérea de Dover, onde foi proibido fotografar os corpos dentro dos sacos, e enquanto corpos iraquianos eram pilhados em ruas e necrotérios, o comportamento de Bush era insondável. Guerra não é brincadeira. Na esteira do relatório Chilcott, deve haver um sério esforço para responsabilizar aqueles que, como Bush e Blair, são responsáveis pelas mortes e destruição contínuas no Iraque, e mais além.
Fonte: Democracy Now!
Tradução: Diário Liberdade