Publicidade

Diário Liberdade
Sexta, 05 Agosto 2016 15:23 Última modificação em Sábado, 06 Agosto 2016 01:33

Uma guerra esquecida: a derrota dos EUA no Laos Destaque

Avalie este item
(1 Voto)
Miguel Urbano Rodrigues

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Os historiadores norte-americanos, com poucas exceções, sustentam que os EUA somente perderam uma guerra: a do Vietnam. Mentem. Perderam a guerra contra a Inglaterra em l812/1814 e foram também derrotados no Lao.


Essa é uma guerra esquecida de que se não fala.

É portanto natural que tenha chamado a minha atenção um livro que encontrei em Havana num alfarrabista: La derrota del Imperialismo yanqui en Lao*.

O autor, Luis M. Arce, é um jornalista cubano que teve a oportunidade de acompanhar, como correspondente do Granma, o desfecho do conflito armado, quando o pessoal diplomático americano, os agentes da CIA e os funcionários da USAID abandonavam Vientiane, a capital do Laos, em debandada caótica( caos que se repetiria em Saigao em l975).

ANTECEDENTES

O Laos (236 000 km2) era o país mais atrasado do Sudeste asiático quando a França, já estabelecida no Vietnam e no Camboja, o invadiu e ocupou em l893. Era também o menos povoado; hoje tem somente 7 milhões de habitantes.

Tal como no Vietnam, os franceses, impuseram um Protetorado, mantendo a monarquia. Mas o rei era uma marionete decorativa. O povo reagiu ao regime colonial através de sucessivas rebeliões. A partir de l930, a luta armada, permanente nas montanhas, foi liderada pelo Partido Comunista da Indochina que precedeu o atual Partido Revolucionário Popular do Laos.

Após a expulsão dos japoneses, que ocuparam o país com a cumplicidade de Vichy, um governo nacional provisório proclamou a independência do Laos em Outubro de l945.

O combate contra os franceses intensificou-se. Os Acordos de Genebra de l954 consagraram o direito à independência do povo laociano. Mas o imperialismo estado-unidense, que substituira na Região o francês, decidiu então fazer do Laos «um baluarte contra o comunismo», «um bastão da liberdade» na fórmula de John Foster Dulles.

Teoricamente independente, o Laos foi tratado por Washington como colónia de novo tipo.

A CIA instalou-se em Vientiane, assim como a USAID, e durante vinte anos impôs a sua vontade a sucessivos governos títeres.

O facto de o Laos ser um país multinacional favoreceu a estratégia imperialista. Aproximadamente 60% dos habitantes são laocianos; os restantes pertencem a minorias étnicas, a maioria das quais agrupadas em tribos montanhesas que falam dezenas de idiomas diferentes.

Foi nessas minorias tribais que a CIA recrutou o núcleo do exército mercenário que constituiu para lutar contra o Pathet Lao (Terra do Laos), a organização unitária que conduziu a luta pela libertação do país. Para comandar esse exército foi designado um criminoso de guerra, o famoso «general» Vang Pao. Um orçamento especial da CIA financiou a criação dessa força mercenária.

Cabem ao presidente John Kennedy responsabilidades pelo envolvimento crescente dos EUA na estratégia que desembocou nas guerras criminosas contra os povos do Vietnam, do Laos e do Camboja. Foi ele quem deu o aval ao assassínio do presidente vietnamita Ngo Dinh Diem. Mas a escalada militar ocorreu durante os mandatos de Johnson e Nixon.

EPOPEIA DESCONHECIDA

No seu livro, Luis Arce dedica alguns capítulos a uma epopeia quase desconhecida.

Em 1968, 80% do território nacional estava sob controle das forças armadas revolucionarias.

Como os bombardeamentos da aviação americana eram diários – a capital provisória, Sam Neua, fora destruída - tornou-se necessária uma organização administrativa que protegesse a população, maioritariamente camponesa, garantindo-lhe a sobrevivência e condições de trabalho.

E aconteceu o inimaginável. Nas montanhas foram abertos tuneis e construídas autenticas cidades subterrâneas.

O mundo continua a desconhecer que na zona livre se instalou um Estado revolucionário com órgãos executivos, legislativos e judiciais.

Os pilotos da USAF ignoravam que, sob a densa floresta tropical, existiam, no subsolo, e ali funcionavam fábricas, imprensas, centrais telefónicas, rádios, armazéns militares, escolas, hospitais, cinemas, creches, albergues para visitantes estrangeiros. Havia também pagodes budistas, porque mais de metade da população professava aquela religião. Em algumas províncias, milhares de pessoas residiam também em bairros subterrâneos.

«Esse era o outro Laos- escreveu Luis Arce- o do futuro do país, que nunca puderam conhecer nem penetrar os imperialistas norte-americanos».

A «GUERRA SEM FRONTEIRAS»

Quando Nixon assumiu a presidência, o exército dos Estados Unidos acumulava derrotas no Vietnam.

Decidiu então, cedendo a pressões dos falcoes do Pentágono, generalizar a guerra a toda a península da Indochina, desconhecendo fronteiras e tratados.

O Camboja foi invadido em 1970 e no Laos os efetivos do exército mercenário de Vang Poa foram elevados para 100 000 homens. De acordo com a chamada “Doutrina Nixon», era preciso «lançar asiáticos contra asiáticos». Mas, para missões especiais foram enviados para o Laos milhares de tropas de elite norte-americanas.

A tarefa principal foi porem atribuída à Força Aérea. Segundo historiadores militares, a USAF lançou mais de dois milhões de toneladas de bombas sobre o território laociano. O custo dessas operações foi avaliado em mais de 3,5 milhões de dólares diários somente no ano de 1970.

O alvo principal nessa guerra aérea foi a Pista de Ho Chi Minh, a rede de estradas e trilhas, com milhares de quilómetros, que ligava Hanói ao sul do Vietnam, parte da qual atravessava o território laociano.

Em fevereiro de 1971,Nixon tomou a decisão de ocupar o Laos. Para o efeito mobilizou 45 000 homens,800 helicópteros e 500 aviões, entre os quais 50 fortalezas voadoras B -52.

O desfecho da agressão foi outra humilhante derrota militar.

Nos primeiros dois dias foram abatidos 64 helicópteros e destruídos 40 tanques.

Nos EUA o movimento de oposição à guerra crescia torrencialmente. Washington foi forçada a abrir negociações de paz em Paris.

O fim da guerra tardou. Mas em fevereiro de 1974 foi finalmente assinado o Acordo para a criação de um governo de transição. Tal como no Vietnam, Washington acreditou erradamente que os seus aliados no país, generosamente armados e financiados, tinham condições para se manter no poder. Essa esperança foi rapidamente desmentida pelo rumo da História. Nos quarteis a maioria dos soldados rebelaram-se contra os comandantes mercenários e aderiram massivamente ao Pathet Laos.

Duas décadas de uma guerra hoje esquecida, na qual os EUA foram derrotados, findaram com a instauração da Republica Popular Democrática do Laos, dirigida pelo partido comunista.

*Luis M.Arce, La derrota del imperialismo yanqui en Lao, Editorial

Letras Cubanas, 174 pag, La Habana,1979

Fonte: ODiário.info

Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Doaçom de valor livre:

Microdoaçom de 3 euro:

Adicionar comentário

Diário Liberdade defende a discussom política livre, aberta e fraterna entre as pessoas e as correntes que fam parte da esquerda revolucionária. Porém, nestas páginas nom tenhem cabimento o ataque às entidades ou às pessoas nem o insulto como alegados argumentos. Os comentários serám geridos e, no seu caso, eliminados, consoante esses critérios.
Aviso sobre Dados Pessoais: De conformidade com o estabelecido na Lei Orgánica 15/1999 de Proteçom de Dados de Caráter Pessoal, enviando o teu email estás conforme com a inclusom dos teus dados num arquivo da titularidade da AC Diário Liberdade. O fim desse arquivo é possibilitar a adequada gestom dos comentários. Possues os direitos de acesso, cancelamento, retificaçom e oposiçom desses dados, e podes exercé-los escrevendo para diarioliberdade@gmail.com, indicando no assunto do email "LOPD - Comentários".

Código de segurança
Atualizar

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: diarioliberdade [arroba] gmail.com | Telf: (+34) 717714759

O Diário Liberdade utiliza cookies para o melhor funcionamento do portal.

O uso deste site implica a aceitaçom do uso das ditas cookies. Podes obter mais informaçom aqui

Aceitar