Entre essas numerosas crianças sofrem de cancros e leucemias, malformações e patologias cardio-vasculares.
Os atentados ao património genético são hereditários e as autoridades minimizam descaradamente o número de vítimas, que segundo investigação dos profs Nesterenko e Yablokov, publicados em 2020 pela Academia das Ciências de Nova York já teriam atingido 985 000 (quase um milhão!) de falecimentos prematuros de 1986 a 2004. E o florescimento da natureza, flora e fauna é um mito dados os elevados níveis de contaminação e mutações que está a ocorrer.
Recordo como se fosse hoje
Estava dia 27 de Abril em Amesterdão, fazia então parte da direcção internacional do movimento ecologista #Friends Of the Earth#, quando nos chegou a notícia do acidente nuclear de Chernobyl que a ditadura soviética tinha procurado escamotear.
As radiações já atravessavam a Europa, milhares de pessoas começavam a ser evacuadas, muitas centenas, hoje muitos milhares já estavam, continuam hoje a caminho da morte.
Em Lisboa tinha começado há alguns dias no mestrado de Economia de Energia um módulo com um técnico do Laboratório Nuclear do então INETI, com o qual tinha tido discussões ágrias, que tinham terminado com um definitivo “- não é possível um reactor nuclear explodir.” Da parte dele.
Imagine-se a cara do sujeito quando voltei no dia seguinte e a notícia já era tema de todas as notícias.
Pode, um reactor nuclear pode explodir. Claro que no quadro de uma imprevisível conjugação de circunstâncias todas elas negativas. Mas pode. É possível!
Neste aniversário pouco mais há para dizer. A nuclear continua a tentar vender-se, continua a comprar mentes e encher bolsos, apesar de ser uma indústria a bordejar a falência, total. Mas será uma falência de muitos, muitos milhões e até lá continua a estrebuchar.
A nuclear não é económica, não é ambientalmente limpa, seja no início do ciclo, a mineração de urânio, que, como sabemos, no nosso país ainda tem um legado de destruição ambiental, sofrimento e mortes na família mineira e nas populações das zonas circundantes, seja na produção, e recordemos Almaraz, aqui ao lado, com os problemas contínuos do seu funcionamento, os incidentes e acidentes inúmeros e agora, com o passar do tempo a insegurança crescente, a que o nosso ministro do Ambiente continua a fazer orelhas moucas, mas não esqueçamos lutas árduas contra a nuclear em Portugal, Ferrel e todas as tentativas de nos colocar nucleares de Trás-os-Montes ao Alentejo, que tiveram oposição determinada, as lutas contra os despejos nucleares no Atlântico ou o cemitério nuclear de alta-actividade radioactiva de Aldeavila.
Não podemos esquecer também o urânio enriquecido e os mortos, também portugueses no teatro de operações onde esse foi utilizado.
Em todos esses casos, em todas essas lutas estivemos presentes.
Hoje aqui deixo este testemunho. Para que não se repita (mas e Fukushima?), para que não se repita mais.
Para que Chernobyl não se chame Almaraz, algum dia. Encerremos Almaraz e nem uma palavra mais!