Na América Latina de hoje, onde na Venezuela os mesmos que tentaram o golpe militar contra Chávez, em 2002, incitam o povo à violência nas ruas, ao saque e destruição, a luta pelos progressos sociais e contra a ingerência externa faz-se com o reforço da participação popular e da consciência política de que a democracia privada da sua dimensão de direitos de conteúdo social, político, econômicos e cultural não é uma democracia para todos.
A ofensiva do neoliberalismo para recuperar o campo perdido nos últimos anos tem por cá, como não podia deixar de ser, o apoio despudorado da imprensa dominante, com os órgãos de rádio difusão e televisão públicos a disputar o protagonismo na campanha de desinformação e manipulação.
E, no entanto, todos os dias na América Latina, sindicalistas, indígenas, agricultores e trabalhadores sem-terra, continuam ainda hoje, como nas décadas negras das ditaduras militares, a ser assassinados impunemente por milícias de extrema-direita e forças ligadas aos sinistros interesses dos poderosos oligarcas e caciques locais, perante o silêncio cúmplice da comunidade internacional, a começar pela nossa sempre muito democrática e neoliberal comunicação social dominante.
Celebremos então o outro lado da América do Sul. A luta dos povos latino-americanos, esses revolucionários patriotas que incluíram os direitos da Pacha Mama, a Terra Mãe, nas suas Constituições como aconteceu nos últimos anos com as leis fundamentais das repúblicas da Bolívia, Venezuela e Equador.
Cruzamos o oceano e percorremos o caminho da solidariedade internacional com a música da América Latina. Música que, no seu cruzamento da influência africana, europeia e andina, sempre soube traduzir os sentimentos e anseios dos povos oprimidos das Américas contra a escravatura ou o colonialismo, e ajudar a construir a muralha de resistência aos saqueadores imperialistas de hoje.
Da Argentina, o guitarrista, cantor, compositor e revolucionário Atahualpa Yupanqui é um dos maiores nomes da música crioula argentina, no seu cruzamento único das tradições europeia e andina. Figura central da cultura e da História da Argentina, Atahualpa Yupanqui, o seu pseudônimo em quechua que significa “O que vem de longe e traz coisas importantes para contar”, fala-nos aqui do caminho sinuoso, duro e difícil do Índio, neste clássico gravado em 1955.
Ali Primera é um símbolo maior da canção de protesto latino-americana cujas canções se tornaram patrimônio imaterial da Venezuela com a revolução bolivariana em 2005. Cantor empenhado na transformação social, militante comunista e revolucionário convicto, Primera fez sempre da canção uma arma em defesa da luta dos povos da Pacha Mama e dos seus heróis que por eles lutaram e deram a vida.
Num tempo em que os falcões da guerra voltam a atacar a sua Venezuela, com as portas da Amazônia abertas ao exército dos EUA pelo golpista Temer, volta a fazer todo sentido cantar e dançar o seu hino Cuando las Aguillas se arrastren.
La Negra, como ficou conhecida Mercedes Sosa devido às suas origens indígenas, sempre foi a voz dos que não têm voz, desde os descamisados da sua Argentina natal aos índios e a todos os povos martirizados da América do Sul. Perseguida pela ditadura militar na década de 80 pelas suas posições de esquerda, Mercedes Sosa transformou-se numa das grandes vozes do mundo e figura incontornável da cultura latino-americana.
Cultura
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14 de maio de 2017 - 12h28
Sabor e revolução
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Venezuela e Brasil sofrem golpes e ataques econômicos e políticos orquestrados pelos milionários e oligarcas da região com o apoio, patrocínio e supervisão do poderoso vizinho do Norte.
Por Tiago Santos*
Na América Latina de hoje, onde na Venezuela os mesmos que tentaram o golpe militar contra Chávez, em 2002, incitam o povo à violência nas ruas, ao saque e destruição, a luta pelos progressos sociais e contra a ingerência externa faz-se com o reforço da participação popular e da consciência política de que a democracia privada da sua dimensão de direitos de conteúdo social, político, econômicos e cultural não é uma democracia para todos.
A ofensiva do neoliberalismo para recuperar o campo perdido nos últimos anos tem por cá, como não podia deixar de ser, o apoio despudorado da imprensa dominante, com os órgãos de rádio difusão e televisão públicos a disputar o protagonismo na campanha de desinformação e manipulação.
E, no entanto, todos os dias na América Latina, sindicalistas, indígenas, agricultores e trabalhadores sem-terra, continuam ainda hoje, como nas décadas negras das ditaduras militares, a ser assassinados impunemente por milícias de extrema-direita e forças ligadas aos sinistros interesses dos poderosos oligarcas e caciques locais, perante o silêncio cúmplice da comunidade internacional, a começar pela nossa sempre muito democrática e neoliberal comunicação social dominante.
Celebremos então o outro lado da América do Sul. A luta dos povos latino-americanos, esses revolucionários patriotas que incluíram os direitos da Pacha Mama, a Terra Mãe, nas suas Constituições como aconteceu nos últimos anos com as leis fundamentais das repúblicas da Bolívia, Venezuela e Equador.
Cruzamos o oceano e percorremos o caminho da solidariedade internacional com a música da América Latina. Música que, no seu cruzamento da influência africana, europeia e andina, sempre soube traduzir os sentimentos e anseios dos povos oprimidos das Américas contra a escravatura ou o colonialismo, e ajudar a construir a muralha de resistência aos saqueadores imperialistas de hoje.
Da Argentina, o guitarrista, cantor, compositor e revolucionário Atahualpa Yupanqui é um dos maiores nomes da música crioula argentina, no seu cruzamento único das tradições europeia e andina. Figura central da cultura e da História da Argentina, Atahualpa Yupanqui, o seu pseudônimo em quechua que significa “O que vem de longe e traz coisas importantes para contar”, fala-nos aqui do caminho sinuoso, duro e difícil do Índio, neste clássico gravado em 1955.
Ali Primera é um símbolo maior da canção de protesto latino-americana cujas canções se tornaram patrimônio imaterial da Venezuela com a revolução bolivariana em 2005. Cantor empenhado na transformação social, militante comunista e revolucionário convicto, Primera fez sempre da canção uma arma em defesa da luta dos povos da Pacha Mama e dos seus heróis que por eles lutaram e deram a vida.
Num tempo em que os falcões da guerra voltam a atacar a sua Venezuela, com as portas da Amazônia abertas ao exército dos EUA pelo golpista Temer, volta a fazer todo sentido cantar e dançar o seu hino Cuando las Aguillas se arrastren.
La Negra, como ficou conhecida Mercedes Sosa devido às suas origens indígenas, sempre foi a voz dos que não têm voz, desde os descamisados da sua Argentina natal aos índios e a todos os povos martirizados da América do Sul. Perseguida pela ditadura militar na década de 80 pelas suas posições de esquerda, Mercedes Sosa transformou-se numa das grandes vozes do mundo e figura incontornável da cultura latino-americana.
Inspirado em Mercedes Sosa e concebido como uma homenagem aos povos da Pacha Mama, esta Latinoamerica é o resultado da dedicação dos porto-riquenhos da Calle 13 a essa ideia secular de uma Ameréca Latina unida com que Bolívar, Marti ou Che sonharam.
Com participação da cantora colombiana Toto La Momposina, da brasileira Maria Rita e da peruana Susana Baca, esta é uma homenagem a todos os povos da América do Sul, devidamente ilustrada pelo excelente vídeo realizado pelos diretores Jorge Carmona y Milovan Radovic.
Da Colômbia dançamos a Cumbia revolucionária Préstame tu Lanza do acordeonista Máximo Jiménez. Cantor e compositor de origem campesina, Máximo foi um caminhante incansável que depois de percorrer a Colômbia e de se confrontar com a pobreza dos esquecidos que a imprensa e classes oligarcas pretendem apagar da História, despertou para a criação de música dedicada à libertação do seu povo, contra as injustiças, em defesa de uma América Latina progressista, democrática e popular.
Compromisso com o outro lado da História, dos que não se vendem e não se rendem, que obrigou Máximo Jiménez a um exílio na Europa, desde a década de 80, devido às ameaças de morte dos bandos assassinos dos esquadrões da morte que ainda hoje perseguem os que defendem uma América livre para todos.
*Tiago Santos é músico fundador, guitarrista, compositor e letrista dos Cool Hipnoise, Spaceboys ou Cais do Sodré Funk Connection, assumido fã da dita ‘Música Negra’. É também dj da Oxigénio, onde apresenta os programas Planeta Jazz, Hora do Sol ou Heróis no Ar e ‘gira-discos’ desde 1997.