Para o presidente da Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP, Parlamento), Álvaro García Linera, a sociedade que aqui se constrói desde 2006 é uma das alternativas possíveis ao projeto neoliberal globalizador que está morrendo.
A direita nacional e mundial já não tem um projeto político mobilizador em torno do qual convocar as esperanças da população, mas um punhado decrépito de ilusões secas, sublinhou o também vice-presidente da República ao inaugurar a nova legislatura para o período 2017-2018.
Recordou que durante 180 anos (1825-2005) se sucederam nesta nação andino-amazônica administrações corruptas que leiloaram os recursos naturais e legitimaram governos de minorias corruptas, o que mudou de maneira radical com a administração de Evo Morales.
As cifras são eloquentes: a extrema pobreza na nação altiplana era de 38,2% em 2006, enquanto na atualidade registra índices de 16,8%. Enquanto, a pobreza moderada que atingia há uma década 60,6%, hoje é de 38,6%.
Não obstante, os esforços governamentais concentram-se em acabar com a pobreza em 2025, quando se realiza o bicentenário da independência e a fundação da república.
Empoderar setores antes marginalizados
Ao assumir o cargo em 22 de janeiro de 2006, Morales e o dirigente Movimento ao Socialismo (MAS) iniciaram um conjunto de transformações estruturais, mediante o qual deram um novo rosto ao país considerado então o segundo mais pobre do hemisfério.
O próprio mandatário avaliou em várias ocasiões a importância destas mudanças políticas, econômicas e sociais que situavam a Bolívia como uma nação em via de desenvolvimento, mais justa e equitativa.
Com a nacionalização dos hidrocarbonetos em maio de 2006, o governo estabeleceu soberania sobre as riquezas mineiras nacionais - antes nas mãos de transnacionais -, recuperou o controle das empresas estratégicas, ao mesmo tempo em que começou a priorizar a industrialização nacional.
Com os ganhos das empresas estatais, nasceram vários programas de respaldo a grupos vulneráveis como as crianças (Vale 'Juancito Pinto'), grávidas (Vale 'Juana Azurduy') e idosos (Renda Dignidade).
Durante a época do Estado colonial, os povos indígenas estavam excluídos dos assuntos do Estado, restringindo sua cultura ao âmbito folclórico. Com o governo do MAS este panorama mudou. Desde 2007, a Bolívia é o único país que tem referendado mediante uma lei a Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
Autoridades sublinham que as lutas e sacrifícios dos camponeses e povos originários são a sustentação do processo de mudança, cuja força e capacidade para superar as crises emanam do acompanhamento dos movimentos sociais na defesa da soberania e reivindicação histórica dos setores mais oprimidos.
A esse respeito constata-se inúmeras legislações e a vontade política de empoderar os setores antes marginalizados como as mulheres, os jovens e os próprios indígenas.
Segundo relatórios oficiais, o país altiplano é o segundo com maior representação de mulheres na ALP, após Ruanda. Mais de 50% dos 166 legisladores são mulheres, enquanto 41 postos estão ocupados por indígenas e 29 por jovens, setor que anteriormente carecia de representação no órgão legislativo.
Em 180 anos (1825 a 2005), o país teve 23 ministras. Desde 2006 nomearam-se 47 mulheres à frente de diferentes pastas do Governo.
Bolívia muda, Evo cumpre
A nação andino-amazônica se destaca nos últimos anos por ser a de maior crescimento do Produto Interno Bruto na América do Sul - ao redor de 4,5% anualmente -, enquanto um amplo programa de investimentos estatais projeta se converter no coração energético da região.
O governo boliviano prioriza também o cumprimento da Agenda Patriótica 2025, estratégia que contempla diversos programas políticos, econômicos, sociais e culturais face à celebração do bicentenário da independência.
Dentro desta linha programática presta-se especial atenção à construção de obras de alto impacto social nas comunidades através do programa Bolívia muda, Evo cumpre, que entregou mais de oito mil projetos construtivos na última década. O período caracteriza-se também pelo exercício de uma ativa diplomacia a nível mundial que tem como bússola fortalecer a cooperação com os países e blocos econômicos ou políticos, baseada no respeito à soberania e autodeterminação.
Por isso Bolívia é hoje não apenas mais conhecida, como também mais respeitada no mundo, destacou o mandatário. Prova disso está no majoritário respaldo para que o país mediterrâneo ocupasse um assento como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU desde o dia 1 de janeiro.
Segundo fontes diplomáticas, La Paz impulsionará de sua cadeira uma agenda dirigida a fomentar a paz global e o respeito aos direitos das pessoas e a Pachamama (Mãe Terra).
Evo: alma do processo de mudanças
O ministro de Governo, Carlos Romero, afirmou que o presidente Morales tem conseguido durante sua gestão unir a heterogeneidade dos movimentos sociais bolivianos e aproximar a cidade com o campo.
Na sua opinião, Morales concretizou uma liderança de legitimidade, sobretudo nos movimentos sociais, situação que era difícil em outros tempos.
Por sua vez, o presidente da Confederação de Empresários Privados da Bolívia, Ronald Nostas, reconheceu que esse setor e os indicadores econômicos se encontram muito melhor graças às políticas do atual governo.
Em termos gerais, mas sobretudo econômicos, acredito que o país tem avançado muitíssimo nos últimos 11 anos e isso é admirável; temos tido reconhecimentos mundiais, muito bem merecidos, devido à gestão desenvolvida pelo governo, apontou Nostas.
Em 18 de dezembro, ao se comemorar o Dia da Revolução Democrática Cultural - data que recorda a vitória eleitoral de Morales em 2005 -, o chefe de Estado acusou os líderes da oposição de direita de carecer de um plano com longa luz para a Bolívia.
A direita não propõe nada, não tem uma agenda para o período 2020-2025 (...) só sabe rejeitar e mentir, questionar e não propor, ressaltou em Irvigarzama, na região do Chapare do central departamento de Cochabamba.
Durante sua mensagem anual à nação, o dignatário opinou que a Bolívia se converteu em um país modelo como parte da luta dos movimentos sociais e o aumento da consciência social e política do povo.
Exortou às diversas forças sociais e políticas, incluídas aquelas da oposição, a entregar obras e trabalhar de maneira conjunta com o objetivo de manter estes resultados e superá-los.
Podemos nos equivocar, ter dificuldades, somos seres humanos, não é simples administrar um país. É direito de todos nos observar, nos criticar, nos corrigir, mas o mais importante é que todos pensemos na Bolívia e como acabar com a pobreza, enfatizou.
Em 11 anos fizemos o que outros não fizeram durante 180 anos, graças à unidade do povo boliviano, resumiu o chefe de Estado.
*Correspondente da Prensa Latina na Bolívia.