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Segunda, 16 Janeiro 2017 20:07 Última modificação em Segunda, 16 Janeiro 2017 20:14

Verdades e mentiras na morte de Soares

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País: Portugal / Institucional / Fonte: Avante!

[Margarida Botelho] A posição do PCP sobre o falecimento de Mário Soares não podia ser mais rigorosa e coerente.

As condolências enviadas pelo Partido ao PS e à família foram justificadas e claras e não podem ser usadas como elemento para a reescrita da história.

A campanha que se desenvolveu a propósito e a pretexto da morte de Mário Soares é uma operação que pretende fixar uma determinada versão da história, mas sobretudo intervir sobre a situação actual. Tenta reescrever factos da história recente, como o processo revolucionário iniciado a 25 Abril, a descolonização – atribuindo a Soares uma coerência que efectivamente não teve – ou a adesão de Portugal à então CEE, com consequências profundamente negativas.

A campanha, bem orquestrada, quer definir os bons e os maus, os vencedores e os perdedores e arrumar o PCP do lado errado da história. Ou alguém acha que é por acaso que a esmagadora maioria dos que foram chamados a comentar o falecimento se centrou na propaganda da inventada «ditadura comunista» que o PCP supostamente queria impor ao povo português a seguir ao 25 de Abril?

É verdade que Mário Soares comprometeu o desenvolvimento do rumo progressista da Revolução de Abril, que teve as mais elevadas responsabilidades na liquidação das conquistas de Abril, da Reforma Agrária às nacionalizações, passando pelo ataque aos direitos dos trabalhadores, que promoveu a destruição da produção nacional e a reconstituição dos grupos monopolistas que impõem a exploração e o empobrecimento ao nosso País. É verdade que a adesão de Portugal à UE foi uma opção política, em que Soares teve pesadas responsabilidades, que não teve nada que ver com os interesses do povo e do País.

É sobre essas verdades que esta campanha pretende lançar uma névoa de mistificação. É que se há uns anos podia haver dúvidas sobre os resultados da adesão de Portugal à União Europeia, da lei dos contratos a prazo e da precariedade, das privatizações, ou da interrupção do caminho libertador de Abril, hoje a vida encarregou-se de as clarificar. Quanto mais cristalinas são as verdades, mais poderosas têm de ser as campanhas para as ocultar. E estes dias mostraram isso mesmo.

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