Em comunicado divulgado em 24 de fevereiro, o SOS Racismo dá conta de uma série de ataques racistas recentes cometidos contra os ciganos residentes na povoação de Santo Aleixo da Restauração, Moura, que surgem na sequência de outros ataques e ameaças cometidos entre setembro e novembro do ano passado. Nos últimos dias houve ameaças de morte pintadas por toda a povoação, bombas foram lançadas para os quintais das casas. Antes disso, tinham sido colocados caixões junto das portas, um cavalo foi envenenado, e foram incendiados carros, casas e uma igreja. Como refere o SOS Racismo, apesar da gravidade destes actos e das denúncias feitas, as autoridades nada fizeram, encorajando deste modo os criminosos, que continuam impunes. É este o texto divulgado.
“Ku Klux Klan” regressa a Stº Aleixo da Restauração (Moura)
Perante a inoperância das autoridades (quer policiais, quer políticas), a comunidade cigana de Stº Aleixo da Restauração, desde o fim do Verão, está a ser vítimas de situações que mais lembram a atuação do Ku Klux Klan de meados do século passado.
Algumas destas situações já vieram a lume (Jornal Tornado e Público, no final do ano). Inclusive uma cadeia de televisão esteve a acompanhar uma visita do SOS Racismo que a chamou para tentar alertar a situação (acabou por nada fazer). Alguns responsáveis políticos já por lá passaram (Alto Comissário) sem se dignar a falar com as vítimas destes atos de pura barbárie cujo objetivo é causar o medo, tentar que abandonem a aldeia, ou mesmo expulsar a comunidade cigana da zona.
Estas situações agravadas com a atuação intimidatória da GNR têm, de facto, levado a que algumas pessoas estejam a dormir fora da povoação, nomeadamente uma, que é invisual, pois uma das casas incendiadas foi a sua.
O SOS Racismo, que já tinha tomado conhecimento de algumas destas situações, ficou à espera que as autoridades atuassem, tendo em conta que [os factos] eram do conhecimento das instituições. É verdade que a sanha incendiária racista e xenófoba parou com as deslocações, com as visitas que o SOS Racismo foi fazendo.
Mas a verdade é que, neste final de fevereiro, a cobardia e a violência racista [voltaram] ainda com mais ódio e ameaças xenófobas de uma gravidade que se pode constatar pelas fotografias que acompanham esta denúncia.
As ameaças que aparecem escritas um pouco por toda a povoação, cemitério incluído, são reforçadas pelo rebentamento de bombas nos quintais dos elementos da comunidade cigana, talvez encorajadas pela ausência de medidas das instituições, pela inoperância das autoridades policiais, pela impunidade das práticas racistas e xenófobas.
E isto, apesar de o presidente da Câmara ter afirmado que o assunto se estava a resolver com o reforço do policiamento...
A comunidade cigana de Stº Aleixo da Restauração recorreu uma vez mais ao SOS Racismo para que consiga chamar a atenção das autoridades tendo em conta a sua inércia criminosa e a gravidade das ameaças bem espelhadas nas paredes de Stº Aleixo.
As autoridades não podem continuar a olhar para o lado sem fazer nada, contribuindo para agravar o risco em que a comunidade cigana se encontra. Basta ver as fotografias para perceber o terror que se quer instalar nesta comunidade.
E criminosos não são apenas aqueles que estão tranquilamente a praticar estes atos hediondos.
Compete ao estado de direito, [fazer com] que todas as pessoas se sintam seguras na sua terra, nas suas casas. A população cigana está em risco, a viver momentos de terror.
A inoperância não pode persistir. É altura de o governo, o Alto Comissário [tomarem] medidas para que nada de [mais] grave venha a acontecer.
É altura destes crimes serem punidos
Pelo SOS Racismo
Piménio Teles / José Falcão / Mamadou Ba
24/2/2017