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Sexta, 08 Setembro 2017 19:02 Última modificação em Sexta, 08 Setembro 2017 19:05

Cavaco Silva na Universidade de Verão do PSD: Reaccionário, como de costume

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País: Portugal / Batalha de ideias / Fonte: Jornal Mudar de Vida

[Pedro Goulart] Na Universidade de Verão do PSD, perante o tema “Os jovens e a política: quando a realidade tira o tapete à ideologia”, Cavaco Silva, agarrando-o, disse que na zona euro “os governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental”.

 O ex-Presidente da República afirmou que “a realidade ao tirar o tapete à ideologia projecta-a com uma tal força contra a retórica daqueles que no Governo querem realizar a revolução socialista, que acabam por perder o pio ou fingem que piam, mas são pios sem qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias”. Cavaco, grande defensor da austeridade para os trabalhadores e o povo e de bons lucros para os patrões, aproveitou para bater forte e feio nos partidos da “geringonça”, solução que nunca engoliu bem. Mas (ignorância ou demagogia?) onde foi ele buscar a informação que todos ou alguns partidos da coligação das esquerdas do regime pretendem fazer a revolução socialista?

Na sua intervenção em Castelo de Vide, Cavaco procurava também dar cobertura ao que mais recentemente Passos Coelho tem vindo a criticar ao governo de António Costa, dizendo que não é “com cativações e consequente degradação dos serviços públicos, cortes no investimento, medidas extraordinárias e engenharia orçamental criativa” que se põe o país a crescer. Foram muitos os ataques à coligação das esquerdas do regime, quer pela forma como mantém Portugal “cinco pontos acima da carga fiscal média dos países do sul e do leste da UE”, impedindo que o país “seja competitivo”; quer pela dimensão que defendem para o Estado – “a nossa despesa pública está quatro pontos percentuais acima da de Espanha”, e existe um limite a partir do qual a relação custo/eficácia fica em causa. Cavaco, sempre, sempre, em defesa do patronato e da sua gente. E Passos Coelho, grato, veio logo depois defender Cavaco das fortes críticas feitas a esta sua intervenção.

Apesar da pertença à mesma área política de direita (por alguns dita de social democrata), Marcelo Rebelo de Sousa, cujo estilo não agrada a Cavaco, também não escapou às críticas deste. Sem se referir directamente ao seu sucessor na Presidência da República , Cavaco serviu-se de uma análise do estilo do Presidente Macron para insinuar o que realmente pensa de Marcelo. Criticando abertamente “a verborreia frenética dos políticos” que “não dizem nada de relevante”, concluiu que “a palavra presidencial deve ser rara”. O que no caso de Cavaco, enquanto Presidente da República, a palavra presidencial foi muitas vezes irrelevante, quando não rasca.

Sobre a chamada classe política, à qual pertence há muito, mas não assume, Cavaco mantém-se igual a si próprio: “É muito importante que se esteja na política sem que dela se dependa para ganhar a vida”. E aqui, Cavaco Silva revelou algum ressentimento pessoal: “Ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento”. E, significativamente, terminou aconselhando aos jovens a leitura de um artigo desesperançado de Maria João Avillez, intitulado “O meu mundo não é deste reino”, no Observador – um site onde se acoita alguma da gente mais refinada e elitista da extrema direita portuguesa. Aliás, Maria João Avillez tem deixado bem claro nos seus artigos e intervenções ao longo destes anos como é forte a sua consciência de classe burguesa e reaccionária.

Sempre reaccionário, sempre ao serviço do capital

Após esta intervenção de Cavaco Silva, o PS, através da deputada Susana Amador, acusou o ex-Presidente da República de falta de sentido de Estado, lamentando que quando estava em Belém não tivesse “piado mais” na defesa dos portugueses. Como se um acérrimo defensor dos interesses do capital pudesse defender os portugueses em geral, que são na sua maioria trabalhadores!

“O professor Cavaco Silva ao longo das políticas do Governo PSD e CDS, que foram as políticas de retirada de direitos, de compressão das garantias dos portugueses, fez uma gestão de silêncios”, afirmou ainda Susana Amador, considerando que, contra esses “silêncios ensurdecedores” valeu a intervenção do Tribunal Constitucional na defesa da Lei Fundamental e dos direitos dos portugueses. Mas, dizemos nós, valeu muito e é mais sólido, a luta dos trabalhadores e do povo português!

Contudo, não são de admirar as afirmações de Cavaco. Ele sempre foi assim. Sempre amigo dos patrões, sempre ao serviço do capital. Na vida cívica e na vida profissional. Antes do 25 de Abril, face ao regime fascista e à guerra colonial. Depois do 25 de Abril, enquanto Primeiro-Ministro e enquanto Presidente da República.

Aqui, apenas umas pequenas notas do percurso deste homem do PSD:

Enquanto Primeiro-Ministro, com o seu amigo Dias Loureiro na Administração Interna, foi o responsável pela repressão do Businão da Ponte 25 de Abril, em 1994;

Entre 2001 e 2003, o sempre tão “honesto” e “rigoroso” Cavaco Silva e a filha, além do mais, ganharam um extra de mais de 300 mil euros com acções da SLN, detentora do BPN, também nas mãos de vários amigos seus ;

Há poucos anos, em Março de 2011,Cavaco, então Presidente da República, participava numa homenagem aos “heróis da Guerra Colonial”, aproveitando para pedir aos jovens portugueses o mesmo empenho e coragem que tiveram os combatentes nas colónias portuguesas em África. Esclarecedor;

E, a não esquecer, ao longo de todos estes anos, enquanto Primeiro-Ministro e enquanto Presidente da República, a cumplicidade de Cavaco com o imperialismo norte-americano e as guerras que este levou a cabo pelo mundo.

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