Em meados de Outubro a ordem nas intenções de voto era esta: PS 36,3%, PSD 30,7%, BE 9,5%, CDU 8,3%, CDS 7% (Eurosondagem SIC/Expresso). Infelizmente não se fica a saber o nível de abstenção.
Nas eleições de Outubro do ano passado o PS obteve 32,3% dos votos, o BE 10,2% e a CDU 8,3%; juntos tiveram 50,8%, agora têm 54,1%. O PSD e o CDS somados tinham tido 36,8%, agora têm 37,7%. Isto autoriza algumas deduções.
Se houvesse plena satisfação com a política do governo por parte das classes populares, seria de esperar diferenças mais assinaláveis de apoio. O facto de isto não se verificar só pode traduzir quão limitada é a via de restituir as perdas dos quatro anos da troika gota-a-gota, sem reflexo palpável nas condições de vida das pessoas. Apesar dum certo alívio, nenhum entusiasmo especial leva o eleitorado popular a ter adesão plena à actual política. E, sobretudo, este apoio moderado parece revelar como a população trabalhadora continua a sentir-se sem papel na vida política e desconfiada dos seus actores.
A direita mantém, apesar de tudo o que fez em quatro anos, um nível de apoio semelhante ao que teve em Outubro de 2015, ou seja, não se desgastou de então para cá. Mantém-se assim como uma reserva, pronta a tomar conta do governo novamente, numa situação em que, por razões políticas, económicas ou outras, a presente relação das forças se altere. Isto é, a actual maioria parlamentar à esquerda não são favas contadas.
A maioria conseguida pelo PS e seus aliados é agora maior que há um ano, mas os seus apoios eleitorais apenas somados suplantam claramente os da direita. PS, BE e CDU estão por isso “obrigados” a entender-se para suplantar a direita. E, especialmente, BE e CDU estão “obrigados” a repetir o acordo que estabeleceram com o PS de António Costa — tanto mais quanto o apoio eleitoral do PS o distanciar dos seus actuais parceiros, como os números parecem mostrar.
O PS continua a ser o fiel de balança entre a esquerda e a direita, agora com a “vantagem”, para ele PS, de estar à frente do PSD e de, por isso, não depender em absoluto dos apoios à sua esquerda como em Outubro de 2015. O que permite imaginar uma situação em que o PS, em ocasião propícia, possa negociar a formação de um novo governo à esquerda com menos concessões da sua parte; ou em que a direita, para evitar a repetição da actual fórmula de governo, se disponha a apoiar um executivo PS, com as correspondentes concessões do PS à direita.