O voluntarismo e a resistência titánica também tenhem limites com umha realidade que gira quase sempre em sentido inverso. Se já é difícil luitar porque o galego seja língua egemónica na nossa sociedade, mais ainda o é luitar por isso mesmo desde postulados reintegracionistas sabendo que vas colidir com a incompreensom de muita gente da que em princípio se esperaria que te considerasse companheira de luita.
No mundo cultural e inteletual galego há um sistema clientelar que condiciona muitas vontades. Dizia Lenine: “As condiçons materiais determinam a consciência”. Nom pode haver umha formulaçom mais exata para sintetizar o que acontece com a questom normativa na língua galega. Se és reintegracionista de prática…nom publicarás a tua obra no teu próprio país, nom poderás acceder a ajudas públicas, nom poderás optar a prémios, a mídia silenciará-te. Isto fai com que neste país, quanto às teses reintegracionistas, haja muitos “crentes nom praticantes”.
O problema de sustentar umha realidade artificial baseada na premissa de que o galego em nengum caso é português, e que portanto, por desígnios que ninguém nos explicou racionalmente, nom podemos interpretar graficamente as nossas palavras com “lh” , “nh” ou “ç” é fundamentalmente económico. A Xunta como poder delegado do estado espanhol na CAG, investiu umha quantidade de dinheiro ingente durante trinta anos de autonomia em produzir corpus teórico cientista para constroir essa realidade, e também em produzir literatura e material audio-visual, sobre tudo, que foi criando tradiçom e ideologia. Mas com a crise global capitalista, houvo que aplicar as temidas tesouras, e agora esse mundo alimentado com o carto público ameaça com derrubar-se.
Eu ante esta situaçom chamo a que nos rebelemos. A que assumamos que a rebeliom é o caminho. E que portanto assumamos também que todas as manifestaçons da inteletualidade oficialista galega pondo em causa a direçom tomada nas últimas décadas no caminho normalizador e normativizador fam parte do começo dessa rebeliom. É insuportável que se lhe continue concedendo potestade para postular e marcar pauta em matéria lingüística a quem nom deseja a normalizaçom do galego, como é o caso de muitos académicos da língua, começando polo próprio Presidente da RAG, um ultra-espanholista que já nos anos setenta afirmava que para ele a Pátria era Espanha e Galiza era a Mátria (mas nom, nom o fazia como umha parábola feminista, dizia-o no pior dos sentidos imagináveis) É inexplicável que prescindamos do pensamento sócio-lingüístico e do ingente trabalho de investigaçom literária de Carvalho Calero. E é impossível fazer viável a sobrevivência do galego nas terras onde nasceu sem o diálogo com a lusofonia. Há que romper os ferrolhos deste cativério que nos relega à marginalidade e ao eterno complexo de inferioridade.
Quero, como di o manifesto que anda a circular pola rede, o fim do Apartheid. O fim do negacionismo, o trunfo da razom. A minha esperança é que algumha cousa se move, quando vejo entre os assinantes do manifesto a Antón Reixa, a Cesáreo Sánchez Iglesias, a Xina Vega, a Mercedes Queixas, a Emma Pedreira Lombardia…a nomes nada suspeitos de pertencer ao reintegracionismo organizado mas que reclamam racionalidade e luzes para recompôr a situaçom. E eu agradeço-lhes a sua valentia.
Fago minhas as palavras do professor Xosé Ramón Freixeiro Mato: “A discriminación do reintegracionismo atenta contra a historia do galego, contra o seu futuro e o pensamento dos mais ilustres devanceiros. A norma portuguesa debe ser tamén considerada como a norma internacional do galego”. Para pôr em situaçom a quem isto leia; o autor das gramáticas nas que estudarom geraçons de professores de galego, está a dizer que o passado e o futuro do galego está na aceitaçom de que fazemos parte de umha realidade que trascende as estreitas paredes da sua normativa “oficial”. Por dizê-lo em termos marxistas: o negacionismo praticado durante todos estes anos polo mundo académico, atenta contra a história, a tradiçom e a ciência.
Apenas poido acabar insistindo no meu chamado. Soltemos lastre, deixemos que as múmias continuem bradando a sua negaçom surda no seu palacete de falsidade. Abramos as janelas da nossa casa comum da língua, que entre a luz e que nos nutra o oxigênio da razom e o conhecimento. Que seja, como dizia o cantor brasileiro Chico Buarque, mais do que nunca “língua de Camões e Rosalia”.