A convocatória da CGT e da Central de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), junto de organizações sociais, como a Corriente Clasista Combativa [Corrente Classista Combativa], Barrios de Pie [Bairros de Pé] e outros núcleos populares, foi respondida massivamente.
Nesse marco multitudinário, ocorreram dois aspectos que, sem nenhum tipo de dúvidas, mostraram o nível que está adquirindo a rebeldia popular no país. Por um lado, a insatisfação generalizada daqueles em torno do palco, onde estava toda a direção da CGT, que estouraram em gritos de “greve geral” e “basta de traidores”. Quando o dirigente do Sindicato da Saúde e do triunvirato cegetista, Héctor Daer, cometeu um erro (disse que a greve “ia ser no fim do ano” e depois corrigiu “no fim do mês”), o copo transbordou. Começou a forte gritaria debaixo do palco que, ao som de bumbos e tambores, expressava: “Coloque a data, filho da puta”! Daer não quis escutar e insistiu em não dizer o dia do início da greve, data que vem sendo reclamada há praticamente um ano. Foi como atirar gasolina ao fogo.
Analisando o ocorrido, Daer diz que foi “um pequeno grupelho de infiltrados” de uma organização kirchnerista e de um intendente bonaerense (décadas atrás colocava a culpa nos “esquerdistas”). O certo é que aqueles que mais pediam uma urgente definição para começar a greve contra o governo foram os próprios trabalhadores alinhados com a CGT. Havia militantes da União Transviários Automotor, Alimentação, Construção e outros similares que, para além do que pudessem pensar suas direções, se rebelaram todos de uma vez e, como já ocorrera dias atrás em um histórico plenário de delegados de base na mesma central sindical, expressaram o que sente a grande maioria dos argentinos e argentinas, que são devorados pela inflação.
Como nas velhas épocas em que a burocracia sindical era denunciada em assembleias de fábrica ou em atos de massas, muitos trabalhadores pularam os vãos que os separavam do palco. Vários deles conseguiram subir no palco e fizeram com que os dirigentes tivessem que abandonar o lugar, custodiados por seus grupos de segurança. Enquanto isto ocorria, o desgosto se estendeu como rastilho de pólvora e milhares de participantes repetiam a palavra de ordem de “greve já!” e uma advertência que também possui história acumulada: “Com os dirigentes à cabeça ou com a cabeça dos dirigentes”, conseguindo entusiasmar com seus gritos muitos outros que não puderam aproximar-se do palco devido à enorme quantidade de pessoas que se mobilizaram.
O outro fator a ser considerado é a consolidação do movimento social organizado nucleado em torno da CTEP, que conseguiu armar uma coluna imponente de dezenas de milhares de militantes vindos dos bairros mais humildes e que mostravam suas bandeiras de procedência e também os cartazes de reivindicações exigindo que se dê fim à política de exclusão e à fome a que os condena o macrismo. A CTEP voltou a demonstrar que chegou para ficar e que, junto do movimento operário organizado, de igual para igual, vai forjando o novo sujeito histórico destes anos difíceis, assim como nos anos 90 foram os “fogoneros da Patagônia” primeiro e os “piqueteros” depois.
Assim, foi possível apreciar enormes contingentes juvenis do Movimiento Evita [Movimento Evita], a Corriente 19 y 20 [Corrente 19 e 20], Movimiento de Trabajadores Excluidos [Movimento de Trabalhadores Excluídos], Movimiento Popular La Dignidad [Movimento Popular A Digbidade], La Garganta Poderosa [A Garganta Poderosa], Organización Los Pibes [Organização Los Pibes], OLP-Simón Bolívar, Unión de Trabajadores de la Tierra [União de Trabalhadores da Terra], Patria Grande, Movimiento Seamos Libres [Movimento Sejamos Livres], Frente Popular Darío Santillán, Barrios de Pie [Bairros de Pé], Coordinadora Clasista y Combativa [Coordenação Classista e Combativa], entre muitas organizações populares, se entremearam em vários pontos da marcha com os sindicatos industriais, como Caminhoneiros, Alimentação, Ladrilheiros, Têxteis, Estivadores, Portuários, sindicado do Couro e muitos outros, que com os grêmios da Corriente Sindical Federal [Corrente Sindical Federal], os estatais da ATE e UPCN e as duas CTA. Dessa maneira, foi se construindo uma das maiores mobilizações dos últimos anos, inclusive, superior a de 29 de abril. Macri o tornou possível e, se a seus assessores fica algo diferente de seu autoritarismo e pedantismo, terão que refletir sobre o que vem ocorrendo neste março quente: na segunda-feira, 70 mil docentes manifestando seu repúdio ao governo, aos quais se somaram nesta terça-feira centenas de milhares de pessoas de todos os sindicatos e organizações sociais e nesta quarta-feira, 8 de março, as mulheres trabalhadoras, estudantes, camponesas não ficaram atrás em expressar seu protesto.
*Resumen Latinoamericano, Revista Venceremos, FM Riachuelo
Foto-reportagem: Resistir y Luchar
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)