Depois de 42 edições, o fenômeno Avante!, tão popular que passou a ser carinhosamente chamado de "Commie Con", retornou na sexta-feira passada a Seixal, na região metropolitana de Lisboa, com shows, teatro, cinema e, obviamente, debates políticos. A informação é da EFE.
"Seguridade social" e "A União Europeia não é a Europa" são os temas da parte política de um festival que conta até mesmo com fraldários e locais para aquecer mamadeiras.
O Avante! não é o único festival vinculado a um partido comunista na Europa - existem também a Festa de l'Unità na Itália e a Fête de l'Huma na França -, mas tem maior relevância pela presença dos comunistas da política de Portugal.
"É um caso relativamente especial", reconheceu Miguel Cardina, pesquisador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Segundo ele, "ao contrário do que aconteceu na maioria dos países, onde os comunistas se reconfiguraram e entraram em frentes e perderam influência política, o PCP acabou resistindo”.
Líder da oposição à ditadura salazarista, o PCP tem em Portugal uma autoridade moral e uma legitimidade incontestável, sobretudo em questões relacionadas ao trabalho.
A origem do partido remonta a "militantes que saíram do sindicalismo revolucionário e do anarcossindicalismo", como explica a legenda no próprio site. Ainda forte nos sindicatos, o PCP foi decisivo para conseguir os aumentos recentes do salário mínimo.
A festa não é qualquer coisa, nem a utopia proposta e que transcende o próprio partido, ressaltou José Neves, professor de História da Universidade Nova de Lisboa.
"A Festa do Avante! é maior que o PCP. É uma festa aberta a todos os grupos políticos e eleitorais, com a participação de pessoas que vão além dos militantes e eleitores, e ocupa o seu próprio espaço no imaginário cultural de Portugal", explicou.
Nascido em 1976 como uma forma de reivindicação após quatro décadas de clandestinidade, rapidamente se tornou o primeiro evento político-cultural do país ao reunir artistas renomados. Agora, ninguém resiste ao Avante!, não importando a orientação política.
O último exemplo disso foi o do presidente de Portugal, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que compareceu à festa pouco antes de lançar a candidatura à para "receber abraços" dos presentes. Diante do público, disse que aquele era o seu terceiro festival comunista.
O evento consegue arrastar todo o espectro político que, segundo Neves, pode ser observado desde a preparação, que conta com a colaboração de cerca de 12 mil voluntários.